Alunos do Centro de Arte e Cultura conquistam oito medalhas na primeira Seletiva Estadual Marcial
Os alunos da oficina de Taekwondo Marcial do Centro de Arte e Cultura (CAC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) brilharam na 1ª Seletiva do Estado. Com desempenho impecável, o grupo conquistou oito medalhas – quatro de ouro e quatro de prata – e garantiu 100% de aproveitamento na competição. O evento ocorreu no dia 25 de agosto, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Os campeões agora se preparam para disputar o Campeonato Brasileiro, representando o Estado do Rio de Janeiro. Apesar da empolgação pela próxima fase, a data e o local do campeonato ainda não foram definidos.
Vale lembrar que a modalidade praticada pelos estudantes da Rural difere do modelo visto nas Olimpíadas, por exemplo. O Taekwondo olímpico ou “Taekwondo de entretenimento” tem o foco na competição esportiva, com a necessidade de regras rígidas e equipamento de proteção adequado para preservar a segurança dos atletas. O objetivo principal é pontuar, acertando o adversário com golpes permitidos, no tronco ou na cabeça.
O Taekwondo Marcial, que é desempenhado na oficina do CAC, preza pelo desenvolvimento de habilidades marciais, autodefesa e disciplina pessoal. Dessa forma, ele utiliza poucos equipamentos de proteção, e, em alguns casos, é praticado apenas com os uniformes tradicionais (doboks). Embora haja competições para esse estilo, o foco principal é preservar as tradições e a filosofia do Taekwondo como arte marcial.
Jornada cheia de obstáculos
A oficina de Taekwondo Marcial faz parte das diversas iniciativas oferecidas pelo CAC, um projeto voltado para a promoção de atividades culturais, artísticas e esportivas da UFRRJ. O centro tem como principal objetivo beneficiar a comunidade de Seropédica e arredores, proporcionando acesso gratuito a práticas que integram desenvolvimento físico e social.
Além de fortalecer a autoestima e disciplina dos alunos, a oficina tem revelado talentos que agora ganham destaque no cenário estadual e buscam projeção nacional.
Um dos responsáveis pela lapidação desses novos prodígios é o mestre Ederson Pereira. Natural de São Paulo, Ederson pratica todo o tipo de artes marciais desde seus 8 anos de idade. Do Judô até Karatê e Kung-fu, o que realmente prendeu a atenção do professor foi o Taekwondo. A partir desse estilo de luta, ele obteve um bom desempenho nas competições oficiais, com um bicampeonato brasileiro, um vice-campeonato mundial, e uma medalha de bronze no circuito latino-americano, além de conquistar campeonatos cariocas e paulistas da modalidade.
Passado seu período de atleta, Ederson começou a ensinar o estilo de arte marcial. Após se interessar em trabalhar na UFRRJ, ingressou na Universidade via concurso público e começou a lecionar as aulas em uma recém-criada escola de Taekwondo no câmpus Seropédica, em 1991. A oficina só foi oficializada no quadro de atividades do CAC em 2003.
Há mais de 30 anos prestando serviço à Rural, Ederson celebra o aprendizado difundido aos alunos da UFRRJ, comunidade de Seropédica e até à população externa.
– Um dos pilares da educação é justamente a extensão, e é o que nós fazemos. O que nos deixa felizes, é que nós não atendemos somente os alunos da universidade, mas sim toda a comunidade, não só de Seropédica, mas as pessoas vêm do entorno também – disse o professor.
Por mais eufórico e empolgado que esteja com os resultados favoráveis na seletiva estadual, Ederson ressalta as dificuldades enfrentadas pelo grupo dentro e fora do tatame. A principal reivindicação feita pelo mestre é em relação aos investimentos e apoio destinados não só a sua oficina, mas às outras atividades do CAC, por parte da direção da Universidade.
– Infelizmente, nós não temos o apoio que gostaríamos, que eles merecem. Eu sou apenas um técnico, mas são eles que lutam. Não temos infraestrutura e nem uma bolsa atleta para ajudar. Isso aí tudo eles tiram do bolso, competição eles que pagam, taxa eles que pagam, uniforme eles têm que comprar, equipamento de proteção tem que comprar, tudo é do bolso deles. Só aparecemos quando conquistamos as coisas, mas até chegar lá é difícil – comentou Ederson.
Porém, com a histórica classificação para o Campeonato Brasileiro, o mestre e seus pupilos espelham uma mudança de patamar, com os holofotes da conquista.
– A partir desse momento, que nós estamos tendo essa visibilidade, acredito que iremos conseguir conquistar muitas coisas agora: projetos, patrocínios. Eu tenho essa esperança – completou ele.
Rumo ao brasileiro: desafios e expectativas
Com o resultado expressivo na seletiva, os alunos e o treinador vivem a expectativa de representar o estado no Campeonato Brasileiro, um evento de grande importância. Entre a ansiedade e o nervosismo, os atletas ruralinos demonstram estar preparados para o próximo desafio.
– A gente evoluiu muito com essa primeira experiência. Então, acho que nós aprendemos rápido, de certa forma. Eu acho que vai ser totalmente diferente. A gente vai chegar mais maduro, com certeza. E talvez até encarar melhor depois desse primeiro contato na seletiva – disse Luiz Felipe da Silva, de 24 anos, que integra o grupo que vai participar da competição nacional.
Já o mestre Ederson Pereira busca motivar os atletas para o próximo capítulo realçando a capacidade do grupo.
– Eu tenho uma metodologia de ensino que é a seguinte: eu não boto ninguém na parede. Eu falo para eles fazerem o dia a dia, comer arroz e feijão e viver isso aqui. Então eles vão para lá, sem a responsabilidade nos ombros de ser campeão. Porém, uma coisa é você ir sem essa cobrança. A gente vê que no alto rendimento ou você dá resultado ou alguém que está na segunda linha vai assumir o seu lugar. Aqui não tem isso, todo mundo vai, todo mundo é capaz – afirmou.
Enquanto aguardam a definição do campeonato, os atletas seguem treinando intensamente no CAC, com o apoio da comunidade acadêmica e da população local. A conquista destaca não apenas o talento esportivo dos participantes, mas também a importância de projetos sociais que oferecem oportunidades e mudam vidas.
Texto: Caio Oliveira e Pedro Florencio (Estudantes de Jornalismo sob a supervisão da professora Cristiane Venancio)
Fotos – Comunicação Proext
Professora adjunta do curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFRRJ há 13 anos. Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal) e mestre em Estratégia e Gestão pela UFRRJ. Foi repórter e editora da agência O Globo e do jornal Extra.
Deixe a sua opinião sobre o post