Alguns fungos podem ajudar, naturalmente, no combate a mosquitos, como o Aedes aegypti, transmissor de vírus que causam doenças como dengue, zika, febre amarela urbana e chikungunya, e o inseto conhecido popularmente como “mosquito-palha”, do gênero Lutzomyia, responsável pela transmissão do agente etiológico da leishmaniose. Denominados fungos entomopatogênicos, pela capacidade de parasitar e até de matar esses insetos, agindo como “inseticidas” biológicos, eles são o objeto de um estudo desenvolvido na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no município fluminense de Seropédica, sob a coordenação da professora e médica veterinária Isabele da Costa Angelo, que é Jovem Cientista do Nosso Estado, da Faperj.
“O objetivo da pesquisa é testar a eficácia de isolados fúngicos, selecionando os mais virulentos, que tenham potencial de controle sobre os mosquitos Aedes aegypti e Lutzomyia sp”, diz Isabele, professora do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública. No Laboratório de Controle Microbiano, localizado no Instituto de Veterinária da UFRRJ e chefiado pela médica veterinária Vânia Bittencourt, que é Cientista do Nosso Estado da Faperj, a equipe envolvida no projeto testa os efeitos da aplicação dos fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, considerados promissores no controle biológico de diferentes espécies de invertebrados, incluindo mosquitos e carrapatos.
Ao entrarem em contato com esses invertebrados, os fungos normalmente aderem à superfície externa do corpo deles, na forma de esporos microscópicos – geralmente esporos assexuados, denominados conídios. Quando submetidos a condições adequadas de temperatura e umidade elevada, esses esporos germinam, desenvolvem hifas e colonizam a cutícula do inseto, podendo perfurá-la e atingir a cavidade corporal do inseto, causando sua morte.
“Estamos desenvolvendo uma formulação líquida, à base de fungos e óleo natural de aroeira, que protege os fungos contra a radiação solar, para ser adicionada em locais de risco, que costumam acumular água e onde nascem as larvas de mosquitos. No laboratório, estamos testando a virulência de isolados de fungos, nas formas de conídio e blastosporos. Os resultados preliminares já indicam que os blastosporos são ainda mais virulentos quando comparados com os conídios”, conta Isabele. “Em uma segunda etapa do projeto, ao longo desse ano de 2018, vamos testar também a eficácia dessa formulação no combate a mosquitos na fase adulta”, acrescentou.
A grande vantagem da pesquisa é propor a utilização de um método de controle biológico desses mosquitos, totalmente natural. “O desenvolvimento de formulações que potencializem a virulência desses fungos é um passo extremamente importante para a implementação de novas estratégias de controle desses mosquitos. A ideia não é substituir totalmente o uso de produtos químicos, mas pelo menos minimizar o seu uso, a partir de um manejo integrado de controle. Reduzir o uso de inseticidas artificiais é importante para gerar menos impactos ambientais e evitar danos a humanos e animais, além de ser bastante eficaz”, destacou.
Inseticidas sintéticos têm sido utilizados para o controle de larvas e adultos de Aedes aegypti, entretanto vários estudos mostraram a resistência desse mosquito a três importantes grupos de inseticidas: organofosforado, piretroides e carbamatos. “O uso indiscriminado de pesticidas químicos também apresenta essa desvantagem. Já o controle biológico não gera resistência por parte dos insetos e têm se mostrado uma alternativa importante para reduzir a sobrevivência desses mosquitos, que são vetores de diversas doenças tropicais que representam um enorme prejuízo à saúde pública”, concluiu.
Além de Vânia e Isabele, participam da equipe: na UFRRJ, a professora Patrícia Gôlo, o professor Douglas Chaves, a pós-doutoranda Mariana Guedes Camargo, o doutorando Ricardo O. B. Bitencourt, a mestranda Fernanda Souza Faria e as doutorandas Nathália Alves de Senne e Jéssica de Paulo Fiorotti; na Universidade Federal de Goiás (UFG), os professores Everton Kort Kamp Fernandes e Caio Marcio de Oliveira Monteiro; na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRCB), o professor Wendell Marcelo de Souza Perinotto; e na Utah University State/USA, o doutor Donald Roberts.
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