Achou estranho esse mugido logo no começo de uma matéria sobre vacina? Pois saiba que as vacas e a vacinação têm uma relação bem estreita, que remonta ao ano de 1796. Foi quando o inglês Edward Jenner observou que ordenhadeiras de vaca que contraíam varíola animal pareciam imunes à forma humana da doença. Então, ele teve uma ideia: coletou um pouco de secreção das feridas de uma mulher com varíola bovina, e injetou em um menino saudável. O menino adoeceu, mas se curou rapidamente. Em seguida, Jenner injetou no menino a secreção de uma pessoa com varíola humana. Apesar do método condenável, já que ele usou uma criança como cobaia, sob risco de contaminá-la com uma doença mortal, o menino não contraiu a varíola, pois tinha sido imunizado pelo vírus bovino.
A palavra vacina, aliás, deriva do termo em Latim vaccinae, que significa justamente “da vaca”.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, explica que o princípio das vacinas se mantém o mesmo, até para as versões mais modernas
“Simular o nosso sistema imunológico para produzir as cepas de defesa contra um micro-organismo qualquer, sem que isso cause doença na pessoa, ou seja, nós enganamos nosso sistema imune, apresentamos a ele algo que se pareça com agente causador da doença, para quando nós encontrarmos de fato esse vírus, essas bactérias na vida real, nós já estejamos com uma resposta imune, pronta para se defender e não adoecer e, quando adoecer eventualmente, adoecer de forma mais leve.”
No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, diversos avanços contribuíram para a produção de vacinas cada vez mais seguras, eficazes e possíveis de serem produzidas em larga escala. E de acordo com o doutor Kfouri, a evolução continuou de maneira constante.
“As vacinas originalmente foram desenvolvidas com micro-organismos ativos e enfraquecidos, atenuados, a ponto de não causar doença e estimular nossa resposta. Depois vieram outras tecnologias, utilizando fragmentos desses vírus ou bactérias inativados ou mortos, às vezes a própria bactéria inteira inativada, depois vieram as novas tecnologias, utilizando a engenharia genética, engenharia recombinante.”
Esse acúmulo de mais de 200 anos de pesquisas, somado ao esforços globais e facilitado pelas inovações tecnológicas é que permitiu que as vacinas contra o coronavírus fossem criadas e produzidas em tempo recorde. Menos de nove meses depois que a OMS decretou a pandemia de covid-19, as primeiras doses já estavam sendo aplicadas na Inglaterra. E uma delas, a da Pfizer, trouxe uma inovação revolucionária: a plataforma do RNA mensageiro. Kfouri ressalta que a descoberta é promissora pela sua flexibilidade.
“Para diversas outras doenças, não só as doenças infecciosas, mas hoje se fala de desenvolvimento de vacinas para câncer, para tratamento de doenças cerebrovasculares, cardíacas, a produção de uma proteína num ambiente extremamente seguro, já que essa vacina sintética não utiliza micro-organismos vivos, consequentemente a biosegurança, a logística de produção pode revolucionar todas as vacinas que a gente já conhece.”
É consenso entre os especialistas de todo o mundo que elas foram o fator de maior impacto na saúde humana na história recente. Um grande exemplo do poder delas é a erradicação da varíola. Há indícios de que a doença existia desde o Egito Antigo, causando surtos mortais que mataram cerca de 300 milhões de pessoas apenas no século XX. Graças à vacinação em massa, desde os anos 80 o vírus não circula mais em nenhum lugar do mundo. Uma curiosidade: a música que embala esta reportagem é Naquele Tempo, de Pixinguinha. Ele foi infectado por varíola na infância e recebeu o apelido de Bexiguinha, por causa das cicatrizes deixadas pelas feridas que a doença causa, já que muitos apelidavam a varíola de bexiga. Se tivesse nascido em anos mais recentes, certamente o rei do Choro seria conhecido por outro nome.
Especial PNI 50 anos
A Radioagência Nacional publica o Especial PNI 50 anos, em comemoração ao cinquentenário do Programa Nacional de Imunizações. Essa é a sexta reportagem da série.
Fonte: Agência Brasil
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