O segundo mandamento já diz: não tomar seu santo nome em vão
Deus e a política: fé ou estratégia?
Muitos candidatos, ao longo da história, têm recorrido ao nome de Deus em seus discursos e slogans, buscando cativar eleitores religiosos. Expressões como “Deus acima de tudo” ou “Com a graça de Deus” são comuns, especialmente em campanhas eleitorais. No entanto, isso suscita dúvidas: é um ato de devoção genuína ou apenas uma estratégia para angariar votos?
Para a teóloga Maria das Graças Nogueira, a resposta depende da intenção:
“Invocar o nome de Deus em vão, como o mandamento proíbe, significa usá-Lo de forma desonesta, seja para manipular ou justificar atos que não refletem os valores do Evangelho. Na política, isso é ainda mais delicado, pois a fé não pode ser usada como moeda de troca.”
A manipulação da fé
A utilização do nome de Deus pode, em alguns casos, se transformar em uma forma de manipulação emocional. Eleitores mais religiosos podem se sentir compelidos a votar em candidatos que se apresentam como “ungidos” ou que fazem promessas em nome de valores cristãos, sem que haja um compromisso real com a ética ou a justiça social.
O pastor e sociólogo Joaquim Silva reforça o perigo dessa prática:
“Quando a política se apropria do nome de Deus, ela corre o risco de distorcer a mensagem divina. A fé deve inspirar atitudes, não ser explorada como slogan.”
Respeito ao Estado laico
Outro ponto de reflexão é o respeito ao Estado laico, previsto na Constituição Federal. Apesar de garantir a liberdade religiosa, o Brasil também estabelece a separação entre Igreja e Estado, assegurando que decisões políticas sejam tomadas de forma inclusiva, sem favorecer uma única crença. Quando candidatos recorrem à religião para se promover, corre-se o risco de excluir eleitores de outras confissões ou até mesmo os que não professam nenhuma fé.
O papel do eleitor
Para evitar a instrumentalização da religião na política, cabe ao eleitor avaliar o histórico, as propostas e a coerência dos candidatos, em vez de se deixar influenciar apenas por discursos carregados de referências religiosas. Fé e política podem coexistir, mas devem fazê-lo de maneira ética, transparente e com respeito a todas as crenças.
Ao fim, a advertência do segundo mandamento permanece atual: usar o nome de Deus em vão, especialmente em um contexto político, é não apenas um desrespeito à fé, mas também uma afronta à confiança dos cidadãos.
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