Há dois meses, o professor de inglês Leon Soares, de 26 anos, teve uma redução acentuada no número de alunos. Ele foi dispensado de uma escola de idiomas, em Duque de Caxias, onde dava aulas para cerca de 30 alunos. Com a pandemia e as unidades ainda fechadas, começou a dar aulas particulares, e agora tem dois alunos. Ele ainda é professor em outra escola, onde ensina inglês a 16 estudantes.
A demissão de Leon não é um caso isolado na região. Desde o início da pandemia, em março deste ano, até agosto, o município de Duque de Caxias teve um saldo negativo de 4.461 empregos formais, nos setores de agropecuária, indústria e construção, serviços e comércio. Em toda a Baixada Fluminense, no mesmo período, esse número piora: o saldo negativo é de 12.239. O levantamento foi feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), através da plataforma Retratos Regionais.
— Um das turmas foi perdendo alunos. Chegou ao ponto de não ter um número suficiente para se sustentar. Muitos relatavam que tinham casa para sustentar, contas para pagar e o inglês não era uma prioridade — conta Leon, que viu nas aulas particulares uma saída:
— Não tinha como distribuir currículos se as escolas estavam fechadas. Então, preferi dar aulas a pessoas próximas que manifestaram interesse.
O estudo aponta um número maior de demissões, entre os meses de março e junho, no setor de serviços, seguido pelo de comércio e indústria. No centro comercial de Caxias, o Ela Shopping chegou a ter algumas lojas devolvidas no período mais crítico apontado pela pesquisa. O fluxo de pessoas também diminuiu, avalia Celso Pariz, proprietário do estabelecimento:
— Na pandemia, ficamos fechados de 20 de março a 25 de maio. Não contratamos, mas também não demitimos. Tivemos três entregas de loja, mas, entre julho e agosto, todas já foram alugadas novamente. Reabrimos e tivemos uma queda de 30% no fluxo de passantes. Para o Natal, ainda não estamos com grandes perspectivas. Vai ser o Natal do coronavírus.
A plataforma analisou os meses de janeiro a agosto. Na Baixada, de março a junho, o setor de comércio teve um saldo negativo de 6.605 empregos formais. No setor de serviços, esse saldo é de 6.700, também negativo. Ainda em outubro, é possível ver lojas fechadas nos centros comerciais da região. O especialista em Estudos Econômicos da Firjan, Marcio Felipe Afonso, explicou o motivo pelo qual o comércio é um dos setores mais afetados:
— O comércio é uma atividade que, além de concentrar grande contingente de trabalhadores e ter mais empregos para perder, depende muito da interação humana. É natural que a gente tenha perda maior de emprego, lojas fechadas, cliente que deixa de ir ao mercado, de sair de casa para comprar. O comércio de artigo de vestuário e acessório foi o setor que mais perdeu empregos, e sentiu muito nessa crise.
Em julho e agosto, Duque de Caxias e Nova Iguaçu foram as cidades da Baixada que apresentaram maior recuperação. Nos setores de indústria e construção, comércio e serviços, Caxias tem um saldo positivo de 2.041, seguida de Nova Iguaçu, com 614, também positivo.
São nessas estatísticas que está a assistente de logística Verônica Luz, de 59 anos. Demitida em setembro do ano passado, ela migrou para o setor informal. Há dois meses, conquistou uma vaga e foi contratada para o setor de comércio.
— Trabalhei 15 anos na Colchões Ortobom. Dez deles como gerente de logística. Quando fui demitida, fiquei pensando na dificuldade de arrumar trabalho. Continuei distribuindo currículo. Nesse período, fiquei pintando minha casa como hobby. As pessoas viram, gostaram e me chamaram. Foi minha principal fonte de renda nesse período. É até hoje. Quando voltei à empresa, agora em agosto, passei a pintar aos domingos, na minha folga. Aqui na loja, me apelidaram de Pereirão — diverte-se Verônica, que nunca perdeu a esperança de voltar ao mercado:
— Conheço meu potencial de profissionalismo. É importante as pessoas terem a oportunidade de ter uma profissão.
Só em agosto, Nova Iguaçu teve um saldo positivo de 465 empregos. Em Caxias, esse número foi de 2.112.
— Nova Iguaçu e Duque de Caxias vinham numa recuperação que foi freada pela Covid. Todos os municípios foram afetados. Em julho e agosto, é possível ver os empregos crescerem um pouco. De março a junho, foram 3.659 empregos perdidos em Nova Iguaçu e 6.502 em Caxias. Em agosto, o saldo positivo compensa parte dessa perda — ressalta Marcio Felipe Afonso, especialista em Estudos Econômicos da Firjan.
Fonte: Yahoo Notícias
Formado em Sistemas de Informação pela FAETERJ, carioca de coração, apaixonado por teologia, tecnologia, matemática, geografia, história e pela sociedade em geral.