A cerimônia foi realizada no próprio território Yanomami, aos pés do Pico da Neblina, o ponto mais elevado do Brasil. Segundo a Ufam, além deles, os baniwa, os tukano e os de língua yêgatu, também concluíram o curso nos meses de julho e agosto e tiveram suas cerimônias de outorga de grau igualmente em terra indígena.
Para chegar até o local, é preciso enfrentar horas de voo e uma travessia de barco, regada por uma chuva torrencial. Nessa época do ano, de agosto até setembro, é inverno na região do Alto Rio Negro, portanto, é quando mais chove. O acesso às comunidades é facilitado e o rio está mais volumoso, mas isso não torna a viagem mais segura já que os riscos são iminentes.
Concluída a travessia, a comitiva da Ufam chegou ao local já no início da noite. Além de representantes da universidade, a cerimônia contou com membros das Forças Armadas e representantes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), parceira da Universidade na execução do projeto, além de outras associações indígenas.
Os até então formandos homenagearam com o nome da turma o cacique Joaquim Figueiredo e os tuxauas Daniél Góes e Osvaldo Lins, já falecidos.
Em sua fala, o reitor da Ufam, Sylvio Puga, mencionou a Constituição Federal de 1988 pelo qual o Estado Brasileiro passou a incorporar a concepção de diversidade étnico-cultural, implicando dizer que os povos tradicionais estão, nos termos da lei, com os direitos resguardados
“Na prática, o desafio de implementar políticas voltadas a esses povos é do tamanho da nossa região. É difícil promover conhecimento de forma que as etnias não se desassociem da cultura, de seu valor de pertencimento étnico, de sua língua materna ao passo que se insira nos processos de aprendizagem”,
“Além da educação diferenciada, entendemos que o pleito de vocês vai muito além: saúde, agricultura ambientalmente responsável e espaço de fala onde a instrução científico-tecnológica pode ajudá-los dentro do que nos compete e nós iremos ajudar a traçar essa caminhada”, disse Pulga.
A professora Iraildes Caldas Torres, estudiosa, pesquisadora de gênero há mais de duas décadas das mulheres sateré-mawé e tikuna, de Maués, estava alegre ao ver que dos 42 diplomas emitidos, 13 seriam conferidos a mulheres Yanomami.
“Estou academicamente feliz por vê-las se emancipando o que também é resultado do que observemos como resultado do intervalo de tempo a contar de 1952. Mais recentemente, há 30 anos as terras Yanomami foram demarcadas e vocês têm buscado equilibrar apoderamento diante do mundo e cultura. Hoje, vocês têm um novo capítulo, uma nova conquista, que é importantíssima: a educação. É a educação o grande movimento do desenvolvimento humano”, considerou.
Para o representante da Foirn, Dário Cassimiro Baniwa, quem ganha com o acontecimento é o povo indígena. “Três momentos marcantes na história passam por vocês. o primeiro na década de 1970, com a construção da Perimetral Norte; nos anos 1980 e início dos de 1990, o conflito entre contra centenas de garimpeiros em balsas que invadiram o território e mais recentemente, a demarcação das suas terras. Desde os anos de 1970, os Yanomami sofrem com intervenções e ameaças, fosse pelo avanço dos não índios próximo às suas aldeias, mineração, extração ilegal como por doenças e reversão de direitos. É preciso ficar atento sempre. Mas, nem tudo é lamento. Esta é a oportunidade de festejar e também lembrarmos daqueles que muito contribuíram”, salientou.
Fonte: Portal Amazônia
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