A pandemia nos alerta sobre o valor da vida. Ao mesmo tempo, precisamos refletir sobre as causas de mortes evitáveis no país. No trânsito, os números são assustadores e no caso das motocicletas temos praticamente um morto ou inválido por ano para cada 100 motos da frota. O artigo abaixo mostra a contradição de uma sociedade que multa quem está de máscara caminhando a beira mar e aceita a morte ou invalidez de 214 mil motociclistas como se fosse parte do destino.
Será que está na hora do lockdown das motos?
Todos concordam que quase 90 mil mortes por Covid-19 são números assustadores. Consequentemente, a pandemia nos faz refletir sobre o valor da vida. Quem trabalha pela redução de acidentes de trânsito, acompanha o drama das vítimas e seus familiares, entende a dor de quem perdeu um familiar para a Covid-19.
Por outro lado, quando analisamos os dados da violência no trânsito ficamos ainda mais inconformados com a perda de vidas nas ruas e estradas que poderiam ser evitadas. Afinal, diferente da pandemia, temos a vacina para evitar acidentes: respeitar as leis, manter as pistas e veículos em condições seguras.
Mas vamos analisar apenas os acidentes com motocicletas. Em 2019, foram pagos pelo DPVAT mais de 20 mil indenizações por morte e 194 mil por invalidez permanente apenas em acidentes de moto.
Mais da metade desses mortos era jovens entre 18 anos e 34 anos, e 100 mil, nesta mesma faixa etária, ficaram com invalidez permanente. Número semelhante aos anos anteriores, mas que serão esquecidos até a próxima estatística.
A frota de motos, segundo o Denatran, é de 26 milhões de veículos. Portanto, considerando aproximadamente as 214 mil vítimas de acidentes de moto em 2019, entre mortos e inválidos, temos 1 vítima fatal ou inválida para cada 122 motocicletas por ano. Sendo que 110 mil destas vítimas tem entre 18 anos e 34 anos.
Podemos considerar as motocicletas uma espécie de roleta russa em duas rodas. Num país que tem tanto foco em preservar a vida que chega a multar pessoas que andam sem máscaras a beira mar, como vemos no noticiário, não seria a hora de proibir a circulação de motos? Fazer uma espécie de lockdown da duas rodas?
Vamos continuar aceitando a morte ou invalidez de 1 em cada 100 motociclistas por ano como parte da vida, ou melhor, da morte?
A Covid-19 nos deve fazer refletir sobre todas as mortes que ocorrem no país. Principalmente as evitáveis. Não podemos colocar máscaras para inibir a disseminação do coronavírus e ao mesmo tempo vendas nos nossos olhos para não enxergarmos as outras causas de perda de vida no Brasil.
Fonte: Rodolfo Rizzotto – Coordenador do SOS Estradas e editor do www.estradas.com.br
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