Demandado por produtores de diversos estados brasileiros, curso capacitou 22 pessoas na produção de bactérias importantes para o controle biológico de pragas.
“A agricultura brasileira evoluiu uns cinco anos a partir desse curso”. Assim o produtor Gleyciano Vasconcellos, de Rio Brilhante, MS, avaliou o curso “Produção de Bacillus thuringiensis: da bactéria ao produto”, promovido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia no período de 23 a 27 de outubro de 2017. Ele e outros 21 agricultores de seis estados brasileiros – MS, BA, MT, GO, MG e RS – foram capacitados na produção de bactérias utilizadas no controle biológico de insetos. Para a pesquisadora Rose Monnerat, que coordenou o curso, esse evento inicia um novo marco no controle biológico de pragas e comprova uma mudança de paradigma no Brasil, já que a demanda veio dos próprios produtores, que buscam formas alternativas de controle de pragas para reduzir o uso e a dependência de agrotóxicos.
As bactérias utilizadas no controle biológico de insetos são entomopatogênicas, o que significa que são específicas para controlar os insetos-alvo e inofensivas à saúde da população, animais e meio ambiente. Dentre elas, a mais conhecida é o Bt (Bacillus thuringiensis), usada há mais de quatro décadas em programas de controle biológico em todo o mundo, com o aval da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a recomenda até mesmo na água para consumo humano. O Bt é mais eficaz contra mosquitos transmissores de doenças e lagartas, mas existem muitas outras espécies de bactérias com potencial para controlar pragas que atacam culturas de importância para o agronegócio brasileiro, como soja, arroz e feijão, entre outras.
O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) aprova a produção dessas bactérias nas propriedades rurais. Mas, segundo Gleyciano, havia uma necessidade de agregar qualidade ao processo de produção on farm realizado nas fazendas. O curso da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia foi o primeiro no Brasil a capacitar os produtores na realização do controle de qualidade do material produzido, incluindo detecção de contaminantes, formas de multiplicação das bactérias, melhorar a qualidade da conservação dos microrganismos, entre outras técnicas.
“Muitos agricultores já estão produzindo essas bactérias em suas fazendas, mas acham que estão fazendo atividades ilegais e que a qualquer momento podem sofrer retaliações técnicas oficiais”, explica o produtor de Mato Grosso. “O curso nos ofereceu segurança para continuarmos com as práticas de controle biológico em busca de uma agricultura mais sustentável”, comemora.
Novo paradigma na agricultura brasileira
Para a pesquisadora Rose Monnerat, o curso comprova uma mudança de paradigma na agricultura brasileira. “A demanda pelo uso de práticas mais saudáveis está vindo do setor produtivo para a pesquisa”, ressalta. Segundo ela, as conclusões do curso serão apresentadas ao MAPA para aperfeiçoar as normas que regulamentam a produção de bactérias on farm.
A mudança de comportamento em relação aos agrotóxicos é resultado de uma série de fatores, como explicam os agricultores presentes ao curso, entre os quais destacam-se: a produção de alimentos mais saudáveis e a diminuição da dependência das multinacionais.
Outro participante do curso, Renato Goulart, sofreu na pele os efeitos dos agrotóxicos. Produtor de soja, milho e feijão em Goiás, ele teve uma polineuropatia (doença neurológica dos nervos periféricos) causada pelo uso contínuo desses produtos. Hoje, Renato e sua família estão empenhados na produção de bactérias entomopatogênicas para controlar pragas. “O curso me ajudou muito com a disseminação de técnicas e conceitos que vão permitir aumentar a produção dos microrganismos e o que é melhor: com segurança”, afirmou.
Segundo Rose, o controle biológico vem crescendo muito no Brasil, mas o medo da ilegalidade faz com que muitos produtores não se manifestem, o que indica que esse crescimento deve ser ainda maior do que se imagina.
Esse é o primeiro de uma série de muitos cursos que a pesquisadora e sua equipe pretendem ministrar daqui para frente. “A busca por uma agricultura mais saudável é uma tendência em expansão no Brasil. Nós, como representantes da pesquisa pública, temos que incentivar essa realidade e unir forças com o setor produtivo para apoiar a ampliação de práticas sustentáveis, agregando conhecimento científico aos processos desenvolvidos pelos agricultores em suas propriedades rurais”, finaliza.
“Com o curso, a pesquisadora Rose Monnerat e sua equipe deixam um legado para a agricultura brasileira”, ressalta Gleyciano.
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