Descobertas da Petrobras podem ser o novo pré-sal do gás brasileiro
22 de junho de 2019

Reservas encontradas no Nordeste podem reduzir o preço pela metade, mas exploração exige investimentos altos e obrigará Petrobras a buscar parceiros

A Petrobras tem uma grande oportunidade para reescrever seu nome na história. Abalada pelos escândalos de corrupção dos últimos anos, a estatal está prestes a desbravar uma nova fronteira – a mais promissora desde a descoberta do pré-sal, em 2006. São seis descobertas em águas profundas na Bacia de Sergipe-Alagoas que podem ser responsáveis por cerca de 20 milhões de m³ por dia de gás natural, correspondente a um terço da produção atual no País.

Cálculos da consultoria Gas Energy, considerando os valores de hoje, apontam que a descoberta deve gerar R$ 7 bilhões anuais para a  Petrobras e seus futuros sócios. Mais do que isso, significa um aval para o plano do ministro da economia, Paulo Guedes, de usar o gás como o propulsor de uma nova onda de desenvolvimento no País.

Adapt Link Internet - Black Friday

Na região, há ainda um volume não revelado de óleo leve de excelente qualidade. Para tirar essa riqueza do fundo do mar serão precisos investimentos robustos em navios-plataformas (FPSOs), uma nova infraestrutura de 128 km de gasoduto para o escoamento do gás e uma unidade de tratamento em terra.

Segundo o Ministério de Minas e Energia , apenas para delimitar o reservatório e construir um gasoduto até a costa, a estatal vai investir US$ 2 bilhões até o fim deste ano. Com quase todos os seus recursos comprometidos com a exploração do pré-sal no Sudeste, a estatal busca sócios e colocou à venda as participações que possui nestas seis áreas da Bacia de Sergipe-Alagoas: Cumbe, Barra, Farfan, Muriú, Moita Bonita e Poço Verde. A ideia é se capitalizar para conseguir manter a operação.

O Plano de Negócios e Gestão 2019-2023 da estatal já contempla a contratação de um navio-plataforma na região com capacidade para produzir 100 mil barris por dia. Em nota, a empresa informou que estudos sobre esse projeto estão em fase inicial e que, ainda este ano, iniciará um teste de longa duração na área de Farfan “com o objetivo de obter informações que subsidiarão os estudos para uma melhor caracterização da rocha-reservatório e dos fluidos”.

A licença que o Ibama concedeu para a instalação de um navio-plataforma na região termina no dia 31 de julho. O mercado observa atento a movimentação de petroleiras. A ExxonMobil tem demonstrado otimismo com o investimento em áreas adquiridas em leilão ao lado das concessões da Petrobras. Em fevereiro, a norte-americana iniciou o licenciamento de 11 poços exploratórios na região. O mais perto da costa está a 67 km da cidade de Brejo Grande, em Sergipe.

O presidente da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, avalia que os investimentos podem mudar a história dos estados da região. “Sabemos que o gás não estará disponível amanhã, mas essas áreas têm sido alvo de outras petroleiras, que já demonstram interesses”, afirma Neto. “Isso é muito bom porque a Petrobras vai poder compartilhar os riscos e o custo de desenvolver essas áreas e, assim, potencializar o projeto sem comprometer seu caixa, até porque o foco da empresa continua sendo o pré-sal .”

Para ele, a região deve render mais do que os R$ 7 bilhões previstos, pois ainda não se conhece o potencial petrolífero da área recém-descoberta.

O pré-sal ainda é a prioridade. A descoberta elevou o patamar do Brasil na cena energética mundial e passou a ser usado politicamente como uma fonte promissora de riqueza. As áreas já confirmadas colocaram o Brasil na sexta posição de reservas de óleo e gás. “Não tem nada igual no mundo, é uma conquista da empresa e algo a ser louvado”, afirma Magda Chambriard, consultora da FGV Energia e ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Segundo ela, a Petrobras já conseguiu alcançar um ganha de escala “fabuloso” na extração do pré-sal, com um custo de extração menor do que US$ 7 por barril, a mais de dois mil metros da lâmina d’água e a quase 300 km da costa. Com o esforço para levantar recursos com a venda de ativos , o investimento já realizado no navio-plataforma para a região Sergipe-Alagoas não deixa dúvidas de que a estatal encara a região como a próxima fronteira depois do pré-sal.

Gasodutos no interior

A preocupação agora é como desenvolver o mercado de gás que dê conta de tamanho volume que sairá da bacia. “O Brasil precisa pensar em como desenvolver este mercado. Temos o gasoduto Gasene, ligando as regiões Nordeste e Sudeste, gasodutos no Norte do País e um grande clarão no Centro-Oeste. É preciso interiorizar os gasodutos”, afirma Chambriard. “Queimar gás significa perder o valor de uma energia que o mundo está disputando. A sociedade brasileira está carecendo de combustível a preços aceitáveis e acessíveis.”

Para evitar esse cenário, o Ministério da Economia está finalizando um plano para aumentar a competição na distribuição do gás, unificar a regulação entre estados e União e ampliar a integração com a indústria e o setor elétrico.

Com um custo duas vezes superior ao do México, o gás hoje representa 12% da matriz brasileira. O plano do governo federal deve promover uma redução de 50% na tarifa e será capaz de destravar cerca de R$ 200 bilhões em investimentos, estima o ministério da Economia.

Em encontros com agentes do setor, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque , sinalizou diversas vezes estar ciente da urgência do tema, disse esperar um mercado dinâmico, competitivo e integrado à matriz energética. Chegou ainda a prometer a expansão de cerca de 5.000 MW de usinas de energia a gás natural até o ano de 2027. A expectativa do mercado é que o ministro cumpra com o prometido e que a versão final do plano seja divulgada até o fim do mês.

Fonte: Economia – iG