Moradores que vivem às margens do rio comemoram. Mesmo assim, especialistas defendem que crise a hídrica continua
A mesma chuva que há três dias entristece os turistas alegra quem vive às margens do Guandu, rio que abastece 85% da Região Metropolitana e oferece o sustento de pescadores e comerciantes locais. É o caso de dona Célia Constantino, dona de um restaurante no bairro de Lagoinha, em Nova Iguaçu. “A semana passada foi péssima. Quando vi que o rio estava enchendo, fiquei feliz”, conta.
A especialidade da casa é o filé de tilápia, fornecido pelos pescadores da região. “Muita gente aqui depende diretamente do Guandu para viver”, contou a moradora, que pretende ampliar o empreendimento. “A ideia é construir uma pousada e estender o restaurante até a beira do rio. A natureza é o principal atrativo. Se o volume de água melhora, o negócio cresce”, disse.
O pescador Walmir Ferreira ganha a vida pescando no Guandu e conta que a chuva dos últimos dias melhorou seu faturamento. “Sei que a chuva encheu o rio porque já não consigo ver as pedras que antes eu via”, comemora.
O aumento do volume do rio fez com que o chamado Comitê Guandu, responsável pelo monitoramento dos níveis de água da região, diminuísse a vazão dos reservatórios de Paraibuna e Santa Branca. “Como o rio está mais cheio, podemos aproveitar o período para armazenar água”, disse o diretor geral do comitê, Júlio César Antunes. Ele está confiante quanto ao futuro. “Estamos esperando o próximo verão. A previsão é de que chova bastante em breve”, declarou.
Já o professor e pesquisador do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ Paulo Carneiro está menos otimista. Ele lembra que a ajuda recente de São Pedro ainda não foi suficiente para regularizar os reservatórios que abastecem o Rio de Janeiro e atingir a média histórica. “Fazendo uma analogia bem simples, você não pode servir num banquete tudo o que tem para comer, e ficar sem absolutamente nada para o dia seguinte”, compara o professor. “Não sabemos se vai chover muito ou pouco no próximo verão. Se continuarmos abaixo da média histórica, teremos situação crítica em 2016”, afirmou .
Ele lembra que, mesmo com o chuvoso inverno tardio, a população não deve desperdiçar água. “É importante economizar para que a crise hídrica que castigou São Paulo não se repita nos arredores da Baía da Guanabara”, insiste o professor.
As chuvas não encheram apenas os rios. O laguinho da Quinta da Boa Vista, em São Cristovão, disse adeus à seca e amanheceu ontem cheio de água e de pássaros.
Cidades do Sul do estado economizam
Volta Redonda conseguiu reduzir em 10,5% o consumo de água com uma campanha de conscientização. Em alguns bairros, a redução chegou a 18%. Nas escolas municipais, a média de economia é de 13%. A cidade também está instalando um sistema de captação flutuante, que permite captar água com o nível do Rio Paraíba do Sul mais baixo, além de reduzir perdas por vazamentos.
Apesar das medidas, o Saae-VR (Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Volta Redonda) não descarta o racionamento. “Estamos em uma situação mais confortável, mas não somos uma ilha isolada do resto do país. Não existem previsões de longo prazo para a questão das chuvas, por isso nenhum cenário está descartado”, disse Paulo Cezar de Souza, o PC, diretor-executivo do Saae-VR.
Em Angra dos Reis, a prefeitura publicou um decreto que obriga condomínios, comércios e indústrias a adquirir e instalar hidrômetros no prazo de 60 dias. Após 21 de outubro, quem descumprir o decreto está sujeito a penalidades, como notificação, multa e corte. Das 35.944 ligações ativas, 23.455 (65%) não possuem hidrômetro e pagam a conta mensal por estimativa de gasto de água.
Fonte: O Dia – Reportagem de Clara Vieira e do fotógrafo Daniel Castelo Branco
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