Medidas simples podem melhorar a experiência do viajante enquanto beneficiam as comunidades visitadas e o meio ambiente.
Se viajar pelo mundo ficou mais fácil e acessível com o advento da tecnologia, como mostrou a reportagem do G1 Desafio Natureza, os impactos negativos do turismo também aumentaram nos últimos anos. Em muitos lugares o esforço para atrair receitas com o mercado de viagens deu lugar a uma preocupação com os efeitos adversos da atividade.
Os prejuízos que o turismo predatório pode causar vão além dos danos ao meio ambiente. O Conselho Global pelo Turismo Sustentável (GSTC, na sigla em inglês) lista quatro pilares para o turismo consciente: redução de impactos socioeconômicos, culturais, ambientais e investimento em administração responsável. Segundo a organização, apesar dos impactos negativos, o turismo também pode ser um vetor de desenvolvimento.
“A questão central é como as práticas de lazer e turismo podem promover a inclusão social ao mesmo tempo em que contribuem para a conservação do ambiente”, explica Sidnei Raimundo, professor de turismo na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade da Universidade de São Paulo (USP).
Para isso, negócios locais precisam gerar receita e novos empregos ligados à atividade. O fluxo de turistas em locais de preservação ambiental também pode ajudar a criar consciência entre moradores, que passam a se esforçar mais para conservar a natureza que atrai visitantes. O turismo também pode propiciar mais investimentos estatais para projetos de conservação ambiental e aumentar a visibilidade das demandas dos moradores.
Parque Estadual do Ibitipoca – Lago Negro é um dos atrativos do Circuito das Águas — Foto: Vivian Reis/G1
De acordo com Raimundo, o turismo pode constituir uma relação benéfica tanto para a comunidade visitada quanto para o viajante, mas, para isso, o turista também precisa fazer sua parte. Medidas e escolhas simples podem minimizar os impactos negativos das viagens em um destino.
Para a professora Clarissa Gagliardi, do departamento de turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o comportamento dos visitantes pode ser tão relevante quanto a quantidade de turistas. “Um grupo pequeno com uma postura muito inadequada pode ter um impacto até maior em uma comunidade do que um grupo numeroso que se informou antes sobre o destino visitado e se porta da maneira correta”, explica.
Com a ajuda de especialistas, o G1 reuniu dicas para quem quer ser um turista mais responsável. Veja:
Antes da viagem
Escolha com cuidado as empresas prestadoras de serviços
Na hora de selecionar um hotel ou uma agência de turismo, a última coisa que costuma ser prioridade é a sustentabilidade da empresa. Mas, para ser um turista consciente, é preciso escolher não apenas com base nos preços, mas considerar também o tipo de trabalho que a empresa realiza para a manutenção dos locais visitados. Verifique se as empresas escolhidas colaboram com ONGs de conservação ambiental ou desenvolvimento da comunidade local. Hotéis que economizam recursos naturais costumam contar com certificados de sustentabilidade. Para obtê-los, é necessário também que eles empreguem a comunidade local e utilizem produtos regionais. Se decidir fazer passeios para conhecer a fauna local, cheque se a empresa é idônea e se respeita o bem-estar dos animais silvestres.
Considere destinos menos batidos
Evite viajar para lugares extremamente populares. Se possível, opte sempre por visitar cidades que têm estrutura para absorver o turismo sem que se formem multidões excessivas. Se escolher um destino popular, prefira ficar em bairros menos turísticos e tente explorar também as cidades dos arredores. Assim, os efeitos do turismo não ficam concentrados em um lugar só. Também vale fugir da alta temporada, quando os preços sobem e as cidades ficam mais superlotadas. Visite em pequenos grupos quando possível e considere dividir grupos maiores ao visitar atrações muito concorridas.
