Até o fim do ano 30 mil brasileiros vão morrer no Trânsito
26 de setembro de 2020

Um levantamento inédito com projeções de acidentes até o final de 2020 prevê uma queda de 19% no número de ocorrências em todo o país. O estudo, realizado a partir dos dados do DPVAT, considera o período de isolamento social por conta da pandemia da Covid-19. A estimativa é que 229.646 vítimas sejam indenizadas pelo seguro em acidentes ocorridos neste ano.

Do total de ocorrências previstas pelo estudo até o final de dezembro, 143.842 estão relacionadas a coberturas por invalidez
permanente, 56.408 a indenizações para despesas médicas e 29.396 a casos de morte. A estimativa é muito próxima dos 30.371 mortos que o Datasus registrou em 2019.

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O tema escolhido para a Semana Nacional de Trânsito foi: Perceba o Risco e Proteja a Vida. Fica evidente que a sociedade brasileira ainda não percebeu o risco e não está protegendo a vida. Importante lembrar que todas essas mortes ocorreram com o Código de Trânsito Brasileiro em vigor. Não haverá mudança nos números caso continuemos agindo da mesma maneira. Independente da aprovação do novo CTB.

ALERTA: De acordo com Rizzotto, não há campanha educativa que supere a impunidade. O que nos falta é humanidade. “As entidades de vítimas não são ouvidas pelos governantes. Parecem surdos e cegos. Não percebem que não estamos falando de números, mas sim de gente”. Foto: Arquivo pessoal

O Código de Trânsito é um conjunto de normas, mas a sociedade revela sua verdadeira índole na forma como aplica as leis. No mundo real a impunidade impera. Somente no feriado da Independência, ocorrido há poucos dias, registramos aumento de 18% das mortes nas rodovias federais. Isto apesar da pandemia que faz muita gente evitar viajar, sem contar as barreiras sanitárias em muitas cidades.

A chamada Lei Seca flagrou em 2019 cerca de 137 mil condutores dirigindo sob efeito de álcool, o que significa média apenas de 14 condutores por dia por unidade da federação.

Analisando as multas aplicadas em 2017 no transporte coletivo, que exige habilitação da categoria D, encontramos somente 226 casos de motoristas de ônibus e vans flagrados alcoolizados em 2017. Menos de um multado por dia em todo país. Já nos exames toxicológicos, no mesmo ano, 21 mil motoristas de coletivo, que transportam dezenas de milhões de pessoas diariamente, testaram positivo para drogas e 60 mil tinham drogas no organismo, mas abaixo do limite que a lei tolera.

Ano passado foram aplicadas mais de 4 milhões de multas para veículos em que o condutor não foi identificado. São basicamente multas de CNPJ e ninguém sabe quem foi o infrator.

Jovens postam na internet viagens de milhares de quilômetros em rodovias andando a 180km/h e até 300 km/h nas rodovias federais. Outros praticam rachas. Tudo isso com centenas de milhares de seguidores e nada acontece. Ainda são remunerados com publicidade do Google.

Não há campanha educativa que supere a impunidade. O que nos falta é humanidade. As entidades de vítimas não são ouvidas pelos governantes. Parecem surdos e cegos. Não percebem que não estamos falando de números, mas sim de gente.

Sem lideranças em todas as áreas falando pelas vítimas e exigindo o cumprimento da lei com máximo rigor, nada vai mudar. Acima de tudo, precisamos entender que não podemos politizar a violência no trânsito como fizemos com a Covid-19.

A violência no trânsito não escolhe vítimas por simpatia política. Ela mata indiscriminadamente e suas consequências são muito maiores do que os números revelam. Um pai que perde um filho em acidente não aparece nas estatísticas, mas é um mutilado. O Código, na teoria, revela quem queremos ser, na sua aplicação, quem realmente somos.

(*) Rodolfo Rizzotto é Coordenador do SOS Estradas

Fonte: O Estado de São Paulo

CENÁRIO TRISTE: Levantamento inédito com projeções de acidentes até o final de 2020 prevê uma queda de 19% no número de ocorrências em todo o país. O estudo, realizado a partir dos dados do DPVAT, considera o período de isolamento social por conta da pandemia da Covid-19. Foto: Divulgação