No último dia 23 de janeiro, defensores dos direitos dos animais de todo o Brasil comemoraram a aprovação de uma lei estadual em São Paulo. O governador Geraldo Alckmin promulgou um projeto de lei que proíbe que indústrias de cosméticos, higiene pessoal e perfumes façam testes em animais.
No mesmo dia, o campus Seropédica da Universidade Rural recebeu o evento de lançamento de “Rodeio – de que lado você está?”, um documentário realizado por organizações de defesa dos animais. Além da exibição do filme, houve uma exposição de falas e debate sobre rodeios, vaquejadas e outras práticas do gênero. O local de exibição foi o auditório Gustavão, que estava cheio, principalmente de alunos de medicina veterinária e zootecnia.
Uma das presentes era Vânia Plaza Nunes, diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, que comemorou a conquista dos direitos dos animais em São Paulo, comentando que o Fórum esteve com o governador dias antes. A instituição congrega cerca de outras cem entidades de defesa dos animais, e foi a realizadora do documentário.
Em sua fala, Vânia, que é veterinária, falou de ética e do bem-estar animal. Bem Estar Animal (BEA) é a ciência preocupada em entender como satisfazer as necessidades dos animais sob domínio dos homens, sob a perspectiva do animal. Alia ciência, ética e legislação. Segundo ela, os animais devem ser considerados seres de valor intrínseco, ou seja: não devem ser maltratados porque isso é errado, eles próprio têm valor, e não porque poderia desagradar um dono, por exemplo.
Vânia Tuglio é promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, cargo no qual milita há 15 anos pelos direitos dos animais. Ela tenta conscientizar membros do Ministério, principalmente da área de meio ambiente, e aplicar em leis a proibição da realização de eventos como vaquejadas e rodeios. Organismos jurídicos não consideram animais como seres de direitos, mas, segundo ela, eles podem ser considerados hipossuficientes – como idosos e crianças, em estado incapaz de se proteger – e assim ter proteção legal. “É imoral ganhar dinheiro em cima do sofrimento de um ser sensível”, afirmou. Além da Constituição de 1988, que veda os maus tratos a animais, ela sugere, por exemplo, que em toda lei que trate de “dano ambiental” seja incluído nesse termo o sofrimento de animais. Desse modo, no Brasil inteiro rodeios podem ser proibidos pelas leis.
No documentário, defende-se que todo tipo de entretenimento que use animais deve ser considerado maus tratos. Um dos depoimentos diz, em relação a esse tipo de evento: “Não há direito à cultura que possa passar por cima da constituição, que veda os maus-tratos aos animais”. É possível ver cenas de vaquejadas, rodeios, rinhas de galo, animais em circo e parques, touradas. Contam-se alguns casos de intervenção judicial, e mostra que muitas cidades brasileiras já conquistaram a proibição dessas práticas. Um dos argumentos do filme, contra os rodeios, é que muitas das pessoas que vão a esse evento têm como motivação os shows, e não o espetáculo com os bovinos.
Para o debate, foram recebidos também o procurador Renato Machado, que participou do filme; o professor Júlio César Ferraz; Elizabeth MacGregor, gerente de educação do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal; e a advogada ambiental Bianca Turano.
Um outro lado
O professor do Instituto de Zootecnia Júlio César Ferraz mostrou a importância comercial desse tipo de evento para o Brasil, assim como a própria criação de animais para reprodução e abate, condenada em alguns momentos do evento. “Se acabar com a vaquejada do nordeste, do quê esse povo vai viver?”, questionou. O professor se declarou contra os maus tratos, mas disse que não se pode ser radical. “A agropecuária movimenta o Brasil”, argumentou, utilizando-se de dados. E lamentou que o evento tenha sido a exposição de um lado, e não um debate.
O grupo Katumbaia, um dos organizadores do evento, afirmou que convidou também pessoas que defendem os rodeios, mas eles não compareceram. Todos os convidados foram homenageados por representantes da Associação dos Docentes da Universidade Rural (ADUR-RJ). Após o evento, foi servido um coffe-break com lanches veganos e, em seguida, a banda Fulorada fez o encerramento.
Percepções
Para Vânia Plaza Nunes, o evento foi positivo: “A importância de trazer [a questão] é poder mostrar vários lados que os alunos não conhecem. O acesso a informações é gigante, e a escolha é de cada um”.
O estudante Fábio Costa, que cursa o primeiro período de zootecnia, compartilha da visão do professor Júlio César: “Eu vim pensando que ia esclarecer dúvidas, com abordagem científica, e foi uma palestra”.
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