A agricultura familiar presente no campus em Seropédica é de expressiva importância econômica e social, caracterizada por uma dinâmica entre produtores e consumidores diversificada e sustentável
A Feira de Agricultura Familiar (FAF) é um programa de extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), idealizado em 2016 pela atual pró-reitora de Graduação, Nídia Majerowicz, e pela professora do Departamento de Fitotecnia Anelise Dias. O projeto tem o objetivo de relacionar a agricultura local e a comunidade ruralina. Ela oferece mais de 300 produtos diferentes entre hortaliças, frutas e pães, de forma presencial ou pela internet com a “Cesta FAF”, canal de vendas on-line criado durante a pandemia para escoar a produção dos agricultores da feira.
– O projeto surgiu a partir do meu trabalho como pró-reitora de finanças, querendo que o recurso público fosse alocado para o pequeno produtor, junto com uma pessoa altamente capaz da agroecologia e de uma capacidade imensa que é a professora Anelise – contou Nídia.
A FAF tem 15 produtores de diferentes regiões da Baixada Fluminense, bolsistas e residentes da área que trabalham junto com os agricultores, organizam melhorias e dão assistência ao campo. Ela funciona no Pavilhão Central (P1) da Rural, e acontece todas as quartas-feiras, das 8h às 13h, no câmpus de Seropédica, e todas as terças-feiras, das 9h às 14h, no Instituto Multidisciplinar (IM) do câmpus de Nova Iguaçu.
Os oito anos da feira evoluíram ao ponto de os feirantes se organizarem em uma associação – Associação dos Agricultores, Processadores de Alimentos e Artesãos da Feira da Agricultura Familiar (Afaf), criada em 2022. Ela tem o objetivo de organizar e ajudar os membros na produção, regularização e comercialização de seus produtos. Mesmo com a ajuda do programa, os agricultores relatam as dificuldades que os afetam em relação à pandemia, greve e às mudanças climáticas. As alterações no clima podem provocar mais secas, o aumento de pragas e perda de produtividade nas lavouras, afetando diretamente a renda e a valorização das terras dos agricultores.
Segundo Flávio Gerson Lourenção, um dos produtores orgânicos do grupo Raiz Forte, a pandemia afetou fortemente os agricultores e quase houve uma quebra geral no setor.
– Porque além dessa feira, vendemos para outros mercados, outras feiras e isso tudo parou. O nosso capital de giro, que a gente movimentava, sumiu. Estamos sofrendo bastante, mas estamos na luta. A gente está realmente iniciando tudo de novo – disse ele.
O agricultor contou que está enfrentando uma seca atípica para essa época do ano, motivada pelas mudanças climáticas e que afetam diretamente a produção e o orçamento de todo o grupo.
– Normalmente, cinco anos atrás, nesse mesmo período, a gente já estava com a roça plantada de milho e batata. Esse ano, a gente não preparou o solo ainda, porque não caiu uma gota de água sequer. Isso nos afeta diretamente. A gente está com uma produção muito baixa – declarou.
Apesar das dificuldades, Flávio destaca a união dos agricultores que fazem parte do projeto. Entre os membros da associação existe um esquema de troca de produtos muito forte, o que substitui o uso do dinheiro entre os associados. O que um comerciante precisa e não produz pode ser trocado pelo produto de outro e vice-versa, o que agrega na produção de todos.
Viviane de Brito, agricultora da FAF há oito anos, relata a sua experiência de vida com a feira. A produtora iniciou a sua vida com a horta nove anos atrás no sítio do seu pai e participa da feira ruralina desde o início, plantando e vendendo alimentos da época.
– Eu produzo desde frutas até verduras. No momento a gente tem aipim, hortaliças e banana. Plantamos de acordo com o tempo. Se está propício para plantar milho, vamos plantar milho. Eu moro aqui em Seropédica e o que dá para plantar na nossa cidade, que é um calorão, a gente planta – contou ela.
A partir de sua experiência como agricultora, a feirante foi incentivada a seguir no ramo agrário em sua vida acadêmica. Viviane começou a fazer curso técnico em agroecologia no Colégio Técnico da Universidade Rural (CTUR) por apoio de uma cliente da feira. Ela concluiu o curso e, atualmente, ela é aluna do terceiro período de Agronomia da UFRRJ e concilia a vida na Universidade com a vida na FAF.
Para participar do programa, os agricultores devem ter uma rotina de agricultura familiar, possuir até quatro módulos fiscais (unidade de medida fixada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), produzir produtos agroecológicos ou orgânicos, sem a utilização de veneno, com práticas sustentáveis, ter vivência em grupo, colaborativa e participar da associação de agricultores. Assim, eles dão a sua contribuição para uma Rural e um mundo melhor.
Texto: Alan Sena e Rita Martins (estudantes de Jornalismo sob a supervisão da professora Cristiane Venancio)
Imagens: Alan Sena e Rita Martins
Professora adjunta do curso de Comunicação Social / Jornalismo da UFRRJ há 13 anos. Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho (Portugal) e mestre em Estratégia e Gestão pela UFRRJ. Foi repórter e editora da agência O Globo e do jornal Extra.
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