Para que uma das construções mais grandiosas do Rio de Janeiro ficasse pronta, foi precioso derrubar muitas outras edificações. O passado mostra que a evolução da Cidade Maravilhosa é marcada por demolições. No entanto, nunca antes na história carioca se derrubou tanto para que uma obra fosse concluída. Entre diversos outros fatos esse é o mais marcante da memória da Avenida Presidente Vargas.
Projetada no final dos anos 1930, durante a ditadura do Estado Novo, a Avenida ficou pronta em sete de setembro de 1944, três anos após o início das obras – tempo recorde para época. Não diferente de obras públicas atuais, essa também custou uma fortuna: cerca de 270 mil contos de réis.
Ao ver o desenho de uma grande via que propunha cortar o centro da cidade e liga-lo a zona norte, o então presidente da república, Getúlio Vargas, enxergou ali mais um projeto faraônico para seu governo. Entretanto, essa ideia já existia há tempos na cabeça de outro estadista do Brasil.
No século XIX, um trajeto até a ainda afastada e pouco habitada zona norte era percorrido por Dom João. O Caminho das Lanternas, aberto pelo arquiteto francês Gradjean de Montigny, era uma via que passava pelo Mangual de São Diogo (Canal do Mangue) e ia do Campo de Santana – que na época ainda era Campo da Aclamação – até a Quinta da Boa Vista.
O citado Canal do Mangue fora de extrema importância em meados dos anos 1800. Dom João desejava uma área navegável que ligasse o mar ao Rocio Pequeno, atual Praça Onze de Junho. A obra do Mangue ainda é considerada uma das maiores reformas de saneamento básico da história da cidade do Rio de Janeiro.
Para que a Avenida Presidente Vargas pudesse ter carros andando – um dos maiores desejos de Vargas, que incentivava o consumo de veículos automotores -, muitos prédios precisaram ser amputados. Mais de 500 construções foram derrubadas durante as obras, entre elas a antiga sede da prefeitura, partes da Praça Onze (onde aconteceram os primórdios dos desfiles de escolas de samba), um trecho do Campo de Santana, além de ruas inteiras, como a General Câmara, São Pedro, Visconde de Itaúna e Senador Eusébio.
Isso sem contar históricos templos religiosos. As igrejas do Bom Jesus do Calvário, de Nossa Senhora da Conceição, a Capela de São Domingos e a Igreja de São Pedro (construída por Mestre Valentim em meados dos anos 1700) foram demolidas. A Igreja da Candelária quase teve o mesmo castigo, mas foi decidido que ela ficaria na Avenida.
“A VONTADE DE FAZER UMA VIA PARA PASSAR PELO CENTRO E CHEGAR À ZONA NORTE ERA UM DESEJO ANTIGO, PORÉM, A CONSTRUÇÃO DA PRESIDENTE VARGAS EXTRAPOLOU MUITOS LIMITES. BOTOU NO CHÃO A PROPOSTA DE URBANIZAÇÃO DE PEREIRA PASSOS, QUE PLANEJAVA ESSA LIGAÇÃO ATRAVÉS DA RODRIGUES ALVES PELA MARECHAL FLORIANO, SEM PRECISAR DERRUBAR TANTO” DISSE O HISTORIADOR MAURÍCIO SANTOS.
Contrariando os tempos passados, atualmente a Avenida Presidente Vargas abriga diversas construções de extrema importância para a cultura, mobilidade, comércio e outros assuntos que ajudam a deixar essa cidade cada vez mais maravilhosa.
Fonte: Diário do Rio
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