Os Mandamentos de Deus e da Igreja – e a profecia de Daniel
3 de maio de 2015

Este texto foi tirado da Associação Laical São Prospero, o Fiel Católico, que fala sobre a acusação de alguns protestantes, em que os Católicos terem alterado os Mandamentos de Deus .

 

RECEBEMOS EM nossa caixa de e-mails, de um leitor que se identifica pelo pseudônimo “Edu,” a seguinte mensagem:

“Há alguns ramos protestantes que acusam o catolicismo de ter alterado os mandamentos de Deus. Há até mesmo aqueles que acusam a Igreja Católica Apostólica Romana de ser o cumprimento de Daniel 7:25. Gostaria de fazer duas perguntas: Os mandamentos do catecismo são essencialmente os mesmos de Êxodo 20? Por que há alguma diferença entre eles? É devido a alguma mudança ou ao resumo das leis contidas no Novo Testamento?
E qual é a interpretação oficial da Igreja sobre Daniel 7:25?

Prezadíssimo Edu, em primeiro lugar agradecemos pela confiança depositada em nosso apostolado. Antes de qualquer análise a respeito dos temas que você propõe, é fundamental entender que “o cristianismo não é a religião do livro”, como disse o grande Papa Bento XVI na Exortação Apostólica Verbum Domini, e foi assim esclarecido pelo biblista Pe. Giorgio Zevini: “O cristianismo é a religião da Palavra de Deus (que não se limita às Sagradas Escrituras, sendo um conceito muitíssimo mais amplo), e não do livro; não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo Encarnado e Vivente”.

Nós não somos judeus: somos cristãos. Os antigos judeus se baseavam exclusivamente nas Escrituras para saber o que era certo e o que era errado. Eles tinham como única regra de fé e prática a Bíblia judaica, que era (e é) composta pelo Mikrá, mais popularmente chamado Tanakh. – OMikrá ou Tanakh é constituído dos livros da Lei (Toráou Chumash, que são os cinco primeiro livros da Bíblia cristã, o Pentateuco), os oito livros dos Profetas(Neviim) e os onze livros chamadosEscritos (Ketuvim). – Resumindo, são os livros que compõem o Antigo Testamento da Bíblia cristã.

O costume da maioria dos antigos judeus, nos tempos do Antigo Testamento, era simplesmente fazer o que estava escrito, e não fazer o que não estava escrito. Assim se resumia a sua espiritualidade. Justamente por isso, foram duramente criticados por nosso Senhor; sua observância era apenas ritual, enquanto seu espírito estava longe: “Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim” (Mt 15,8-9).

Em outra oportunidade, Jesus falou diretamente do erro de pensar que o Caminho e a Vida podem ser encontrados somente pelo estudo das Escrituras: “Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida” (Jo 5,39-40). – Estudavam muito as Escrituras, achavam que nelas encontrariam todas as respostas, mas não queriam ir ao Senhor! Qualquer semelhança com certos “bibliólatras” que conhecemos não é mera coincidência.

Além disso, como acabamos de ver, as Escrituras observadas pelos judeus são os livros do nosso Antigo Testamento, e todas as vezes que Jesus ou os Apóstolos falam em “Escrituras”, estão se referindo a esses livros, pois, evidentemente, no tempo em que eles estavam no mundo a Bíblia cristã ainda não existia.

Muitos dos ditos “evangélicos”, hoje em dia, são rápidos em citar determinadas passagens da Escritura, como por exemplo o Salmo 119, que diz: “Lâmpada para os meus pés é tua Palavra”, imaginando que o salmista está se referindo à Bíblia que eles levam debaixo do braço(!). Com isso tentam provar que o cristão deve se basear exclusivamente nas Escrituras para viver a sua fé, e que a Igreja não é importante. Mas eles não entendem o óbvio: na época em que esse Salmo foi escrito, o Novo Testamento da Bíblia, – que é o eixo e o cumprimento de toda a Escritura, para o cristão, – simplesmente não havia, ainda, sido escrito. Logo, não é da Bíblia cristã que ele está falando.

E essas pessoas também não param para pensar que foi a Igreja Católica que, guiada pelo Espírito Santo, produziu o Novo Testamento, determinou quais livros seriam canonizados para compor a Bíblia como a conhecemos, copiou-a e preservou-a através da História, para que chegasse até nós, hoje. A verdade é que sem a Igreja não haveria a Bíblia, e não o contrário.

