História dos Bondes do Rio de Janeiro
16 de novembro de 2019

Do final de julho até outubro deste ano, a prefeitura do Rio de Janeiro prometeu que o Bondinho de Santa Teresa estaria funcionando em caráter de testes. De fato, nas últimas semanas deu para ver o veículo fazendo seu tradicional percurso. Veículo este que nem sempre se resumiu a linha que sobe para o bairro de Santa Teresa e que tem muita história para ser contada.

Na metade do século XIX, os primeiros bondes eram impulsionados por tração animal. Burros de carga eram utilizados à frente do veículo, que, em média, tinha capacidade para 16 pessoas.

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Os primeiros bondes começaram a circular em 1859. A inauguração oficial deste veículo contou com a presença de D. Pedro II e sua esposa. Essa linha inaugural ligava o Largo do Rocio (atual Praça de Tiradentes) a um local perto da atual Usina, na Tijuca, num trajeto de 7 km de comprimento.

Bonde de Burro

No ano 1862, a primeira grande mudança. Mudança que não durou muito tempo. A força animal foi substituída pelo vapor, mas essa iniciativa não vingou. Três anos depois a companhia de bondes foi a falência e a tração animal voltou a servir de motor.

Uma nova companhia foi inaugurada, a The Botanical Garden Railroad Company. A primeira linha criada por eles foi uma que ia da esquina das ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias, no Centro, ao Largo do Machado, no Catete.

Os bondes eram tão populares que frequentemente foram citados por célebres artistas. O escritor Machado de Assis foi um deles. Machado falou dos bondes inúmeras vezes em seus livros e crônicas. Ele chegou até a escrever uma espécie de “guia” para os usuários desse meio de transporte

Prédio da Sala das Máquinas da Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico por Carlos Luis M C da Cruz

“Art. V – Dos amoladores: Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repelindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra” diz um dos tópicos do irônico texto do escritor.

“Em dois de julho de 1887, e acompanhando os progressos que tal sistema de transportes vem sentindo a nível mundial, efetuam-se até ao Largo dos Leões, a título experimental, duas viagens de bondes movidos à bateria – como os que haviam circulado em Niterói. E, em 1891 a pioneira linha entre o Centro e a Tijuca é prologada até ao Alto da Boavista; para o seu serviço, e porque não seria possível a utilização de mulas para tal trajeto, é construída pela companhia Estrada de ferro da Tijuca uma Usina Elétrica no local – o que vem a dar o nome ao lugar – a qual alimentaria de energia elétrica os bondes. Porém, as obras são suspensas e esta, que seria a primeira linha de bondes elétricos da América Latina, só vem a entrar ao serviço em 1898. Coube, então, à The Botanical Garden Railroad Company a honra de, em oito de outubro de 1892, fazer circular pela linha do Flamengo o primeiro bonde elétrico da América Latina” informa o site de pesquisa histórica Rio de Janeiro de Antigamente.

Contudo, os bondes elétricos não dominaram os trilhos do Rio de Janeiro imediatamente. Por muito tempo, os modernos veículos conviveram com os puxados por tração animal. Por exemplo, o Bondinho de Santa Tereza, criado em 1877, só foi eletrificado em 1896.

Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company bonde 363, 1947

Ainda há quem defenda que esse tipo de transporte poderia ser muito útil atualmente. O historiador Milton Teixeira destaca alguns dos pontos positivos de se ter bondinhos andando pelas ruas do Rio: “Era um transporte barato, não poluente, e existiam uma infinidade de linhas que cortavam todas as zonas da cidade: sul, norte, centro, oeste. Alguns bairros tinham várias linhas, você podia escolher qual te deixaria mais perto de casa” disse ele ao programa Conexão Jornalismo.

No entanto, os bondes que circulavam pela cidade do Rio de Janeiro nos anos 1960, eram veículos fabricados, no mínimo, três décadas antes. Depois da Segunda Guerra Mundial, Light, que fabricava os bondinhos, deixou de produzi-los, o que freou a evolução desse meio de transporte.

Estação Dom Pedro II, 1947

Em 1963, o então governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, comprou os bondes da cidade e decidiu que seria melhor parar com esse tipo de transporte, tirando praticamente todos os bondes de circulação. O de Santa Teresa ficou para contar história.

Em 1979, na Estação carioca, fundou-se o Museu do Bonde, ali permanecendo por quase 20 anos. Transferido para Santa Tereza, inaugurou-se uma nova fase do Museu. As instalações foram reconstruídas, modernizadas, e oferecem ao visitante mais de 300 peças que mostram a passagem dos bondes pela cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Diário do Rio