Secretário de Polícia Civil pede demissão dias após Witzel ser alvo de operação da PF
30 de maio de 2020

O secretário de Estado de Polícia Civil (Sepol), o delegado Marcus Vinicius de Almeida Braga, pediu a exoneração do cargo, após um ano e cinco meses. A saída de Braga ocorre dias após a Operação Placebo, ocorrida na última terça-feira, que apura desvios de recursos na construção de hospitais de campanha no estado. Equipes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Wilson Witzel e sua mulher, Helena, como o Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador.

Ele agradeceu ao governador Wilson Witzel pelo tempo à frente da pasta, o que proporcionou uma reestruturação interna e permitiu aproximação de órgãos como Ministério Público, Polícia Militar e Seap. Esta é mais uma baixa no governo estadual, após a exoneração dos secretários da Casa Civil e da Fazenda na última quinta-feira.

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— Agradeço muito ao governador pela confiança. Nesses quase dois anos de governo ele fez muito pela Polícia Civil. Nos deu autonomia e com isso criamos o Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) que possibilitou a prisão de dezenas de criminosos e a apreensão de milhões de reais do crime organizado — destacou.

O delegado destacou que a decisão veio a partir da vontade de dedicar mais tempo à família.

— Já vínhamos nessa batalha desde a intervenção (da Segurança Pública) quando assumimos a chefia da Polícia Civil. Foram três anos nessa batalha, acordando às 5h, e chega uma hora que o corpo cansa. Já estou com mais de 50 anos — afirmou Braga. — Quero descansar e ficar mais com a minha família.

Em seu pedido de exoneração, Braga não faz referência à operação da Polícia Federal.

A exoneração do delegado da pasta sairá na edição do Diário Oficial na próxima segunda-feira, 1º de junho, com os dizeres “a pedido”.

Pedido de saída

O pedido de exoneração de Braga ocorre após operações da Polícia Civil que investigam desvio de recursos públicos dentro do próprio governo estadual. Fontes da Polícia Civil informaram à reportagem que o secretário sabia que as diligências estavam em andamento, mas não avisou ao governador. Wilson Witzel foi surpreendido com as operações, e o clima entre ambos teria ficado insustentável. Braga decidiu pedir exoneração ontem, sexta-feira. Pesou em sua escolha o conhecimento de que o empresário e fornecedor do estado Mário Peixoto, preso por suspeita de fraudes na Secretaria Estadual de Saúde, está concluindo um termo de colaboração premiada que exporia figuras importantes do governo.

Na noite de ontem, Braga já havia saído de todos os grupos de WhatsApp de delegados da Polícia Civil. Ele já comunicou, na manhã deste sábado, a todos os delegados chefes de departamentos que não é mais responsável pela pasta. Para muitos delegados, a decisão do secretário foi uma surpresa.

O secretário já teria avisado ao governador que deixaria o cargo ontem. A assessoria de imprensa do Palácio Guanabara, por telefone, negou a informação.

No lugar de Braga, assume o delegado Flávio Marcos Amaral de Brito, que era subsecretário de Gestão Administrativa. A princípio, ele estará no comando da Polícia Civil de forma interina.

O delegado Flávio Brito ingressou na Policia Civil em 2002, por meio de concurso público, no qual se classificou como terceiro colocado. Passou por diversas delegacias da Baixada Fluminense e da Capital, inclusive como titular de algumas unidades. Flávio exerceu diversos cargos na área administrativa e operacional desde 2009, entre eles o de diretor geral de Administração e Finanças. Na gestão do governador Wilson Witzel, o delegado foi subsecretário de Inteligência e, atualmente, ocupava o cargo de subsecretário de Gestão Administrativa, segundo na hierarquia da instituição. Flávio Brito é pós-graduado em Gestão de Segurança Pública e lecionou em diversos cursos preparatórios para concursos na Coppead.

Operação Placebo

Um dos endereços de busca e apreensão durante a Operação Placebo, nesta terça-feira, foi o Palácio Guanabara, residência oficial do governo do estado. A ação, que investiga o desvio de recursos públicos destinados ao combate da pandemia de Covid-19, teve início em 17 de abril com a determinação do governador Wilson Witzel para a abertura de inquérito sobre possíveis fraudes na seleção de empresas para a montagem de sete hospitais de campanha, dos quais somente um foi entregue até o momento.

No início da apuração, havia indícios do envolvimento do ex-subsecretário estadual de Saúde Gabriell Neves no processo de escolha da Organização de Saúde. Ele seria preso no último dia 7 na Operação Mercadores do Caos, que investiga fraudes na aquisição de respiradores, equipamento usado no tratamento do novo coronavírus. O avanço das investigações fez com que o inquérito passasse para o Ministério Público do Rio.

O caso chegou ao Ministério Público Federal, cabendo aos procuradores da República fazerem os pedidos de buscas e apreensões em 12 locais ligados a Witzel e pessoas da cúpula do Poder Executivo. Estes pedidos incluíram a primeira-dama, Helena Witzel, e o ex-secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, afastado da secretaria após os escândalos de suposto esquema de fraudes na pasta.

Baixas nas secretarias

A primeira saída de uma secretaria do atual governo do estado foi a de Edmar Santos, deixando a pasta de Saúde no último dia 17, mesmo em meio à pandemia. O governador Wilson Witzel tentou manter o ex-secretário próximo e criou uma secretaria extraordinárias dias depois. A decisão resultou na saídas dos integrantes do comitê de notáveis e teve intervenção da Justiça para impedir a nomeação. Nesta quinta-feira, Santos pediu demissão do governo.

Também nesta quinta-feira, Witzel exonerou os secretários da Casa Civil, André Moura, e de Fazenda, Luiz Claudio Rodrigues de Carvalho.

Fonte: EXTRA