“O mundo ainda não entendeu que as pessoas com deficiência também são consumidoras. O mundo tem a ideia de que essas pessoas não saem, não têm vida ativa, que só ficam em casa sofrendo. Isso resulta numa falta de preparo, de serviços”, conta Michele Simões, estilista que sofreu um acidente de carro em 2013, quebrou a coluna e desde então é cadeirante.
Mas o acidente, ela insiste, não a define. O que a define? O amor pelo desconhecido, por desbravar o planeta e poder provar do que ela é capaz.
Segundo dados do IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, visual, física ou intelectual. Deste total, 1,3% tem algum tipo de deficiência física. O direito de ir e vir, antes mesmo de estar previsto na Constituição, é um direito moral de todos. Mas se viajar requer planejamento para qualquer um, para quem necessita de algum tipo de atendimento especial isso precisa ser redobrado.
Como planejar, o que reservar, onde procurar por um serviço que seja adequado às necessidades de um cadeirante? Não é fácil encontrar esse tipo de informação. E, pensando em uma forma de ajudar a quebrar essa barreira e colocar todo mundo na estrada, Michele criou o blog Guia do viajante Cadeirante” Nele, além das fotos lindas e encorajadoras, ela explica alguns passeios, fala sobre as situações vivenciadas e as dicas para fugir das ciladas.
Em Buenos Aires, a primeira viagem de Michele como cadeirante, a experiência não foi das melhores. A cidade não era adaptada. E mesmo com a sempre presente ajuda do marido, as coisas não foram fáceis. São degraus, portas estreitas e outros perrengues que complicam, e muito, a vida de quem tem dificuldade de acessibilidade.
Mas não foi essa pedra no caminho que a impediu de retomar um velho sonho: fazer um intercâmbio. A estilista precisava descobrir quais são as limitações dela e quais as limitações que o mundo impõe a ela. O local escolhido para essa aventura foi Boston, o lugar que ela achou que estivesse mais acessível. Foi lá também que o estigma de entender que a deficiência não é um problema foi desmistificado.
Alguns anos depois, outros locais já foram acrescentados na lista. Teve Santiago, Londres, Barcelona e Paris. Na capital francesa, ela até chegou a andar de scooter pelas ruas, sozinha. Tudo muito bem planejado, é claro. Em toda viagem, ela busca fazer uma coisa inusitada e que possa reafirmar que a condição dela não a limita. |