Carolina Ferreira explica que Notre-Dame — que reabriu no sábado, após cinco anos fechada para reformas por conta do incêndio — reúne em seu acervo os mais variados tipos de arte
Em 1961, Paracambi se emancipou na Baixada Fluminense. Naquele mesmo ano, no coração de Paris, na França, a Catedral de Notre Dame completava 615 anos de inauguração. Separadas por 9 mil quilômetros, a igreja francesa e o município fluminense têm pouco em comum, a exceção de Carolina Ferreira, museóloga nascida em Paracambi e que ajudou a reconstruir um dos símbolos da França.
Paracambiense com orgulho, ela estudou no campus de Paracambi do Instituto Federal do Rio de Janeiro e depois cursou museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Logo depois, Carolina se mudou para fazer seu mestrado na França e ao terminar mais essa etapa dos estudos se candidatou para trabalhar na recuperação da Notre-Dame, que foi parcialmente destruída em um incêndio em 2019.
— Eu tenho muito orgulho de ser de uma cidade da Baixada Fluminense. Paracambi é uma cidade que tem um patrimônio histórico muito forte, apesar de ser pequena. Esse foi um dos fatores que me levou a querer estudar nessa área. Além disso a museologia brasileira é muito respeitada aqui fora — diz ela.
A museóloga então se tornou gerente de acervos da Catedral de Notre-Dame de Paris na Direção Regional dos Assuntos Culturais do Ministério da Cultura. O nome de seu cargo é igualmente proporcional à sua responsabilidade: é dela a responsabilidade de cuidar da preservação das relíquias da catedral, como as esculturas, e pinturas. Uma delas era a túnica de São Luis, um dos símbolos da monarquia francesa: manto usado por um dos reis mais famosos do país.
— Felizmente, todos esses objetos sobreviveram a um incêndio e passaram esses cinco anos de obras em locais secretos. E eram mesmo secretos. Por causa do trabalho, a gente tirava diversas fotos que queria mostrar pra todo mundo, mas não podíamos falar para ninguém. Várias vezes enquanto eu trabalhava lá dentro me beliscava para saber se era mesmo verdade — conta Carolina.
Carolina explica que Notre-Dame — que reabriu no sábado, após cinco anos fechada para reformas por conta do incêndio — reúne em seu acervo os mais variados tipos de arte. Desde pequenas esculturas a quadros de quatro metros de altura. E para recolocar pinturas tão grandes, foi necessária uma operação especial, que envolveu a ajuda de dez pessoas. As obras só foram penduradas após uma equipe de engenheiros calcular se o local destinado a elas era mesmo adequado para suportar o peso e qual sistema de fixação é o melhor para cada obra de arte.
Durante os meses de trabalho, Carolina guarda com carinho um em especial: o retorno da estátua de Virgem Maria e o menino Jesus, um dos maiores símbolos de resistência ao incêndio.
— Ela se tornou um marco dessa reconstrução, porque ficava exatamente onde caiu a estrutura de madeira que queimou durante o incêndio. Mesmo frágil, ela ficou intacta e sem nenhum arranhão. Retornar ela para seu lugar foi muito especial, como se estivéssemos fechando um ciclo de restauração e começando uma nova vida da Catedral.
Antes de reabertura, catedral de Notre Dame é iluminada
Retomada do Museu Nacional
Um ano antes do incêndio de Notre-Dame, o Brasil viveu um episódio parecido, porém, mais grave. O Museu Nacional, que fica na Quinta da Boa Vista, no Rio, queimou e o fogo destruiu centenas de obras do acervo. Apesar do incêndio ter ocorrido meses antes, as obras do Museu Nacional ainda não acabaram. Carolina diz torcer pelo rápido retorno da instituição e conta que no caso da Catedral, o que auxiliou a recuperação mais rápida foram as doações massivas:
— O Museu Nacional também necessita da doação de objetos e novas obras para integrar o novo acervo. E felizmente diversas outras instituições ao redor do mundo tem se mobilizado doando e cedendo essas obras — conta ela.
Fonte: O GLOBO
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