Brasil lidera ranking mundial de assassinatos contra defensores do meio ambiente
7 de setembro de 2017

Pelo mundo todo pessoas estão sendo assassinadas, atacadas, sequestradas, silenciadas. No ano passado, 200 indivíduos foram mortos por defenderem o meio ambiente e suas terras contra a mineração, a exploração ilegal de madeira, a construção de hidrelétricas e o agronegócio, um número equivalente a quatro mortes por semana.

Os dados da organização internacional Global Witness não são novos, mas no Dia da Amazônia, comemorado hoje, é importante lembrar que o ataque à riqueza natural da nossa floresta faz do Brasil o país mais mortal do mundo com 132 defensores assassinados desde quando a série começou, em 2015. Muitos desses crimes no Brasil foram contra pessoas que combatiam a exploração madeireira ilegal na Amazônia. As Filipinas estão em segundo lugar na lista, com 75 mortes. Em 2017, já são 127 defensores mortos em todo o mundo.

Um mapeamento feito pela BBC Brasil baseado nos dados da ONG Global Witness referentes ao período compreendido entre janeiro de 2015 e maio deste ano mostra que a Amazônia Legal, a área que engloba os oito Estados e parte do Maranhão, é palco de nove entre dez desses crimes (87%). As demais mortes ocorrem em outros lugares, principalmente no Nordeste.

 

Em julho desse ano, o jornal britânico The Guardian tornou-se parceiro da Global Witness com o objetivo de registrar essas mortes, sejam elas de guardas-parque da República Democrática do Congo ou ativistas dos direitos indígenas no Brasil, para trazer mais visibilidade ao assunto em âmbito global.

Desde então, há no site do diário a seção The Defenders (clique aqui para conhecer), onde é possível encontrar o nome, profissão e país daqueles que foram mortos. Há também um mapa onde estão concentradas as nações com maior número de crimes, quais as mais perigosas para ser um defensor e como ajudar as famílias das vítimas.

A última história registrada pelo jornal é a de Edilson Aparecido dos Santos, o guarda do parque nacional da Serra da Capivara, no Piauí, morto em agosto por caçadores após uma emboscada. No entanto, apesar de o destaque na home do site, é pequeno o espaço dedicado para que os personagens deixem de ser estatísticas para terem um rosto.

“Nós defendemos a nossa terra porque a gente quer barrar pelo menos um pouco esse desmate que tem hoje, pelo menos manter como ainda está. Essa floresta faz parte da vida. Se ela acaba nós vamos tirar da onde? Todo esse peixe, essa caça, esse ar e esse vento fazem parte. Será que nós só vamos acordar quando todo mundo estiver morrendo? Isso que nós estamos tentando fazer é como um exemplo para o mundo”, disse o líder indígena Ashaninka Moisés Piyãko, da aldeia Apiwtxa, da Terra Indígena Kampa do rio Amônia, em entrevista para este blog em agosto do ano passado quando questionado sobre a defesa da floresta. Os Ashaninka já foram alvo de madeireiros ilegais e a terra deles também foi rota do tráfico internacional de drogas.

De acordo com o relatório da organização global, o assassinato é apenas uma série de táticas usadas para silenciar os defensores da terra e do meio ambiente, incluindo ameaças de morte, prisões, agressões sexuais e ataques legais agressivos. “Ironicamente, são os próprios ativistas que são pintados como criminosos, enfrentando acusações criminais falsas e casos civis agressivos trazidos por governos e empresas que procuram silenciá-los. Esta criminalização é usada para intimidar os defensores, manchar sua reputação e bloqueá-los em disputas legais dispendiosas.”

Os assassinatos de defensores não só estão crescendo, mas também estão se espalhando. Em 2016, foram documentados 200 assassinatos em 24 países, em comparação com 185 em 16 em 2015. Quase 40% dos assassinados eram indígenas. A falta de processos também dificulta identificar os responsáveis, mas o relatório informa ter descoberto fortes evidências de que a polícia e as forças armadas estavam por trás de pelo menos 43 assassinatos, com atores privados, como guardas de segurança e assassinos ligados a 52 mortes.

Mas o que tem impulsionado essa violência? A resposta é: a indústria. De acordo com a Global Witness, a indústria mais mortal foi a mineração, com 33 mortes no ano passado relacionadas a atividades anti-mineradoras. O agronegócio, as hidrelétricas e a exploração madeireira também foram as molas propulsoras da ascendência da violência. Muitos dos assassinatos registrados ocorreram em aldeias remotas profundas nas cordilheiras e florestas tropicais, com as comunidades indígenas sendo as mais atingidas.

O Dia da Amazônia faz referência ao 5 de setembro de 1850, quando o príncipe Dom Pedro II decretou a criação da Província do Amazonas, o atual estado do Amazonas, e foi criado com o intuito de conscientizar as pessoas sobre a importância da maior floresta tropical do mundo. Talvez pensar na vida por meio da morte de pessoas que lutam para manter a floresta viva seja uma das saídas encontradas para o diálogo sobre consciência e meio ambiente. Perdoem-me o mau humor, mas fica difícil falar de coisa boa quando o que vemos no nossa país são retrocessos a perder de vista.