Garantir a segurança nutricional é urgente, diz presidente da Embrapa
5 de maio de 2017

O presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) defendeu, nesta quarta-feira (3/5) uma ação mais rápida no tratamento de problemas relacionados à nutrição. Para Maurício Lopes, a atuação da pesquisa é fundamental, gerando conhecimento científico para influenciar formadores de opinião e agentes responsáveis pela formulação de políticas públicas.

“Muitos passivos estão sem solução por falta de informação organizada que possa servir de base para a orientação das pessoas. As instituições da ciência têm um papel importantíssimo a cumprir”, disse Lopes, no encerramento da Oficina sobre Sistemas Alimentares e Qualidade das Dietas, realizado na sede da Embrapa, em Brasília (DF).

 

O encontro foi promovido pelo Painel Global de Agricultura e Sistemas Alimentares de Nutrição, entidade criada em 2013 para promover políticas de agricultura e alimentação. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros discutiram a importância de melhorar as dietas para a saúde da população, partindo da ideia de que o aumento da oferta de alimentos não foi acompanhado pela atenção à qualidade nutricional.

O presidente da Embrapa reconheceu que a atenção com o teor de nutrientes dos alimentos demorou a ganhar destaque. E listou dois motivos: o primeiro é a preocupação – que, vista hoje, talvez tenha sido “excessiva”, nas palavras dele – com a suficiência e o acesso ao alimento; o segundo motivo é o conhecimento científico para pesquisar propriedades nutricionais, cuja sofisticação é maior.

“É uma ciência mais complexa e, naturalmente, houve certo atraso diante da necessidade de se chegar a um conhecimento que hoje temos e podemos levar aos sistemas alimentares”, avaliou.

Do ponto de vista de uma instituição como a Embrapa, a contribuição seria desenvolver e cultivares que atendam à necessidade de diversificação do consumo. “A visão é de urgência porque o problema é grave. Não podemos esquecer que, embora o Brasil tenha alcançado autossuficiência, há regiões marcadas pela pobreza em que temos que resolver o problema de segurança alimentar. Mas o problema de segurança nutricional é urgente, inclusive para países desenvolvidos”, avaliou.

Lopes ponderou, no entanto, que de nada adiantam avanços científicos e comunicação eficiente se não houver políticas públicas voltadas à melhoria das dietas. O Estado, afirmou, precisa se dar conta de que a situação está ficando cada vez mais grave e traz um alto custo para a sociedade.

Do lado do setor privado, disse ele, a estratégia de engajamento deve considerar um viés econômico. É preciso apresentar para agricultores e empresas as possibilidades de geração de resultados baseadas na produção e comercialização de alimentos que considerem a segurança nutricional dos consumidores.

“Entregar para o produtor mais alternativas que não fiquem só na lógica da soja e milho. Pode ter soja, milho, lentilha, grão-de-bico e outras coisas de alto valor agregado. Isso abre uma perspectiva de ganho econômico, alcançar mercado e fortalecer cadeias de valor”, argumentou.

Protagonismo

Maurício Lopes comentou ainda que há uma expectativa de que o Brasil assuma um papel de protagonismo na formação de políticas nutricionais. Segundo o presidente da Embrapa, isso se baseia no fato do país ter saído de uma condição de importador de alimentos para ser um grande produtor e exportador mundial, o que ocorreu ao longo de pouco mais de 40 anos.

“Há uma expectativa de que o Brasil possa trazer esse tema para sua agenda e, da mesma forma que alcançou a segurança alimentar, possa ajudar o mundo a desenvolver um modelo de segurança nutricional”, disse.

Ele mencionou como exemplo o projeto de biofortificação de alimentos, feito em países da América Latina e Caribe. A ideia é utilizar o melhoramento convencional de plantas para produzir cultivares com maior teor de determinados nutrientes. No Brasil, esse trabalho é coordenado pela Embrapa e inclui culturas como feijão, batata-doce, arroz, milho e mandioca.