Além dos transplantes: laboratório envolvido em casos de infecção por HIV de transplantados atendia mais dez unidades de saúde no Estado
12 de outubro de 2024

Laboratório prestava serviços de análises clínicas e patológicas, com exames de sangue e de identificação de doenças como toxoplasmose, hepatite, sífilis e até câncer. A média mensal de exames laboratoriais realizados por todas as unidades da rede é de mais de 69 mil análises.

Sede do PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu — Foto: Rafael Nascimento/g1

Sede do PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu — Foto: Rafael Nascimento/g1

O Laboratório PCS Saleme, responsável pelo erro nos exames em órgãos que resultaram em seis transplantados infectados com HIV no estado, atendia ainda outras 10 unidades de saúde estadual.

Segundo o contrato ao qual a TV Globo teve acesso, o laboratório prestava serviços de análises clínicas e patológicas, com exames de sangue e de identificação de doenças como toxoplasmose, hepatite, sífilis e até câncer.

De 2022 até setembro de 2024, o valor empenhado pela Secretaria de Saúde em contratos com a PCS Lab era de R$ 21,5 milhões.

Segundo os documentos do pregão eletrônico, a média mensal de exames laboratoriais realizados por todas as unidades da rede é de mais de 69 mil análises. Somando as análises patológicas, que incluem biópsias em caso de câncer e outras doenças, o número pode chegar a 73 mil.

Na sexta-feira, a Bandnews divulgou a informação que seis pessoas que estavam na fila do transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) receberam órgãos infectados pelo HIV de 2 doadores e testaram positivo para o vírus.

O incidente é apurado por Ministério da Saúde, Ministério Público do RJ (MPRJ), Polícia Civil e Conselho Regional de Medicina (Cremerj), além da Polícia Federal.

Já os exames de anatomia patológica, que incluem análises de biópsias para identificação de câncer por exemplo, foram estimados em pouco mais de 4 mil por mês.

Eram atendidos pela PCS Saleme os hospitais estaduais Anchieta; Carlos Chagas; Eduardo Rabelo; Santa Maria, o Insstituto Estadual de Cardiologia, o Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária, o Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, o Instituto Estadual de Doenças do Tórax, o Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, além do Hemorio e da Central de Transplantes.

Apenas no mês de junho, no Hospital Estadual Eduardo Rabelo, o laboratório PCS Saleme alega ter feito mais de 43 mil análises, entre exames de sangue e testes patológicos. Somente nesta unidade, em junho, foram 147 testes de Hepatite e 143 de HIV, entre outras doenças analisadas.

Confira a lista completa das unidades atendidas pelo laboratório:

 

  1. Hospital Estadual Anchieta (HEAN)
  2. Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC)
  3. Hospital Estadual Eduardo Rabelo (HEER)
  4. Hospital Estadual Santa Maria (HESM)
  5. Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC)
  6. Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária (IEDS)
  7. Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capliglione (IEDE)
  8. Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP)
  9. Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HEMORIO)
  10. Central Estadual de Transplante (CET)
  11. Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ)

 

 

Transplante em janeiro

 

A situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes.

Esse paciente recebeu um coração no fim de janeiro. A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram a 2 exames feitos pelo PCS Lab Saleme.

A primeira coleta foi feita no dia 23 de janeiro deste ano — foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea, e todos, segundo o laboratório, deram não reagentes para HIV.

Sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV. Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que as pessoas que receberam 1 rim cada também deram positivo para o HIV. A que recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, deu negativo. A que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV.

 

No dia 3 de outubro, mais um transplantado também apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia. Cruzando os dados, chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano.

 

Reteste

 

A secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello, disse que a 1ª ação tomada foi de transferir todos os exames de sorologia dos doadores desse laboratório para o Hemorio, uma unidade de saúde estadual.

“Então, a partir do dia 13 de setembro, toda a doação é passada direto das doações para o Hemorio”, disse Cláudia. O departamento vai retestar o material armazenado de 286 doadores.

 

O que dizem os envolvidos

 

Nota da Secretaria de Saúde:

“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.

O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.

A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.

 

Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.

Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.

Nota do PCS Lab:

“O laboratório PCS Lab abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969.

O laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado. Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso.”

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