Hoje, porém, depois de Jesus Cristo, graças a Deus nós vivemos nos tempos da Nova e Eterna Aliança! Somos membros da Igreja, que é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo na Terra. Por isso, não há sentido algum nessa obsessão de achar que é preciso sempre encontrar na Bíblia alguma palavra que confirme tudo o que a Igreja diz ou faz. Até porque a própria Bíblia diz que é a Igreja “a coluna e o sustentáculo da Verdade” (1 Tm 3,15), e diz ainda mais: “Não há dúvida de que vós sois uma Carta de Cristo, redigida por nosso ministério e escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, em vossos corações” (2Cor 3,3). Sendo assim, é à Igreja que devemos recorrer para entender e interpretar a Bíblia, e não o contrário.

Esse novo e maravilhoso tempo, em que agora vivemos (e em que deveríamos verdadeiramente viver, de todo coração e alma), já havia sido profetizado desde os tempos antigos: “Eis a Aliança que farei com a casa de Israel: Oráculo do Senhor, incutir-lhe-ei a minha Lei, gravá-la-ei em seu coração. Serei o seu Deus e Israel será o meu povo!” (Jr 31,33). – Somos nós, os cristãos, a nova Israel. Devemos gravar a Lei de Deus em nossos corações, e esta é a Lei do Amor (Mt 22,36-40)! Deus espera ser buscado em Espírito e em Verdade (Jo 4,24), e não mais na letra morta da Lei, pois “A letra mata, mas o Espírito Vivifica” (2Cor 3,6).

** Fique claro que nada do que dissemos até aqui diminui a importância fundamental da Sagrada Escritura, que é, sim, Palavra de Deus em forma de Livro Sagrado, e que é, sim, extremamente útil para a nossa instrução. Apenas demonstramos que a própria Bíblia Sagrada nos ensina que devemos ir além do que está escrito, seguindo o Cristo que é Presente entre nós, como membros da única Igreja que Ele nos deu (Mt 16,16-19), Igreja que é seu Corpo (1Cor 12,27 / Ef 4,12 / Rm 12,5), Igreja que é a Casa do Deus Vivo (1 Tm 3,15), única Igreja na qual comungamos Corpo e Sangue, Alma e Divindade do próprio Cristo, em santa Intimidade (1Cor 10,16).

Esclarecidos esses pontos essenciais, passamos às questões que você trouxe. Infelizmente, são muitos aqueles que inventam calúnias para tentar denegrir os católicos, mas o importante é que isso acaba também se constituindo emmais uma prova de que somos a autêntica Igreja, pois o próprio Senhor nos alertou que seria assim: “Sereis odiados de todos por causa do meu Nome” (Mt 10,22). Você pode facilmente observar que o ódio de todos, sejam ateus, comunistas, homossexuais, “vadias”, protestantes, espíritas, esotéricos, modernistas, etc… é sempre direcionado em primeiro lugar contra a Igreja Católica Apostólica Romana.

Os Mandamentos de Deus e os da Igreja

 

