Dinheiro extra na conta bancária pode levar ao endividamento se não houver controle
Até 30 de novembro, todo trabalhador com registro na carteira de trabalho deverá receber a primeira parcela do 13º salário, incluindo horas extras e outros adicionais. Por tratar-se de um dinheiro a mais na conta bancária, é comum associar o pagamento a um presente pelo esforço ao longo do ano. Em vez de ajudar nas despesas, ele serve como uma forma de autorrecompensa.
É nesta época do ano que aumenta a incidência de compras por impulso e de dívidas fora de controle, explica a professora de planejamento financeiro do Insper e especialista em economia comportamental, Vera Rita de Mello Ferreira.
“É um problema que se repete todos os anos. A maioria das pessoas planeja fazer algo com o 13º, mas acaba destinando para outras coisas”, analisa.
A falta de planejamento é o que leva ao mau uso do dinheiro e ao posterior arrependimento, acredita a especialista em finanças pessoais e coordenadora do Investmania, Aline Rabelo.
“As festas de fim de ano e as promoções de janeiro levam o consumidor a gastar mais do que deveria, esquecendo as obrigações financeiras”.
Para tirar melhor proveito desse salário adicional – sem vê-lo escorregar das mãos –, a recomendação é estabelecer prioridades. A saúde financeira de cada um definirá o melhor caminho a seguir, mas a ordem é sempre a mesma: quitar as dívidas, planejar o pagamento das contas, consumir o necessário (e o possível) e, por fim, investir.
1º – Renegociar as dívidas
Esta é a primeira providência para quem tem as contas no vermelho, especialmente o consumidor que entrou no rotativo do cartão de crédito ou no cheque especial, que costumam cobrar as mais altas taxas do mercado. Segundo dados do Banco Central, a inadimplência no crédito atingia 7,1% das famílias brasileiras em agosto deste ano. “Livrar-se dos juros altos e fazer a quitação da dívida deve ser prioridade ao receber o 13º”, recomenda Aline, da Investmania. Uma boa saída para entrar no azul é renegociar o valor da dívida diretamente com a empresa credora ou por meio de serviços intermediários, como sites que promovem o diálogo entre as partes. Se o pagamento for à vista, as chances de descontos aumentam consideravelmente.
2º – Planejar o pagamento das contas
Os compromissos de início de ano fogem facilmente ao controle: IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), material escolar, matrícula, férias dos filhos. Quitadas as dívidas, o passo seguinte é calcular os gastos previsíveis para o próximo ano e destinar parte do 13º para este objetivo, se necessário. Utilizá-lo para pagar os impostos à vista, por exemplo, é uma oportunidade para obter descontos. Uma dica da professora do Insper é anotar estas obrigações e deixá-las bem visíveis. “Recomendo criar lembretes para si mesmo e até colar post-its na geladeira”, orienta Vera Rita. Se o planejamento for feito em conjunto, como no caso dos casais, o ideal é que um dos dois seja equilibrado com as finanças, para não piorar a situação, explica.
3º – Consumir com ponderação
A maior causa de endividamento no fim do ano são as compras por impulso estimuladas pelo incremento na conta bancária. Isso acontece, segundo a docente do Insper, em razão da chamada “contabilidade mental”, quando o favorecido pelo salário tem a sensação de possuir recursos acima dos disponíveis, sem uma análise mais objetiva. É comum consumir bens mais caros, comprar mais presentes ou optar por uma viagem mais luxuosa sem fazer os devidos cálculos. “As escolhas costumam ser feitas por impulso, baseadas no imediatismo”, explica Vera Rita. O arrependimento, contudo, costuma chegar junto com a fatura do cartão de crédito, quando a euforia do fim de ano e as férias já passaram. Para evitar o problema, a especialista recomenda planejar as compras com antecedência (as essenciais e possíveis), como os gastos para a ceia de Natal, festa de réveillon e presentes. Outra dica da docente é evitar sair com o cartão de crédito nesta época do ano.
4º – Investir para o futuro
Essa opção é mais indicada para quem está com as finanças em dia, já planejou as etapas anteriores e, ainda assim, possui uma reserva de sobra. “Recomendamos alocar pelo menos 30% do 13º salário em investimentos”, orienta Aline, da Investmania. Mas antes de aplicar, é preciso definir o objetivo financeiro e o perfil do investimento. Para metas de curtíssimo prazo – de 30 a 80 dias – é preferível deixar o salário na conta corrente, ensina o sócio do grupo Queluz, Luiz Monteiro. Já se o objetivo for de um período mais longo, há opções variadas além da poupança. Vão de fundos de renda fixa, debêntures, CDBs, LCAs (Letras de Crédito Agrícola), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) – que não cobram Imposto de Renda – até títulos do Tesouro Direto, que possuem a vantagem de não cobrar taxas de administração. Monteiro alerta, no entanto, que as taxas de custódia destes papéis costumam ser bem mais vantajosas em corretoras menores do que nos bancos de grande porte. Já no longo prazo, as opções se ampliam para aplicações mais arrojadas como fundos multimercado e de ações. “Vai depender do montante investido. Para valores mais altos (acima de R$ 5 mil), recomendo procurar uma gestora de recursos para administrar o capital”, diz Monteiro. A principal dica é basear-se em perspectivas futuras de ganhos, e não na rentabilidade anterior do investimento. “Um desempenho bom no passado não significa rentabilidade futura”, alerta. Para Aline, da Investmania, o mercado de ações é uma opção interessante para o longo prazo, já que as oscilações e riscos do dia a dia não são sentidos.
Fonte: http://economia.ig.com.br/financas/meubolso/2013-10-21/como-fugir-das-armadilhas-do-13-salario.html
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