Tiradentes, o único inconfidente mineiro executado pela coroa portuguesa
21 de abril de 2020

Símbolo da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como “Tiradentes”, foi executado em praça pública, no campo da Lampadosa no dia 21 de abril de 1792

O dia 21 de abril marca a execução de um dos maiores ícones da história republicana do Brasil. Nesta mesma data, no ano de 1792, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como “Tiradentes”, era executado em praça pública, no campo da Lampadosa.

Tido como o maior expoente da revolta intitulada de “Inconfidência Mineira”, ocorrida no estado de Minas Gerais no ano de 1789, o alferes e dentista é constantemente abordado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Professores comentaram o período e contexto histórico vivido por Tiradentes no Brasil

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Segundo o historiador Everaldo Marques, Tiradentes foi escolhido com o símbolo da defesa na instalação do Brasil República devido a sua atuação e o papel de protagonismo que teve durante a Inconfidência Mineira. “Tiradentes era maçom e fez parte de um movimento conspiratório aqui no Brasil, chamado de Inconfidência Mineira.

A história oficial do Brasil coloca Tiradentes como sendo um herói nacional porque ele tinha uma origem humilde, participou desse movimento conspiratório e em 1889 quando os militares proclamaram a República, eles precisavam criar um símbolo que tivesse apelo popular. O símbolo republicano, já que estávamos vindo de uma monarquia. Tiradentes acabou sendo escolhido pelos militares como esse símbolo republicano por conta da sua origem humilde, representando o povo brasileiro. Morreu lutando por uma República, assim como a Inconfidência defendia”, explica.  

O professor de história Pedro Botelho destaca que para compreender o período que Inconfidência Mineira eclodiu, é preciso recapitular o contexto histórico pelo qual passava a Europa da época. “O fera que está estudando o período no qual Tiradentes e a Inconfidência atuaram, precisa compreender algumas coisas fundamentais que cercavam o século XVIII, tanto no Brasil quanto no centro do Absolutismo, a Europa. Vamos relembrar pelo menos três aspectos importantes: o Ciclo do Ouro, o Iluminismo e a Crise no Sistema Colonial. Investigando as pontes que conectam esses conteúdos, o estudante certamente compreenderá as necessidades e objetivos da atuação de Joaquim José da Silva Xavier e seus companheiros”, pontua.

Ciclo do Ouro

O docente enfoca a presença de autoridades portuguesas na administração da extração do ouro e prata, principais fontes de renda que mantinha o sistema colonial português no Brasil. “A busca por ouro e prata sempre foi o grande motor da colonização portuguesa na América. Ao mesmo tempo que as elites rurais investiam na produção de açúcar, demais produtos tropicais como algodão, tabaco, drogas do sertão e pecuária, as autoridades coloniais e os bandeirantes se preocupavam na descoberta de metais preciosos. A busca se encerrou por volta de 1694, na região das Minas Gerais, com o início da exploração aurífera”, diz.

“A Coroa Portuguesa rapidamente criou um sistema minucioso para administrar, fiscalizar e conceder a retirada do ouro. A presença das autoridades mineiras era constante e implacável para evitar contrabandos e subornos. Ao passo que a região das Minas se tornava repleta de centros urbanos, comerciantes, tropeiros, estrangeiros e escravos, a presença da fiscalização do Reino aumentava”, completa.

Ainda sobre o chamado “Ciclo do Ouro”, o historiador Pedro Botelho destaca a forte cobrança de impostos sobre a extração. “O Quinto (cobrança de 20% do ouro extraído), a criação das Casas de Fundição, os pedágios e demais mecanismos de controle tornaram-se exaustivos e atingiram seu nível máximo com a criação da derrama: contribuição anual de 100 arrobas de ouro ou cobrança em bens e propriedades aos devedores da Coroa. Essa medida ameaçava os interesses das elites mineiras, que se colocaram contra aos objetivos de Portugal. Esse desgaste foi o primeiro passo para a formação da Inconfidência”, conclui.

 

Iluminismo

Segundo o professor de história Pedro Botelho, os avanços dos ideais iluministas, desenvolvidas na Europa, sobretudo em países com Inglaterra e França, influenciaram as elites mineiras a conspirar por um sistema republicano no Brasil. “O século XVIII é tradicionalmente denominado como “século das luzes” pela renovação científica e intelectual ocorrida na Inglaterra e França, a partir do surgimento das ideias liberais que defendiam os direitos naturais, civis e políticos do Homem. A concepção de contrato social, na qual o poder do governante é uma concessão da sociedade, fez surgir a ideia de que o povo poderia redefinir seus próprios governos através da sua própria vontade coletiva”, afirma.

O docente ainda pontua que “as elites rurais brasileiras foram influenciadas pelo Iluminismo através das universidades europeias, onde buscavam a formação no ensino superior e acabavam entrando em contato com as ideias liberais. Retornando ao Brasil, grande parte dessas elites se colocaram contra o Sistema Colonial, típico do Antigo Regime, demonstrando suas contradições e opressões contra a liberdade, igualdade e o direito à propriedade”, destaca.

Crise no sistema colonial

O professor aponta a crise no sistema colonial português como um dos principais fatores para a eclosão de conspirações. “Com a chegada das ideias iluministas na América Portuguesa, o cenário se transformou. As elites mineiras, encurraladas pela derrama e outros impostos, se encontravam em dívidas e dificuldades. A saída proposta foi a conspiração para uma revolta com grandes objetivos: emancipar a região de Minas Gerais”.

Botelho enfatiza que “assim como outras revoltas que ocorreram, a Inconfidência Mineira demonstra como o sistema colonial se tornou entravado, contraditório e que refletia um conflito de interesses por parte dos brasileiros e do governo de Portugal. Décadas mais tarde, na América Espanhola, por exemplo, essas contradições coloniais serviram de motivação para os movimentos de emancipação e independência”

Por fim, o docente destaca que os estudantes precisam ter em mente que Tiradentes foi uma das principais vozes da inconfidência mineira por denunciar as desigualdades do sistema colonial. “O que o fera precisa compreender sobre a figura de Tiradentes é de que, assim como outros membros das revoltas coloniais, ele esteve dependente da ação das elites para a execução e planejamento da conspiração. Ele era um homem que passou boa parte da vida exercendo diversas profissões e tentando encontrar uma estabilidade social que estava quase sempre ameaçada pelas arbitrariedades das autoridades da Coroa. Viu na Inconfidência uma voz para expressar suas perspectivas e denunciar as desigualdades e desmandos de um governo que pouco se integrava ao povo mineiro”, conclui.

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