Parque Estadual do Ibitipoca – moradores da vila de Conceição do Ibitipoca sentiram impactos da limitação do turismo no parque — Foto: Vivian Reis/G1
Pesquise o destino
Conhecer a história e a cultura do país ou cidade que você vai visitar é importante para planejar como minimizar os impactos negativos do turismo. Quando o local da viagem está enfrentando algum desafio específico, seja uma crise econômica, racionamento de água ou mudanças no meio ambiente, tente se informar sobre para verificar se é possível ajudar na solução ao invés de ser parte do problema. Conheça os regulamentos e preocupações especiais para a área que você visitará e prepare-se até para condições meteorológicas extremas.
Durante a viagem
Prefira produtos e serviços locais
Grandes redes existem em quase todo lugar e seus lucros costumam ir, em grande parte, para o país onde a empresa foi criada. Para garantir que o seu dinheiro vai estimular a economia local, e não alimentar a de outro país, opte por estabelecimentos pequenos tocados por moradores. Na hora de escolher um restaurante, certifique-se de que os insumos usados têm origem conhecida e dê preferência aos que utilizam ingredientes nativos. Se for imprescindível consumir em comércios que fazem partes de redes internacionais, verifique se eles ao menos empregam a população local em cargos de diferentes níveis.
Respeite a cultura local
Se você quiser tirar fotos de moradores locais, lembre-se de sempre pedir o seu consentimento antes do clique, especialmente se a foto incluir crianças. Também é importante se vestir de acordo com os costumes locais, especialmente em locais sagrados como templos, mesquitas e igrejas. Tome cuidado para não entrar em locais privados sem permissão. Também vale tentar respeitar os preços estabelecidos por locais para produtos e serviços. “Os turistas chegam barganhando sem saber que muitas vezes aquilo é a única fonte de renda da família. Às vezes ele pode estar cobrando apenas o necessário para se manter ali”, explica Clarissa Gagliardi, da USP, que recomenda prudência nas negociações.
Tome cuidado com o seu lixo
“Não tire nada além de fotos, não deixe nada além de pegadas.” É comum ver esse tipo de sugestão em trilhas e parques Brasil afora. Apesar de batido, o conselho ainda é muito válido. Além de não coletar conchas, flores ou mudas, também é importante não deixar nenhum tipo de lixo fora do lugar. “O ideal é, depois de sair da atração turística, destinar os resíduos à reciclagem ou compostagem”, explica Sidnei Raimundo. “Inspecione seu acampamento e áreas de descanso para procurar lixo ou alimentos derramados. Embale todo o lixo sempre para que animais não entrem em contato com os dejetos.”
Evite atrações turísticas que exploram animais
Andar de elefante ou nadar com golfinhos pode render ótimas fotos no Instagram mas são atividades terríveis para os animais. Com pouca estrutura, os lugares que oferecem esses serviços dificilmente conseguem garantir o bem-estar dos bichos envolvidos. Evite participar de atividades que exploram os animais apenas para gerar lucro. Caso queira ter contato com a vida selvagem, prefira fazer safáris ou visitar santuários e zoológicos bem equipados. Sempre que possível escolha instituições que contribuem com atividades de conservação, educação ambiental e pesquisa. Também fuja de lembrancinhas feitas com produtos de origem animal, como coral, marfim, osso e conchas, por exemplo. Durante a visita, nunca alimente os animais. “A alimentação da fauna danifica sua saúde, altera comportamentos naturais e os expõe a predadores e outros perigos”, explica Sidnei Raimundo, da USP.
Economize recursos naturais
Água, combustíveis fósseis, eletricidade: tudo isso deve ser poupado como se você mesmo pagasse a conta. Desperdiçar recursos naturais durante uma viagem significa comprometer o futuro do destino que você está visitando. No mundo todo hotéis fazem campanhas para que os hóspedes não deixem toalhas no chão, assim elas podem ser trocadas menos vezes, diminuindo o gasto de água. Deixar luzes acesas e ar condicionado ligado quando o quarto está vazio também são exemplos de atitudes que aumentam desnecessariamente o gasto energético durante as férias.
Fonte: G1
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