Uma operação deflagrada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agronegócios de Seropédica, com apoio da Polícia Militar e de órgãos de fiscalização tributária e da Ordem Pública, realizada na manhã de ontem, flagrou uma série de irregularidades e práticas de crime ambiental no transporte de resíduos feito por carretas para o lixão da cidade, que é administrado pela Ciclus, empresa responsável pela Central de Tratamento de Resíduos instalada na cidade.
Diariamente, o CTR Rio recebe cerca de 10 mil toneladas de resíduos coletados em Seropédica, Itaguaí e Rio de Janeiro.
Segundo o secretário de Meio Ambiente Eleandro Valverde, o objetivo da operação era fiscalizar os resíduos que estavam sendo destinados ao aterro; fiscalizar os veículos que realizam o transporte de resíduos. No âmbito do município, afim de verificar se estão instalados os equipamentos compatíveis com o tipo de resíduo que esteja transportando; observar se as empresas transportadoras possuem a devida licença ambiental e se os veículos estão cadastrados nos programas de autocontrole de fumaça preta e; finalmente, fiscalizar a questão do pagamento de tributos e taxas dos resíduos recebidos no aterro.
O secretário explicou que é uma prática ilegal que vem se tornando comum, e que a empresa transportadora licencia junto ao INEA e outros órgãos competentes uma quantidade mínima de veículos para realizar o transporte, e realiza o trabalho através de terceirização, utilizando a mesma licença. “ A empresa obtém autorização para usar, por exemplo, cinco caminhões e chega a utilizar cinquenta. Ou seja, dez vezes mais” explicou Eleandro.
A operação realizada ontem, que chegou a parar o trânsito no Arco Metropolitano, constatou irregularidades em 90% dos caminhões e carretas que foram paralisados. O principal e mais frequente deles era o vazamento de chorume, em razão das condições indevidas de transporte, espalhando sujeira, doenças e um forte odor por toda cidade.
O chorume é uma substância líquida que resulta do processo de apodrecimento de materiais orgânicos e é muito encontrado em lixões e aterros sanitários. Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição causada por um litro de chorume equivale a 100 litros de esgoto doméstico.
O subsecretário de Meio Ambiente Antonio Pedregal apontou os caminhões vazando chorume e outros detritos e garantiu que a prefeitura realizará novas operações afim de coibir a realização de transporte de resíduo de forma irregular. “Diante dos graves prejuízos que o derramamento de chorume por caminhões de lixo tem provocado no solo em nossa cidade, vamos endurecer em ações que visam punir os responsáveis por este problema.” declarou Pedregal.
Pedregal explica que os caminhões de lixo possuem um local de armazenamento dentro do veículo para que o chorume seja depositado. Mas, sem a manutenção adequada, o líquido começa a vazar para as ruas.
“O sistema tem que ter a manutenção constante. Tem uma válvula de retenção nesse tanque”, afirma.
Ciclus já foi multada por vazar chorume em córrego
A empresa que deveria fiscalizar o transporte deste resíduo e evitar problemas como o derramamento de chorume nas estradas, vem desde que assumiu o lixão representando um problema para a população. Em outra ocasião, a Ciclus, empresa responsável pelo Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica, foi multada pelo Inea em R$ 5,7 milhões por vazamento de chorume, líquido que sai do lixo, para um córrego e para o reservatório subterrâneo de água.
A ação realizada pela prefeitura não contou com a boa vontade da empresa, que durante o tempo de permanência de nossa equipe no local chegou a impedir o acesso de fiscais da prefeitura no interior do lixão, para acompanhar o despejo dos resíduos.
Segundo o secretário Eleandro, as empresas e responsáveis serão devidamente autuados das irregularidades encontradas na fiscalização.
A Secretaria de Meio Ambiente e Agronegócios de Seropédica também pretende enviar um relatório detalhado ao INEA solicitando providências e punições aos responsáveis.
CTR da Ciclus recebe os resíduos dos municípios de Seropédica, Itaguaí e do Rio de Janeiro. O projeto da CTR conta com: aterro sanitário bioenergético, estação de tratamento de chorume para transformação em água de reuso, unidades de beneficiamento de entulho da construção civil e de podas de árvores, viveiros de mudas de espécies nativas da Mata Atlântica, laboratórios e Centro de Educação Ambiental.
Graves problemas para saúde da população
O aumento no número de casos de doenças respiratórias constatado por moradores da cidade de Seropédica e em Itaguaí, desde a implantação de um aterro sanitário gerido pela empresa Ciclus, não é mera coincidência, segundo especialistas. Os efeitos sobre a saúde pública serão sentidos em médio e longo prazos, com danos muitas vezes irreparáveis. “É uma bomba relógio. O chorume tem por característica carregar metais pesados, que são absorvidos pelo organismo humano e não são eliminados, em um processo chamado de bioacumulação. Isso pode causar danos a longo prazo à saúde humana” comentou Cícero Pimenteira, doutor em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em matéria publicada pela Agencia Brasil.
A iniciativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente é extremante benéfica para a população. Segundo o subsecretario Antonio Pedregal, a poluição tende a se espalhar por toda a região “É preciso levar em consideração que o material que vaza desses caminhões, ao passarem em frente das casas, caindo sobre o asfalto e o barro, provocam a evaporação deste chorume , que tem outros metais e inclusive amônia” disse muito preocupado.
Fonte: Jornal O POVO
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