Investigação mostra até ‘espião’ em campanha adversária
O grupo que espalhou atores para divulgar notícias falsas nas ruas contra um candidato em São João de Meriti (RJ) também atuou em outras cidades do estado do Rio na eleição municipal deste ano ou na pré-campanha. A investigação da Polícia Federal (PF) levantou suspeitas de atuação em Cabo Frio, Itaguaí, Mangaratiba e Paraty.
Segundo a investigação, o grupo fazia o chamado “Teatro Invisível” desde 2016 em ao menos 13 cidades, todas no estado do Rio. Mas não necessariamente o esquema se repetiu em todas os municípios na disputa desse ano. Os candidatos que podem ter sido beneficiados pelos atores não são alvo da investigação.
Como EXTRA mostrou, a estratégia usada pelo grupo foi à moda antiga: espalhar notícia falsa contra um candidato nas ruas, no ponto de ônibus, na praça, no mercado e em bares. A tática envolvia influenciar o voto dos eleitores com atores disfarçados no mundaréu de gente.
Um dos casos com mais provas foi em Itaguaí. Mensagens de WhatsApp mostram um esforço para criticar o candidato Donizete (União Brasil) e defender o atual prefeito, Dr. Rubão (Podemos). “No teatro falamos do candidato a prefeito Donizete com a falta de caráter por não ter pago pelo serviço de bandeirinha”, contou um integrante.
Além disso, os atores se esforçavam pra encontrar gente insatisfeita com Donizete: “É importante lembrar que estamos tentando ter depoimento de pessoas que foram enganadas ou algo do tipo pelo Donizete. Focar em encontrar essas pessoas para tentar ter registros delas”, disse um dos apontados dos supervisores. E eles tinham que fazer tudo com cuidado: “Outra observação meninas é evitar ficar falando tão bem do nosso candidato (Rubao) caso consiga pegar o depoimento de alguém”, alertou um dos supervisores.
Valia até mesmo agir como “espião” na campanha adversária: “Meninas por favor, não esquecer de tentarem se infiltrar em algum grupo do Donizeti”, disse o mesmo supervisor.
A eleição acabou enrolada: Dr. Rubão teve o maior número de votos (39%), mas sua candidatura foi considerada irregular. Ainda há recurso esperando para ser analisado.
Em outras três cidades, foram encontrados relatórios feitos ainda na pré-campanha, neste ano ou em 2023. Nesses casos, algumas pessoas que viriam a ser candidatas são mencionadas, mas a PF não deixou claro quem seriam os políticos beneficiados.
Os documentos trazem as opiniões de eleitores sobre cada político. Também foram encontradas grades de trabalho dos agentes, com as rotas que deveriam fazer, carga horária, ajuda de custo e meta de pessoas a serem abordadas.
Em Mangaratiba, um texto feito em março tem relatos sobre o deputado estadual Luiz Cláudio (Republicanos). Ele acabou sendo eleito prefeito com 50,18% dos votos. Já em Cabo Frio, um documento mostra opiniões sobre o deputado estadual Dr. Serginho (PL) coletadas entre o fim de março e o início de abril. Serginho foi sendo eleito prefeito no primeiro turno, com 69% dos votos.
No caso de Paraty, o relatório encontrado foi feito ainda em setembro do ano passado. O texto tinha avaliações sobre o prefeito, Luciano Vidal (MDB), e sobre Zezé Porto (Republicanos), que acabou sendo eleito prefeito neste ano contra a candidata apoiada por Vidal, Carla Lacerda (MDB), por 54% a 38%.
Fonte: EXTRA
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