Forças militares fazem operação em Bangu 3 e miram ‘escritórios do crime’ em presídios
27 de março de 2018

Militares das forças de segurança entraram nesta manhã de terça-feira na penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, em Gericinó, na Zona Oeste. A operação contou com 220 homens do Exército e apoio do Batalhão de Engenharia, além de 120 inspetores de Segurança e Administração Penitenciária. Por volta das 15h, os militares deixaram o complexo penitenciário. Em caminhões e pickups, além de uma ambulância de apoio, eles saíram sem fazer comentários.

O GLOBO mostrou no domingo que as cadeias fluminenses, dominadas pela corrupção, funcionam como escritórios do crime, onde os presos, principalmente os chefes de facções, encontram um terreno fértil para comandar o mercado das drogas. O objetivo da ação é fazer uma varredura para apreender materiais ilícitos dentro dos presídios.

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Um dos alvos da ação é a galeria B7, que abriga os chefes da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho (CV), que não foram transferidos para presídios federais. Por isso, o grupo, que ocupa uma cela com capacidade para 90 presos, é chamado de “comissão” ou “conselho de lideranças”. A B7 é a “panela de pressão” do sistema prisional.

Três investigações que estão em curso desvendaram um conjunto de violações que vai de fraudes em contratos públicos, incluindo a compra de quentinhas para presos, a esquemas de entrada de celulares, armas e drogas nas celas.

Um dos alvos da ação é a galeria B7, que abriga os chefes da maior facção criminosa do Rio, o Comando Vermelho (CV), que não foram transferidos para presídios federais. Por isso, o grupo, que ocupa uma cela com capacidade para 90 presos, é chamado de “comissão” ou “conselho de lideranças”. A B7 é a “panela de pressão” do sistema prisional.

Em entrevista ao GLOBO, publicada nesta terça-feira, o novo secretário de Administração Penintenciária (Seap), David Anthony, afirmou que não haveria nenhum lugar dentro do sistema prisional que os agentes da Seap não fariam uma varredura, com ajuda das forças militares que atuam na intervenção. “Vamos a todos os lugares”, disse.

VISITA ÍNTIMA FRUSTRADA

A inspeção frustrou a visita íntima que 30 mulheres de presos fariam a partir de 9h. A maioria chegou ao acesso do complexo penitenciário por volta das 5h para aguardarem a revista e não se atrasarem para o encontro com namorados ou maridos.

– O Exército chegou às 5h. Só às 8h é fomos avisadas por um agente de que as visitas estavam canceladas. E que quem insistisse teria sua carteirinha (de visitante) apreendida. Poxa, estamos com comida pronta para darmos para nossos homens e agora tudo pode estragar. Fiz peixe, arroz, feijão, e outras coisas. O que fazer com isso agora? – indagou uma mulher.

Outra visitante disse que pegou duas conduções de Seropédica até Bangu e reclamou da interferência nas visitas.

– Ficamos um mês esperando por esse encontro e agora vamos precisar ir embora sem nada. Gastei meu dinheiro, que ganho suando no trabalho, para preparar um almoço caprichado para meu marido. E agora vou precisar ir embora sem o encontro e sem ao menos deixar a comida para ele. É muita falta de consideração com a gente – reclamou.

GALERIA B-7, O ‘QG DO CRIME’

Facilidades como acesso a celulares, radiotransmissores, antenas e até roteadores de sinal de internet permitem que a “comissão” de Bangu 3 decida questões como invasões de morros, transferências de armamentos e sentenças de morte. “Nada acontece no Estado do Rio de Janeiro sem que antes haja uma autorização desses integrantes”, relata um ex-agente em depoimento ao Ministério Público estadual. Bangu 3 é considerado inexpugnável no sistema prisional. “Ali ninguém entra”, afirma um inspetor.

Os depoimentos dão a dimensão de como as ordens são dadas de dentro para fora do presídio. “Eles mandam na pista”, diz um detento. Mesmo quando algum integrante de facção criminosa leva um desafeto ao alto de um morro para ser executado, não pode matá-lo sem obter autorização dos integrantes do chamado Conselho de Lideranças do CV, que fica em Bangu 3. “As ordens de execução são dadas muitas vezes pelo aplicativo WhatsApp”, informa um outro depoente.

PIZZA A R$ 200 E MUDANÇA DE CELA A R$ 500

O GLOBO teve acesso a oito depoimentos de quem convive diretamente com o caos nas unidades prisionais imposto pelas facções criminosas e alimentado pelo próprio sistema, que não coíbe a prática de corrupção. A partir dos relatos, é possível ter a dimensão de como funciona o clima de “liberou geral” que envolve presos, agentes penitenciários e coordenadores de segurança: o esquema é afrouxar a fiscalização para a entrada de materiais ilícitos pela cantina, entre eles munições, drogas, celulares, eletrodomésticos e até lanches do McDonald’s.

O balcão de negócios não para por aí. Transferências de celas e galerias também têm preço: um preso, em depoimento, relatou como a chegada de um integrante do Comando Vermelho ao Ary Franco é comemorada por quem detém as chaves das cadeias. É sinal de lucro à vista. “Intencionalmente, colocam o preso na cela H, que é a pior cela, juntamente com a cela E, pois são sujas, não têm colchões. Que com esta atitude a Seap quer que o preso peça para ser transferido para uma cela melhor e acaba aceitando pagar propina para ir para a galeria B, que é bem melhor que as anteriores”, contou.

As propinas para comprar um lugar melhor podem variar, de acordo com os presos. O ingresso na galeria A, que fica no subsolo e tem drogas liberadas, custa R$ 200. Quem tiver mais dinheiro pode optar pela galeria B, considerada VIP, por R$ 500. A quantia arrecadada seria dividida, segundo o denunciante, entre inspetores, o diretor do presídio e o alto escalão da Seap.

Fonte: G1