A Polícia Civil investiga a participação de funcionários de terminal de cargas do Aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, no roubo milionário de celulares. Criminosos invadiram o local e levaram uma carga de celulares avaliada em US$ 1 milhão — cerca de R$ 3,4 milhões. Toda a ação, que aconteceu por volta das 21h30m do último domingo, foi registrada por câmeras de segurança: os assaltantes, que usavam bonés para esconder o rosto, estavam armados e renderam os funcionários. A polícia já sabe que o bando, especializado em roubos de cargas que chega pelo aeroporto, é do Complexo da Maré e tem, entre seus integrantes, funcionários do terminal.
Desde março, os criminosos já haviam tentado roubar duas cargas que saíram do aeroporto. Na semana passada, conseguiram levar R$ 2 milhões em celulares da Apple. Já no dia 14 de março, o crime foi frustrado pela Polícia Rodoviária Federal, que deteve dois homens que perseguiam um caminhão com celulares na Rodovia Presidente Dutra. No celular de um dos presos, os agentes encontraram fotos da placa do caminhão e da nota fiscal do produto enviadas por WhatsApp.
A ação de domingo foi a primeira em que o bando entrou no terminal. Os aparelhos levados nem chegaram às lojas do estado: são do modelo Samsung S9, que custam aproximadamente R$ 3,8 mil cada. Os celulares tinham rastreadores que apontaram o destino exato da quadrilha após o roubo: a Favela Nova Holanda, na Maré, na Zona Norte.
O diretor de Segurança do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga), coronel Venâncio Moura, afirmou que o 22º BPM (Maré), responsável pelo policiamento na comunidade, foi acionado mas não foi ao local.
— A PM alegou que não tinha recursos para ir à favela. A DRFC também está sem blindados — afirmou.
A PM informou que só foi comunicada do roubo na segunda-feira e que, por isso, avaliou que a chamada não era uma emergência. Além disso, destacou que ações noturnas demandam “planejamento prévio”.
Delegacia monitora anúncios
A polícia vem monitorando as atividades de suspeitos de revenderem pela internet dos celulares roubados. Agentes da DRFC analisam perfis no Facebook de moradores da Baixada Fluminense e da Nova Holanda para onde os produtos foram levados após o crime. Num dos anúncios que é investigado pela polícia, um homem, morador da Nova Holanda, divulga num grupo de venda de celulares em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, diversos celulares Samsung S9, que ainda não é vendido no Brasil. A postagem tem 17 embalagens de aparelhos: “Vendo celulares. Vem que vem”, diz o texto.
Caso sejam identificados, e a procedência dos telefones fique confirmada, esses usuários podem ser indiciados pelo crime de receptação. Além dos celulares, foram roubados, na ocasião, três televisões de LED, câmeras digitais e medicamentos.
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), março deste ano, já com a intervenção federal em curso na segurança do estado, registrou o maior número de roubos de carga de toda a série histórica, iniciada em 1991. Embora a comparação com 2017 não seja recomendada, por conta de uma greve que acontecia na Polícia Civil à época, gerando subnotificação de diversos crimes, o aumento diante de março de 2016, por exemplo, é de 44,2% — um salto de 636 para 917 crimes.
Considerando todo o primeiro trimestre, o estado do Rio já foi palco de 2.636 roubos de carga. É como se um veículo de transportadora virasse alvo dos criminosos a cada hora, aproximadamente.