No último dia 15 de março, parte do Jardim Botânico da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (JB-UFRRJ) pegou fogo. Entre os incêndios registrados pela equipe do JB, este foi o maior.

Panorâmica da área queimada (mais escura na imagem). Na parte de cima, está o Lago do Instituto de Agronomia (1). Um pouco abaixo, o lago do JB (2). Mais à direita, o P1 (3). Imagem: Gabriel Luciano de Almeida.
O incêndio ocorreu durante a tarde do dia 15, um sábado. Portanto, com exceção da guarda, não havia pessoas no local. Os moradores dos Próprios Nacionais Residenciais (PNRs), casas próximas ao Jardim, foram os primeiros a perceber o fogo. Avisado por telefone, Gustavo Wyse Abaurre, engenheiro florestal do JB, acionou a equipe de vigilância do pórtico, que chamou o corpo de bombeiros.
No entanto, os bombeiros não conseguiram impedir que o fogo tomasse grandes proporções. Foi necessário sair da área para reabastecer o caminhão com água. “Voltou já muito tarde. Chegou a apagar o fogo, mas já tinha tomado conta de boa parte da vegetação”, contou Marcelo Souza, coordenador do Jardim Botânico.
Após o ocorrido, o engenheiro florestal começou a elaboração de um relatório para identificar os danos, além de apontar possíveis causas do incêndio. Ele realiza esse monitoramento desde 2019. “Nos anos anteriores também pegou fogo, mas eu não fazia esse mapeamento”, explicou.
A estimativa é de que cerca de cinco hectares de área do Jardim Botânico tenham sido queimados. Isso corresponde a quase 50 mil metros quadrados, mais de um terço da área total, e equivale a aproximadamente cinco campos de futebol. A efeito de comparação, o maior incêndio registrado no JB até então havia atingido pouco mais de dois hectares. A maioria não passou de um hectare.

Prevenção insuficiente
Apesar de serem comuns em períodos de seca, incêndios no JB diminuíram nos últimos anos. De 2015 para cá, ocorria um episódio de fogo por ano, mas houve duas exceções: 2022 e 2023. Em 2022, o atual coordenador iniciou uma medida de prevenção, que consiste no cercamento de todo o terreno do Jardim e na formação de aceiros (trilhas de terra livres de vegetação) próximos às cercas e em outros pontos do terreno. Mesmo com essa ação, voltou a pegar fogo em 2024.

Com o mato sempre roçado (capinado ou cortado) e os aceiros formados, o fogo tem dificuldade em passar de um lado para o outro e se alastrar. “No ano passado, estava tudo bem roçadinho na cerca e no aceiro, mas pegou fogo porque uma palmeira soltou uma folha seca que ficou agarrada na cerca, onde estava pegando fogo, e passou para a parte interna”, relatou Marcelo. Ele acredita que um agravante para o novo incêndio foi a precariedade na manutenção: “No verão e na chuva é quando o capim cresce mais, então tinha um volume de capim seco muito grande. Choveu no fim do ano passado e no começo deste, então o capim cresceu muito e a gente não deu conta de roçar tudo”.
Antes, a capina era feita pelos tratores, roçadeiras e equipamentos do próprio Jardim Botânico. Além disso, havia um número maior de jardineiros responsáveis por essas tarefas. No entanto, o JB não possui mais os equipamentos nem um corpo suficiente de trabalhadores, e depende de outros setores da UFRRJ para realizar essa limpeza. “Só tem um roçador e, nesse período do verão, onde nunca tivemos ocorrência de incêndio, a gente priorizou direcionar os serviços de roçada e limpeza para as áreas de maior movimentação de pessoas, no entorno do lago”, explicou Marcelo Souza.
Além dessas questões, as condições climáticas, especialmente o inesperado período de mais de 70 dias sem chuvas antes do incêndio, potencializam a propagação do fogo. Embora ainda não tenha ocorrido uma investigação sobre as queimadas que ocorrem no Jardim Botânico, existe a suspeita de ação humana. De acordo com Marcelo Souza, “é comprovado que o fogo não ocorre de forma espontânea, mas sim provocado por alguém”. Uma hipótese é a de que o fogo seja ateado para que, ao rebrotar, o capim volte a ter melhor valor nutritivo para animais.
Para o engenheiro Gustavo Abaurre, o “prejuízo direto” causado pelo incêndio ainda é difícil de mensurar. “Todas as árvores que a gente tinha ali queimaram. Algumas morrem, outras rebrotam. Ainda não temos mapeado o que perdemos, mas, por exemplo, havia espécies ameaçadas de extinção, como a Caixeta e o Tataré, que estão todas queimadas. O prejuízo direto foi baixo, mas tem o prejuízo indireto: poluição. Os animais pequenos que estão ali, morrem. Essa parte ambiental é prejudicada”, explica. “São coleções botânicas vivas. Para uma pessoa, pode ser ‘só uma árvore’, mas, às vezes, é uma espécie em extinção, tem valor agregado”, argumenta.



Próximos passos
O relatório sobre este episódio será entregue às instâncias superiores, mas o coordenador Marcelo Souza já entrou em contato com o reitor e com responsáveis pelos terrenos vizinhos para buscar uma solução para o problema.
Existia, antes mesmo do incêndio, um plano de criação de um grupo de extensão para conscientização e ação para prevenção de incêndios dentro e fora do Jardim Botânico: “A gente já estava com uma reunião marcada para organizar um grupo de extensão para ações relacionadas com a prevenção de fogo, especialmente na Universidade, mas tentando abranger também o município com programas de educação ambiental”, informa o coordenador do Jardim Botânico. “Nossa perspectiva é elaborar um evento relacionado à prevenção de incêndios aqui no Jardim Botânico e trazer a comunidade interna e a externa à Universidade para discutir a questão”, acrescentou.
Texto: Caio Azevedo – estudante de jornalismo, estagiário do Jardim Botânico
Supervisão: Alessandra de Carvalho, professora do curso de Jornalismo.
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