Problema da água no Rio requer soluções de longo prazo
30 de janeiro de 2020

Especialistas divergem sobre uso de argila para limpeza de lagoa

A Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) iniciou ontem (29) o uso de argila ionicamente modificada na lagoa próxima à captação da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu para evitar a proliferação da alga que produz a substância geosmina que altera o gosto e o cheiro da água distribuída a grande parte da população da região metropolitana do Rio de Janeiro. Especialistas entrevistados pela Agência Brasil avaliam, entretanto, que, apesar da necessidade de medidas de curto prazo para enfrentar a situação crítica, o governo tem que investir no saneamento de forma integral para resolver o problema.

A professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Iene Christie Figueiredo destacou que a utilização do carvão ativado para reter a geosmina, que começou na semana passada, e a aplicação da argila são medidas “próprias, mas puramente mitigatórias”.

Adapt Link Internet - Black Friday

“São medidas adequadas para minimizar um problema real. Essas medidas vão precisar ser postas em operação toda vez que tiver esses grandes eventos. Portanto, se a gente não resolve o problema, a gente vai ter que utilizar essas medidas com muita frequência. E a gente está convivendo hoje com um passado de descaso”, disse a especialista em saneamento ambiental.

Para ela, não há problemas no uso do carvão ativado e da argila. “Pelo contrário, a comunidade científica tem largos estudos sobre o uso dessas duas substâncias. Existe tecnologia, existem empresas capazes de fornecer equipamentos. Então, a gente não está falando de um experimento. A gente está falando de soluções que são adequadas em casos semelhantes em outros lugares do mundo. Não tem nada de irresponsável. Irresponsável é não cuidar do nosso manancial.”

De acordo com a professora, a população vai conviver com a iminência de um colapso no sistema de abastecimento de água do país se não for feito o esgotamento sanitário com o devido tratamento, a drenagem urbana e o manejo dos resíduos sólidos.

Já o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) Gandhi Giordano avalia que para enfrentar o problema no curto prazo é preciso fazer a limpeza de forma criteriosa do reservatório de Guandu e a dragagem dos rios que desembocam na lagoa próxima à captação e estão poluídos, carregados de esgoto e poluentes.

No médio e longo prazos, segundo o professor, o caminho é fazer obras de transposição dos rios poluídos ou mudança de captação do Guandu. Além disso, é preciso fazer a implantação de sistemas de tratamento de esgoto.

O especialista criticou, entretanto, o emprego da argila. Segundo ele, a lagoa tem grande extensão o que obriga que o produto tenha que ser aplicado em larga escala. “Não é um ambiente pequeno e fechado. É um ambiente aberto com entrada e saída de rios, tem ação de ventos. Tem muita interferência para que possam fazer o controle. É de alto risco também ficar colocando produto químico em reservatório porque pode provocar floração de outras algas que podem causar mais danos do que essa [geosmina]. Acho que eles estão no caminho errado.”

Cedae

Em nota, a Cedae disse que a argila não disponibiliza o fósforo, nutriente necessário para o crescimento de algas. O objetivo é impedir a proliferação excessiva de algas que possam interferir no tratamento da água captada no manancial.

“A argila já é utilizada no Rio Grande do Sul e na Bahia e foi usada no lago Serpentine, em Londres, e no lago Strathclyde, na Escócia. O produto possui registro junto ao Ibama; certificados internacionais para águas de abastecimento como o NSF/ANSI 60 (International Standard for Drinking Water Additives); e foi licenciado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) após apresentação de documentos que comprovam sua eficácia e segurança ambiental”, diz a nota.

A companhia informou que enviou no dia 14 de janeiro ao Inea pedido de autorização para utilizar a argila, aprovado pelo órgão no dia 23. Serão realizadas inicialmente três aplicações de teste, monitoradas por técnicos da Cedae, do instituto e da empresa fornecedora do material. O produto será aplicado por meio de embarcação equipada com sistema para dispersão homogênea sobre a superfície da água.

Fonte: Agência Brasil