“O Rio não vai mais permitir as violências contra o meio ambiente como foi esse crime ambiental por mais de 30 anos aqui em Gramacho”. Essas foram as palavras do prefeito Eduardo Paes em junho de 2012, data de fechamento do aterro de Gramacho, o maior da América Latina. O local agora conta com uma Usina de Biogás para fins energéticos. Com o fechamento do aterro, todo lixo foi transferido para a Central de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica, região metropolitana do Rio.
Em Gramacho, nos seus 34 anos de funcionamento, o que estava ocorrendo era um crime ambiental, contaminando diretamente a baía de Guanabara, trazendo doença, mau cheiro e transtorno para a localidade. Com a transferência, ocorrerá o tratamento de todo o lixo produzido no estado do Rio de Janeiro, incluindo a baixada fluminense. Segundo o site da empresa administradora do local e do secretário municipal de conservação e serviços públicos Carlos Roberto Osório em entrevista ao site G1, em 2012, a Central é a mais moderna, segura e a melhor da América do Sul, sendo construída a partir das Normas internacionais de respeito ao meio ambiente.
O assunto gera polêmica entre os moradores de Seropédica e ambientalistas. Segundo os órgãos responsáveis, como visto anteriormente, a central é amiga do ecossistema e trabalha com a sustentabilidade. Segundo Osório, o local foi escolhido por conta da baixa densidade populacional. O aterro está distante, mas nos arredores existem famílias que praticam a agricultura orgânica e vivem dela e, para eles, a vida mudou para pior, pois convivem com as moscas e o mau cheiro da Central. Em entrevista ao site G1, moradores relatam sofrimento e problemas de saúde, por conta dos resíduos da Central. Para ambientalistas e professores da área, outro problema causado pela instalação do aterro em Seropédica é uma possível contaminação do aquífero Piranema, importante recurso hídrico da região, que abastece também o Guandu, rio que proporciona água potável para a região metropolitana do Rio de Janeiro.
A pesquisa
Por ser um tema recorrente e importante, a aluna Maria Affonso Penna, estudante de Geografia na UFRuralRJ fez uma monografia sobre a Central de Tratamento de Resíduos e apresentou parte do trabalho na Reunião Anual de iniciação Científica (RAIC), realizada na universidade, em setembro de 2014. Moradora de Seropédica, escolheu a Central como foco de sua pesquisa porque queria colaborar com a cidade de Seropédica. “Quando comecei a escrever a monografia, tive interesse em escrever alguma coisa que tivesse inserida em Seropédica. Foi importante fazer o trabalho porque vi que o problema não era só essa CTR e sim toda a nossa relação com os nossos resíduos. Minha intenção não era apresentar a CTR como culpada ou inocente no processo e sim estudar para a partir daí traçar algumas conclusões. Foi muito difícil o levantamento de informação porque não encontramos muita coisa nos sites governamentais.”, disse.
A preocupação de Maria Penna é a mesma de moradores de Seropédica: A construção de um aterro em um ambiente voltado para a agricultura orgânica e plantações familiares. Na cidade existia uma lei ambiental que proibia a instalação de lixões, mas sofreu emendas para a construção da CTR. Para Penna, ainda existem muitas questões a serem trabalhadas para o aterro atender às expectativas da sociedade. “Existem muitas coisas para serem alteradas para a CTR atender às expectativas ambientais, pois o licenciamento ambiental foi feito de maneira incorreta. A população não ganhou com esse processo. Não existe uma troca no quesito de educação ambiental. É necessário uma fiscalização forte, melhoramento das vias públicas e uma coleta seletiva, que não existe em Seropédica”. Ela também ressalta a importância de uma gestão que dê continuidade aos trabalhos preventivos: “O problema da questão ambiental é que as políticas não acompanham. A cada gestão que entra se ignora a gestão passada. Para ter um planejamento ambiental eficiente, a palavra é continuidade. Pode monitorar, mas não encerrar. A questão ambiental é de longo prazo, as respostas são demoradas. É difícil encontrar um local para um aterro. Torço para que esse aterro seja um bom exemplo pra gente”.
O professor Leandro Dias Oliveira, orientador de Maria Penna e pesquisador na área da sustentabilidade na UFRuraRJ, acredita que a preocupação com a concentração dos resíduos em Seropédica poderia ser evitada com uma política governamental mais organizada. “O lixo na verdade é um problema congênito do sistema. A questão do lixo é um problema de Estado, o Estado tem que ter maior participação. Na verdade, cada município deveria cuidar de seus resíduos. Em relação à CTR, se pensou em um esconderijo espacial para empurrar o lixo. Deveria haver um controle social maior, mas estamos falando de algo que é quase utópico, um diálogo muito profundo que o Brasil ainda não aprendeu a fazer com a sociedade civil”, disse o professor. “Quanto a CTR temos duas questões: A melhoria foi um pouco mais de planejamento na borda da metrópole. O local onde o aterro sanitário está instalado foi escolhido por ser mais afastado e foi escolhido ali estrategicamente porque a região tem uma conexão de transporte, ou seja, uma facilitação de despejo. Por outro lado, no meu olhar o que mais causa constrangimento é que não houve nenhum tipo de diálogo entre as autoridades e os moradores de Seropédica. Então tudo que é instalado como um rolo compressor, de cima pra baixo gera esse tipo de conflito”, afirmou o professor.
Para saber mais sobre o solo do aterro, conversamos com o professor e engenheiro agrônomo da UFRRJ Everaldo Zonta. Ele afirma que se não houver uma execução correta do projeto, ocorrerá contaminação do lençol freático e do aquífero Piranema. “Há a necessidade de uma fiscalização intensa por parte dos órgãos ambientais. Com a vinda do aterro, houve intensa desvantagem ambiental e social”, disse Zonta. Quando perguntado sobre o solo de um aterro, o professor deu um alerta: “Nesses locais podem ser replantados alguns vegetais que não entrem na cadeia alimentar do homem. A recuperação do solo pode ser rápida, dependendo das espécies que você planta”. De acordo com os entrevistados, deve haver uma maior fiscalização no local, para que tudo ocorra de acordo com as leis ambientais e para não ter prejuízo de ambas às partes. O diálogo com os moradores também é necessário, questão de cidadania. Se cada município cuidasse de seu lixo, o caminho para uma consciência ambiental ficaria mais fácil. Muitos caminhos ainda estão em aberto, possibilidades existem e podem ser um tema abordado pelas autoridades.
Fonte: https://agenotic.wordpress.com/2014/11/25/ctr-seropedica/
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