Após quatro anos de operação da Central de Tratamento de Resíduos em Seropédica, na Baixada Fluminense, ambientalistas advertem sobre a importância de monitoramento mais rigoroso com relação aos níveis de poluição do aterro sanitário, já que o mesmo fica localizado sobre o aquífero Piranema, uma reserva de água subterrânea com capacidade de abastecer a população carioca, em caso de necessidade.
De acordo com o ambientalista e professor de engenharia sanitária da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Adacto Ottoni, em 2014, quando ainda integrava a comissão do Conselho de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea), ele enviou um documento para o Instituto Estadual de Ambiente (Inea), ressaltando a importância de monitorar com maior rigor os níveis de poluição do solo e do aquífero.
“Como o aterro tem uma pilha enorme de lixo, pode estar vazando chorume para o ponto branco [área em que a água não recebe influência de agentes externos, como o lixo], que fica antes. Sugeri que eles jogassem o ponto branco para depois do Arco Metropolitano [autoestrada construída no entorno da região metropolitana do Rio], pois ali sim você não teria influência do aterro. Eles o botaram praticamente em cima do lixo”, explica o professor, alegando que esta seria a forma mais correta e precisa de apurar os níveis de contaminação do aquífero.
Em nota, o Inea alegou que a gerência de Licenciamento de Saneamento e Resíduos não recebeu, até o momento, o referido documento. Ainda de acordo com Ottoni, apesar da qualidade boa da água, provavelmente não é mais possível utilizar o aquífero como manancial. “O problema do aquífero Piranema é que ele tem uma qualidade de água boa, mas, infelizmente, é complicado poder usar como manancial, pois tem um aterro de lixo em cima. No meu entender, o licenciamento ambiental não devia ter sido dado”, advertiu o professor, lembrando que o aquífero poderia ser usado como manancial alternativo.
Catadores de antigo lixão enfrentam dificuldades
Já os catadores do antigo Lixão de Seropédica, na Baixada Fluminense, têm enfrentado dificuldade para continuar sobrevivendo da coleta seletiva. Além de falta de matéria-prima, eles reclamam da falta de equipamentos e do espaço inadequado.
“A gente não tem caminhão, não tem condições de trabalhar aqui. O Inea empresta uma van duas vezes por semana e a gente faz a coleta assim. Quando não tem a van, a gente pede emprestado para uma firma que presta serviço para a prefeitura”, afirma a catadora Giovana Nunes. Segundo ela, na época que o lixão de Seropédica funcionava, cerca de 60 catadores viviam da coleta seletiva. Atualmente, em função da falta de matéria-prima para o trabalho, apenas nove fazem parte da cooperativa.
Após vistoria da Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa ao local, a vice-presidente da CPI, deputada Lucinha (PSDB), afirma que constatou diversas irregularidades na cooperativa. “De acordo com o contrato, em 12 meses eles (a Ciclus, empresa que opera o STR de Seropédica) deveriam ter inserido os catadores no sistema de coleta seletiva. O contrato especifica que a CTR teria que viabilizar a coleta seletiva no município de Seropédica e de Itaguaí com uma central de catadores de material reciclável, o que não existe aqui”, criticou Lucinha.
Em nota, a Ciclus informou que projetou e implantou uma unidade de recebimento de material reciclável situada em terreno cedido pela prefeitura de Seropédica. De acordo com a empresa, o terreno fica próximo ao antigo lixão da cidade e das residências dos antigos catadores, para facilitar o deslocamento dos membros da cooperativa que já atuam no local. No entanto, a central de reciclagem fica a cerca de 30 minutos do CTR.
CPI investiga irregularidades em estação de tratamento
Em funcionamento há mais de quatro anos, o CTR de Seropédica, inaugurado em abril de 2011, passou a receber o lixo do Rio que era levado para os lixões de Gramacho e Gericinó. No entanto, segundo vistoria técnica realizada da CPI da Alerj, algumas irregularidades foram constatadas na operação do CTR.
De acordo com a licença de operação, a Ciclus, empresa que opera o CTR, deveria promover a limpeza e lubrificação dos veículos e equipamentos dentro da estação de tratamento. “A parte de manutenção e lubrificação dos veículos e dos equipamentos é, praticamente, uma espelunca. Dentro da estação de tratamento de resíduos sólidos deveria funcionar um departamento só para parte de lubrificação, manutenção e lavagem e não tem nada disso. O que nós encontramos foi um quebra-galho”, afirmou a deputada.
Ainda segundo a licença de operação, os caminhões que fazem o transbordo para o CTR precisam ter uma pintura de visualização para entrar na estação, o que a maioria das carretas que acessam o local não possuem. Outro questionamento feito durante a vistoria foi a quantidade de chorume tratado na estação. Segundo a licença, a Ciclus deveria tratar mil metros cúbicos de chorume por dia e atualmente estaria tratando apenas a metade desse volume.
Sobre a programação visual das carretas que acessam a estação, a Ciclus informou que obteve autorização da Comlurb o início das operações sem a programação visual original. Já sobre a quantidade de chorume tratado, a empresa alegou que possui capacidade para fazer o tratamento de mil metros cúbicos de chorume por dia, mas o aterro atualmente está gerando entre 400 e 500 metros cúbicos apenas. A situação está sendo investigada pela CPI da Alerj, já que além disso, 90 metros cúbicos de chorume têm sido enviados para tratamento na Estação de Alegria da Cedae.
Fonte:http://www.revistadigitaldenoticias.com.br
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