As emissões no país subiram 8,9% no ano passado e chegaram ao nível mais alto desde 2008. Aumento aconteceu num momento de recessão.
O Brasil assumiu na COP 23 o compromisso de estimular a recuperação de florestas e também a produção de biocombustíveis, mas os números mostram que o país está longe de cumprir as metas de redução de gases do efeito estufa.
A caminho do trabalho, são oito quilômetros e milhares de pedaladas. “Me sinto fazendo o meu papel. A minha parte é não poluir”, diz o cozinheiro Humberto Miranda.
No papel, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir a emissão de gases (-37% até 2025) que contribuem para o aquecimento do planeta, e que podem ter efeitos desastrosos.
Mas, na prática, as emissões por aqui subiram 8,9% no ano passado e chegaram ao nível mais alto desde 2008.
“É retrocesso. Retrocesso de fato”, diz o secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.
O aumento impressiona porque aconteceu num momento de recessão da economia brasileira. Ou seja, o país poluiu mais sem gerar benefício para sociedade. Parte da explicação tem a ver com o que a gente encontra nas ruas e estradas do país.
Em 2016, o consumo de etanol caiu, enquanto cresceu a venda de gasolina, mais poluente. O educador físico Rafael Teixeira tem carro flex, mas não usa álcool: “Tenho que ver o que acaba sendo melhor para o meu bolso, não é?”
Com menos investimento no campo, os canaviais envelheceram. Um deles já está no quinto corte. A produtividade caiu. Para completar, os usineiros destinaram uma parte maior da safra à produção de açúcar, que estava com preço melhor no mercado.
“Não tem uma política de preço definida nem de oferta sustentada e garantida para o futuro”, disse o presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente, André Ferreira.
Mas o principal responsável pelo aumento das emissões no Brasil continua sendo o avanço da agropecuária sobre as áreas de floresta, como acontece na Amazônia. Saem árvores, entram bois. E a conta não fecha.
No ano passado, o desmatamento cresceu 27%. Enquanto as árvores armazenam carbono, o gado, durante a digestão, emite metano, outro gás que contribui para o aquecimento global. Sessenta por cento da floresta derrubada vira pasto.
“Você leva 350 anos para recuperar 90% da biodiversidade que foi perdida”, disse Ima Vieira, pesquisadora do Museu Emilio Goeldi.
Em Belém, os técnicos do Inpe monitoram a devastação quase em tempo real. As imagens de satélite são cada vez mais precisas.
“A gente consegue detalhar bem o desmatamento e enviar essas informações para o Ibama para que ele faça a fiscalização dessas áreas”, afirmou Marcos Adami, pesquisador do Inpe, centro regional da Amazônia.
Se as soluções existem e são conhecidas a pergunta é: por que não são adotadas?
O problema é que o Ibama tem apenas 930 fiscais. No ano passado, o orçamento e os autos de infração caíram.
“Quando há falta do estado, falta do comando e do controle na Amazônia, o desmatamento aumenta. De 2016 para 2017, que é o ano que estamos na gestão, o desmatamento caiu”, disse o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Este ano, o desmatamento recuou 16%. Mas outras iniciativas do governo assustaram os ambientalistas, como a decisão do presidente Michel Temer de extinguir a Reserva Nacional do Cobre. A medida só foi revertida por pressão da sociedade.
“A bancada ruralista tem muitos grandes proprietários de terra. Troca-se votos, vende-se o meio ambiente a qualquer preço. E todos nós saímos perdendo”, afirmou Carlos Rittl.
Jornal Nacional: Falta responsabilidade aos grandes produtores rurais?
Sarney Filho: Eu não diria a todos, mas alguns, sim.
Se aparece como vilã, a agropecuária também pode ser a solução.
A Confederação Nacional da Agricultura diz que está comprometida em reduzir as emissões de carbono, mas que depende de financiamento.
“É uma meta muito onerosa. Se a gente tem todo esse ativo ambiental, que a gente consiga fundos internacionais para que a gente consiga promover essa recuperação”, afirmou o coordenador de sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias.
Nos canaviais, a esperança é a aprovação do RenovaBio, um programa que prevê o aumento da participação de combustíveis renováveis.
“Isso vai fazer com que o etanol seja parte da matriz energética. Aí o setor vai ter como planejar e produzir mais etanol para o país”, disse o presidente do Conselho Unica, Pedro Mizutani.
Fonte: G1
Notícias de Seropédica, do Brasil e do Mundo