Vejam também dezenas de especies de Aves e Pássaros que surgiram na America do Sul onde o evento ocorreu há 90 milhões de anos e as espécies se diversificaram em paralelo à deriva continental e às sucessivas mudanças climáticas
As mais de 10.000 espécies de aves modernas que sobrevoam os céus do planeta procedem de ancestrais comuns que, há cerca 90 ou 100 milhões de anos, saíram do que hoje é a América do Sul. Um novo estudo que combina evolução genética e registro fóssil sustenta que a expansão e diversificação dos pássaros pelo resto do mundo aconteceu por duas rotas opostas, marcadas pela deriva dos continentes e pelas sucessivas mudanças climáticas. Sobre a origem das aves modernas, ou neornithes, quase não há certezas. A ciência considera provado que elas procedem de dinossauros terópodes, e aí termina o consenso.
Os primeiros pássaros, já diferenciados dos sáurios, apareceram no Cretáceo, mas esse é um período geológico tão grande que permite que alguns cientistas defendam a teoria de que há 170 milhões de anos já havia aves na Terra, enquanto outros atrasam sua aparição a 67 milhões de anos atrás. Sua distribuição geográfica original é outro fator de discórdia, e mais ainda, definir quando começaram sua diversificação e expansão. Um dos problemas para seguir a pista das aves é a irregular distribuição dos registros fósseis. De maneira comparativa a outros períodos, há menos fósseis do Cretáceo, quando América do Sul, Antártida e Austrália formavam o grande bloco continental Gondwana, na parte sul do planeta, enquanto América do Norte, Europa e Ásia integravam Laurásia, no norte.
Esse fator dava força à tese da origem nortista dos pássaros. Além disso, independentemente de sua localização, a maior parte dos fósseis encontrados não são do Cretáceo, mas do período seguinte, o Paleógeno, depois da extinção dos dinossauros. “Com muito poucas exceções, os fósseis das aves modernas encontrados são posteriores à extinção do Cretáceo-Paleogeno”, afirma o pesquisador do Museu de História Natural de Nova York, o uruguaio Santiago Claramunt. Isso levou muitos especialistas a sustentar a teoria de que a diversificação das aves não aconteceu até essa extinção, conhecida como evento K-Pg e que acabou com 75% das espécies do planeta, possivelmente pelo impacto de um meteorito. O desaparecimento dos dinossauros deixou um espaço que outros animais, como os mamíferos e as aves, até então relegados na pirâmide ecológica, souberam aproveitar.
Claramunt e o também pesquisador de aves do Museu de História Natural de Nova York Joel Cracraft criaram uma nova árvore temporal das aves combinando o registro de fósseis e dados genéticos de 230 espécies, representando quase todas as famílias de aves atuais. Há determinadas sequências de DNA que mudam de forma constante, mas lentamente, o que, ao comparar espécies extintas conectantes, permite obter um relógio molecular que mede a divergência entre espécies. Os resultados, publicados por Science Advances, permitem que o ornitólogo afirme: “Nosso trabalho, que coincide com estudos prévios, baseados em DNA, defende que os pássaros começaram a se diversificar antes da extinção em massa”.
Concretamente, as aves começaram a dominar os céus há cerca de 95 milhões de anos, 30 milhões antes que o meteorito ou asteroide pusesse um fim ao Cretáceo e, também, aos dinossauros terrestres. Remontando esta árvore das aves até chegar às suas raízes, os pesquisadores chegaram à América do Sul.
“O que fizemos nesse artigo é uma estimativa da localização geográfica dos ancestrais das aves modernas, utilizando a árvore evolutiva junto com informações da distribuição de fósseis e aves atuais”, explica Claramunt. “O resultado é um claro sinal de que as aves modernas se originaram na América do Sul, ou, pelo menos, nas porções ocidentais de Gondwana, que estavam conectadas nessa época”, acrescenta. Isso significa que as aves atuais, desde as Palaeognathae, como os avestruzes ou o extinto moa gigante, até as Neoaves, passando pelas Galloanserae – que incluem as aves de curral e as aquáticas -, compartilham um ancestral comum que voava pelos cálidos céus da América tropical.
Partindo da América do Sul, e após a grande extinção, as aves se espalharam pelo resto do planeta por duas rotas principais, segundo os autores deste estudo. “Nos tempos do ancestral comum mais próximo de todas as aves, no princípio do período Cretáceo, segundo nossa nova estimativa, o supercontinente sulista de Gondwana já tinha começado a se fragmentar. África e Índia, já haviam se separado, enquanto outros continentes ainda não. América do Sul, Austrália e Zelândia estavam conectados através da Antártica, que, nessa época, tinha um clima benigno”, comenta o especialista uruguaio.
A mais problemática é a rota de expansão pelo norte, que levou as aves à América do Norte e à Eurásia. A história geológica da Terra mostra que os continentes se unem e se separam a cada 250 ou 300 milhões de anos. A reunificação continental mais recente das duas Américas aconteceu há cerca de 13 milhões de anos, ou seja, muito depois de os pássaros povoarem o hemisfério norte. Para os pesquisadores está clara a possibilidade da existência de um corredor entre ambas as Américas quando a do Norte ainda estava unida à Europa.
Outro elemento que analisaram é a grande diversidade de espécies de aves existentes, mais de 10.000 catalogadas até agora. Esta diversificação não é de agora, mas também não se deveria, segundo os autores do estudo, a uma espécie de Big Bang aviário após o evento K-Pg. As causas são endógenas.
“Nossos resultados revelam que a mudança climática é a grande responsável pela diversificação das aves”, comenta Claramunt. Segundo seu trabalho, quando o planeta se esfria, as taxas de diversificação aumentam e o processo se inverte quando o planeta se aquece. “Acreditamos que isso é a consequência da retração e da fragmentação de biomas tropicais durante longos períodos de esfriamento, o que geraria isolamento de povoações e especiação. Não descartamos a ocorrência de algum efeito adicional ao evento da extinção que acabou com os dinossauros, mas o efeito climático é claro e explica a dinâmica evolutiva das aves desde o Cretáceo até o presente”.
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