Origem dos Templários Por: Padre Paulo Ricardo
24 de março de 2019

Em 1120, um grupo de cavaleiros decidido a levar uma vida de oração e pobreza radical apresentou-se ao rei e ao patriarca do Oriente para cumprir uma missão: defender a Terra Santa e os peregrinos cristãos dos árabes muçulmanos.

Nesta aula de nosso curso sobre os Templários, saiba como surgiu a famosa Ordem dos Cavaleiros do Templo e adentre, já nesta aula introdutória, os mistérios que rondam a sua fundação.

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A origem dos Templários só pode ser entendida a partir da história das Cruzadas – as investidas militares realizadas para salvar o Oriente, em especial os Lugares Santos, das mãos dos muçulmanos. Tudo começou com o Concílio de Clermont, em 1095, quando o Papa Urbano II convocou a cristandade à retomada de Jerusalém. O empreendimento foi um sucesso, mas, ao invés de devolver o território de Outremer (“Ultramar”) ao Império Bizantino, os cruzados – que se consideravam traídos pelo Imperador Aleixo – fundaram para si o Condado de Edessa (1095), o Principado de Antioquia (1098), o Condado de Trípoli (1102) e, principalmente, o Reino de Jerusalém, em 1099. Toda a faixa do mar do chamado Crescente Fértil ficou sob domínio latino.

O fato é que esses territórios impediam a comunicação entre os povos muçulmanos: os turcos otomanos, ao norte, o Califado de Bagdá, na Arábia, e o Califado Fatímida, no Egito. A princípio, como não havia fortes alianças entre eles, isso não representou um perigo eminente aos territórios latinos. No entanto, os constantes assaltos sofridos por peregrinos no caminho da Terra Santa indignavam os cristãos do Ocidente. Em um episódio que ganhou grande repercussão na época, 300 peregrinos, em sua maior parte de origem germânica, foram brutalmente assassinados, enquanto se aproximavam de Jericó, às margens do Rio Jordão.

Em 1120, em resposta ao pedido de ajuda do Rei Balduíno II de Jerusalém, um grupo de cavaleiros, disposto a uma vida de sacrifícios, se ofereceu para proteger os cristãos na Terra Santa. Os Pauperes commilitones Christi (“Pobres Cavaleiros de Cristo”), como eram chamados, encarnavam duas realidades aparentemente contraditórias: a vida militar, com suas batalhas e desafios físicos, e a vida religiosa, com suas austeridades e muitas orações. Hugo de Payens (ou Payns, como preferem os franceses de hoje), seu primeiro líder, viveu com os primeiros cavaleiros uma vida de extrema pobreza. Por concessão de Balduíno, passaram a morar na Mesquita de Al-Aqsa, onde fora construído o Templo de Jerusalém.

Dos primeiros anos de sua fundação, porém, é preciso ser honesto e reconhecer que muito pouco se sabe. Teorias mirabolantes, que associam os Templários a um “arquivo secreto”, com uma “sabedoria escondida” no antigo Templo de Salomão, não passam, pois, de invenções fantasiosas de grupos gnósticos e esotéricos. Não se tem notícia dos primórdios da Ordem justamente porque, durante os seus dez primeiros anos, os Templários não fizeram nada de extraordinário.

Foi só a partir da ação e pregação de São Bernardo de Claraval que a Ordem começou a ganhar força e prestígio. Não se pode ignorar a grande influência que este doutor exerceu na Igreja medieval. Suas pregações reuniam multidões e o abade era aclamado como santo ainda em vida. Convencido por Hugo de Payens da importância dos cavaleiros de Cristo, Bernardo apresentou a causa dos Templários ao Papa Honório II, que, no Concílio de Troyes, em 1129, aprovou oficialmente a Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominici (“Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”).

