No intervalo de uma semana, duas pessoas se afogaram no Rio Guandu, na localidade da Prainha, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Depois do menino Guilherme Mendes de Souza, de 10 anos, cujo corpo foi encontrado no último dia 9, o bombeiro Sebastião Nunes, de 57 anos, também desapareceu após mergulhar no rio, no Km 34, no último dia 13 — o corpo dele foi localizado neste domingo (20) e reconhecido pela família. O corpo de um homem também foi encontrado no rio, na quinta-feira. Para tentar frear esses afogamentos, mulheres do bairro Lagoinha decidiram fazer o trabalho de orientação, deixado de lado pelo poder público.
O grupo Mulheres da Lagoinha se organizou e espalhou placas de orientação nos dois pontos onde as pessoas costumam se banhar. Com frases como “Cuidado com a correnteza”, “Risco de afogamento” e “Atenção com crianças”, as sinalizações são um alerta para moradores que encontram no Guandu a única opção de lazer da região.
Falta assistência por parte dos governantes, que poderiam cuidar desse espaço tão rico. Colocamos placas para preservar a vida. Precisamos de uma guarda ambiental. O ideal seria fazer um piscinão nesse trecho para que as crianças não fossem para o lado da correnteza — ressaltou a cuidadora Aida Hermínio dos Santos, de 61 anos.
A iniciativa foi aprovada pela bombeira militar Maria das Neves Nunes, de 55 anos, irmã de Sebastião:
— Achei excelente o movimento e acredito surtirá efeito. É preciso que as pessoas tenham consciência de vir, mas não deixar os filhos sozinhos no rio. Se cair na correnteza, já era.
Além das placas espalhadas nos quilômetros 34 e 37, o grupo está fazendo uma petição para entregar à prefeitura cobrando fiscalização no local.
A distribuição das placas nas margens do Rio Guandu foi mais uma das ações do grupo Mulheres de Guandu, que já realiza atividades com moradoras da região, como explica Aida.
— A gente se uniu para ajudar mulheres com projeto de sustentabilidade, geração de renda para a comunidade. Estamos criando espaços de acolhimento para essas mulheres. Muitas estão desempregadas, sofrem com depressão, violência doméstica — afirma.
A proposta do grupo é oferecer apoio jurídico, psicológico, aulas de artesanato para geração de renda e promover rodas de conversas. A professora Daniela Martins, de 39 anos, ressaltou o potencial da região:
— Essa é uma região invisível, mas com um potencial inestimável em relação a turismo, artesanato e biodiversidade. É tudo muito rico, mas a população fica desassistida.
A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que as secretarias municipais de Defesa Civil e de Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo (Semadetur) irão trabalhar, em parceria, na confecção de placas de aviso sobre os riscos do banho no rio. Ressaltou que também será produzido material informativo para distribuição nos locais mais procurados pelos banhistas. A prefeitura disse ainda que irá solicitar, até esta segunda-feira, ao Inea, responsável direto pela gestão do Rio Guandu, e ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro – Defesa Civil Estadual, que sejam feitas fiscalizações no local.
O Corpo de Bombeiros disse que os guarda-vidas da corporação atuam nas praias do estado. Antes de se aventurar, os moradores devem se atentar às orientações de órgãos oficiais. Entre as recomendações do Corpo de Bombeiros sobre banhos em rios e cachoeiras, estão: procurar locais pertencentes a parques ou reservas que ofereçam sinalização e serviço de prevenção; não tomar banho em cachoeiras isoladas e desconhecidas sem a supervisão de um grupo especializado de pessoas que possam conduzir aos locais de banho e dar socorro em caso de afogamentos; jamais pular de pedras altas confiando na profundidade da água; e nunca se colocar em local de correnteza forte.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão ligado à Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (Seas), informou que não recebeu solicitação das prefeituras para fiscalização na localidade Prainha, no Rio Guandu. Explicou que é responsável pelo monitoramento da qualidade da água bruta do rio para fins de abastecimento, não sendo avaliada a questão da balneabilidade no corpo hídrico.
Fonte: Jornal Extra
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