O depoimento de uma testemunha, ao qual O DIA teve acesso, mostra a premeditação e a crueldade dos militares da Marinha do Brasil (MB) presos pelo rapto e morte do policial civil, Renato Couto, 41, após ele tentar recuperar metais furtados da obra de sua residência. Os metais foram levados por usuários de drogas a um ferro-velho, que pertence a dois dos acusados pelo seu homicídio.
De acordo com o relato, Couto foi pego às 14h30 da última sexta-feira, dia 13, próximo ao prédio do INSS, na Praça da Bandeira. A testemunha contou que caminhava pela rua quando ouviu gritos: “Deita no chão, deita no chão”. Os gritos vinham de quatro homens, próximo a uma van cinza. A polícia já sabe que os quatro eram os sargentos Bruno Santos de Lima e Manoel Vitor Silva Soares, além do cabo Daris Fidelis Motta. O pai do sargento Bruno, Lourival Ferreira de Lima, também estava no grupo. Eles já estão presos. A van era um veículo da própria MB.
A testemunha afirma que os quatro homens tentaram conter Couto. “Enquanto três, um por trás, aplicando uma gravata, e dois pelos lados, seguravam a vítima, o quarto apontava uma pistola para ele, de frente, sendo ele mais alto, magro, careca, vestindo um colete balístico”. Ainda segundo a descrição, um dos homens que segurava Couto pelo braço era um senhor de idade.
Na delegacia, a testemunha reconheceu como sendo o sargento Bruno o homem que segurava a pistola e, o senhor de idade, seu pai, Lourival. Ambos eram donos do ferro-velho, para onde o material furtado havia sido levado e local onde Couto compareceu antes de ser morto.
Seguindo o relato, a testemunha afirmou que o homem que dava a gravata em Couto passou a gritar, por diversas vezes, ‘aplica esse cara logo’, no intuito de fazer o sargento Bruno a realizar um disparo contra a vítima, o qual fora feito. “O primeiro disparo foi efetuado na direção das pernas ou pés da vítima; que ainda assim, a vítima continuava a se debater, o que levou a Bruno efetuar mais um disparo; desta vez na altura do tronco; que momentos depois, em razão da grande força empreendida pela vítima na tentativa infrutífera de se desvencilhar dos autores, o mesmo começou a desfalecer”, diz trecho do depoimento.
Nesse momento, a testemunha relata que foi possível ver uma algema no braço direito de Couto, que “por lutar por sua vida, impediu que os algozes os algemassem completamente”, escreveu o policial que escutou o relato.
Após o segundo disparo, Couto caiu no chão e, já fraco, passou a se arrastar, momento em que Lourival passou a recolher as cápsulas caídas no chão. Nesse momento, Bruno e os outros comparsas passaram a arrastar Couto para dentro da van e Lourival começou a desferir “diversos golpes na já quase desfalecida vítima”. Couto estava fraco, mas se debatia, tentando fugir e evitar entrar no veículo. Foi quando um terceiro disparo foi feito. “Diante do último esforço da vítima de evitar ser levado, Bruno efetuou seu último disparo, diminuindo mais ainda a resistência da vítima e, por fim, conseguindo colocá-lo, com a ajuda dos demais, para dentro da van”.
Ainda segundo a testemunha, a todo o momento Couto repetia: “Eu não fiz nada, eu não fiz nada”.
Enquanto prestava depoimento no sábado, os quatro autores do crime foram presos e levados para a 18ªDP (Praça da Bandeira), onde a testemunha fez o reconhecimento pessoal dos envolvidos.
Na delegacia, na manhã deste domingo, o sargento Bruno tentou cortar os pulsos após quebrar as lentes dos óculos que usava. Socorrido para o hospital, ele recebeu tratamento médico e retornou para a sede policial.
Durante a transferência para uma prisão da Marinha, no início da tarde deste domingo, os três militares usaram capacetes e coletes de fuzileiros navais, em cima da roupa civil, além de algemas. De acordo com os investigadores, o procedimento é um padrão da Força Armada para a transferência. A polícia segue em busca do corpo de Couto, que foi jogado no Rio Guandu.
Deixe a sua opinião sobre o post