Em seu escrito De Laude Novae Militiae, Bernardo ainda colocou os fundamentos espirituais da Ordem. Além de ressaltar a vocação específica a que foram chamados os cavaleiros do Templo, mostrou teologicamente que as funções do guerreiro e do religioso não são incompatíveis: enquanto este luta espiritualmente contra os seus vícios internos, aquele trava uma guerra externa contra os inimigos de Cristo.

Então, a Ordem começou a receber numerosas doações e vários combatentes – em grande parte nobres, já que o aparato militar era de alto custo – passaram a integrar as suas fileiras. Embora algumas pessoas não aceitassem os Templários, eles foram um grande sucesso, já que a sociedade da Idade Média, assiduamente religiosa, dava grande incentivo – moral e material – à ação de proteção e defesa dos Lugares Santos.

O primeiro selo da Ordem dos Templários traz a imagem de dois cavaleiros sentados no mesmo cavalo. Muito se especula acerca do significado dessa figura. Já foi dito que fazia uma referência à pobreza dos cavaleiros, que, não tendo animais suficientes, tinham que partilhar o mesmo cavalo. Até a acusações de homossexualismo este símbolo foi associado. Porém, para a historiadora Barbara Frale, que trabalha no Arquivo Secreto do Vaticano, o selo alude às personagens Rolando e Olivier, do famoso poema épico La Chanson de Roland (“A Canção de Rolando”). Na história, Rolando – parente de Carlos Magno – e Olivier partem para combater os sarracenos na Península Ibérica. Os dois são um misto de coragem e prudência, bravura e sabedoria – virtudes necessárias para um bom cavaleiro templário. Ao mesmo tempo, suas características se encaixam precisamente no programa de São Bernardo para a Ordem: a ousadia e o destemor de Roland e a capacidade de Olivier de controlar as próprias paixões.

Na verdade, a história mostra que, desde o começo, os Templários precisarão se dividir: os mais sábios e prudentes ficarão na Europa, cuidando da parte “técnica” e “burocrática” da Ordem – arrecadar víveres e fundos, manter uma relação diplomática com os reis etc. –, enquanto os corajosos e fisicamente aptos partirão ao Oriente.

Com o tempo, a Ordem crescerá a ponto de sobrepujar o próprio poder real. De fato, nos séculos XII e XIII, com os Estados nacionais ainda em formação, os príncipes tinham certa liderança, mas dependiam muito de seus vassalos. Além disso, com o voto de pobreza que faziam os cavaleiros templários, as arrecadações e depósitos recebidos pela Ordem ficavam tão somente para a instituição, que passava a administrar tesouros maiores que os dos reis.

Bibliografia

  • Alain Demurger, _Vie et mort de l’ordre du Temple_, Éditions du Seuil, 1985, 431p.
  • Alain Demurger, Os Templários: uma Cavalaria Cristã na Idade Média, Difel, 2007, 686p. (Les Templiers, une chevalerie chrétienne au Moyen Âge, Seuil, 2005, 664 p.)
  • Alain Demurger, Os cavaleiros de Cristo. Templários, Teutônicos, Hospitalários e outras ordens militares da Idade Média, Jorge Zahar Editor, 2002, 351p.
  • Malcolm Barber, The New Knighthood: A History of the Order of the Temple, Cambridge University Press, 1994, 466p.
  • Peter Partner, Assassinato dos magos. Os Templários e seus mitos, Campus, 1991, 216p. (Murdered Magicians: The Templars and Their Myths, Oxford University Press, 1982, 209p.).
  • Piers Paul Read, Os Templários. A história dramática dos cavaleiros templários, a mais poderosa ordem militar dos cruzados. Imago, 2001, 366p.
  • Régine Pernoud, Os Templários. Publicações Europa-América, (Edição Francesa de 1974), 166p.
  • Barbara Frale, Os Templários, Edições 70, 2011, 176p.
  • Barbara Frale, Os Templários e o sudário de Cristo, Edições 70, 197p.

https://youtu.be/_9mwyzxVpWg