É claro que a Igreja Católica não mudou os Mandamentos do Antigo Testamento. Isso simplesmente não existe. O que a Igreja fez, com a autoridade que lhe foi conferida pelo próprio Senhor Jesus Cristo, foi sintetizar os Mandamentos, – que foram dados a Moisés para a condução de um povo específico, num tempo específico, conforme uma situação específica, no contexto da Antiga Aliança, – e aqui é preciso reafirmar a importância fundamental de assumir que vivemos agora no tempo da Nova e Eterna Aliança em Cristo.
A Igreja, pois, sintetizou os Mandamentos no contexto do Novo Testamento, assim como foram aperfeiçoados por Jesus com o seu ensinamento e o seu exemplo. Todos os pontos essenciais dos Mandamentos de Deus, porém, permanecem; todas as orientações de Deus estão fielmente mantidas. Vejamos:
1) Amarás a Deus sobre todas as coisas;
2) Não tomarás o Nome de Deus em vão;
3) Santificarás as festas;
4) Honrarás a teu pai e a tua mãe;
5) Não matarás;
6) Não cometerás atos impuros;
7) Não roubarás;
8) Não dirás falso testemunho nem mentirás;
9) Não consentirás pensamentos nem desejos impuros;
10) Não cobiçarás os bens alheios.
Digno de nota é que as pessoas que se apresentam como muito preocupadas com a fidelidade à letra são as mesmas que arrancaram de suas Bíblias sete livros inteiros (Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, I Macabeus e II Macabeus e fragmentos dos livros de Ester e de Daniel), que sempre constaram da Bíblia, desde os primeiros exemplares impressos, e que eram observados pelos próprios Apóstolos.
Já os Mandamentos da Igreja são diferentes dos Mandamentos dados por Deus ao povo hebreu no deserto. E por que é que a Igreja tem também os seus próprios mandamentos? Mais uma vez, porque vivemos agora o novo Tempo da Graça. Como é que Deus haveria de dar a ordem a Moisés, por exemplo, para que o povo não deixasse de comparecer à Celebração do Sacrifício do Cristo, aos domingos, se naquele tempo ainda não existia a Missa? Como daria o mandamento de comungar Corpo e Sangue do Cordeiro de Deus, se o Cordeiro ainda não havia sido imolado, pois o Senhor ainda não havia se oferecido na Cruz?
Assim, os Mandamentos da Igreja são uma espécie de complemento aos Mandamentos de Deus, e se referem mais específica e diretamente a nós, povo cristão. E foi Cristo mesmo quem deu poderes à Sua Igreja a fim de estabelecer os meios para a salvação da humanidade. Ele disse aos Apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita Aquele que me enviou” (Lc 10,16). E disse ainda mais: “Em verdade, tudo o que ligardes sobre a Terra, será ligado no Céu, e tudo o que desligardes sobre a Terra, será também desligado no Céu.” (Mt 18,18)
Ele falava aos Apóstolos, que eram a Igreja no seu primeiro início. Logo, a Igreja legisla, isto é, define suas leis, com o Poder de Cristo. Quem não a obedece, desobedece a Cristo, logo, desobedece a Deus Pai. Assim, para a salvação do povo de Deus, a Igreja estabeleceu cinco obrigações que todo cristão tem de cumprir, conforme ensina o Catecismo. São eles:
1) Participar da Missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho;
2) Confessar-se ao menos uma vez por ano;
3) Receber o Sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da Ressurreição;
4) Jejuar e não comer carne, quando manda a Igreja;
5) Ajudar a Igreja em suas necessidades.
Livro do Profeta Daniel, cap. 7, vs. 25

 

 

A passagem de Daniel, 7,25, diz o seguinte: (Esse reino)proferirá insultos contra o Altíssimo, e formará o projeto de mudar os tempos e a Lei; e os santos serão entregues ao seu poder durante um tempo, tempos e metade de um tempo”.
É um trecho um pouco complicado para os leigos, mas bem simples para os bons teólogos, que sabem que se refere à política de infidelidade a Deus de um governante chamado Antíoco Epífanos, que foi contra a observância do sábado e das festas judaicas. Esse fato você pode conferir no primeiro capítulo de 1Macabeus (vs. 41 a 52).É claro que essa passagem não tem absolutamente nada a ver com a Igreja Católica, e no final do versículo está a prova definitiva: fala em “um tempo, tempos e metade de um tempo”, e nós sabemos que está se referindo a três anos e meio, pois cada “tempo”, nesse caso, representa um ano. Para confirmar isso, você pode ler no capítulo 4, versículo 13 do mesmo livro de Daniel: fala em “sete tempos”. Pois bem, o estudo histórico (e exegético do texto original em hebraico) revela que se refere aqui a sete anos. Então, “um tempo, tempos e metade de um tempo”, significa um ano (um tempo), mais dois anos (plural sem definição, segundo o costume, são dois; se fossem três ou mais seria dito ‘três tempos’, ou ‘quatro tempos’, etc.), mais metade de um tempo (meio ano). Total, três anos e meio.

E assim, vemos claramente que o profeta não pode estar ser referindo à Igreja Católica, que existe há quase dois mil anos; – e contra ela todo tipo de falso profeta já “profetizou” que acabaria, no correr dessa longa história.

A única coisa que podemos fazer pelas pobres pessoas que acreditam em mentiras tão estúpidas e diabólicas quanto essa é rezar por elas. E tentar instruí-las, sempre que tivermos a oportunidade. Para isso, precisamos nós próprios procurar por instrução, como você e a maioria dos nossos leitores fazem. Diz o primeiro Papa: “Estai sempre prontos a responder, para vossa defesa, a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança” (1Pd 3,15)… Deus certamente irá abençoá-los por isso.
TÁBUAS DA LEI
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