Mergulhamos na história para desvendar as origens dos termos “carioca” e “fluminense”. Ambos, no fim das contas, fazem referência ao rio. E ao Rio. Entenda.
Tudo mundo sabe: quem nasce na cidade do Rio de Janeiro é chamado de carioca, e quem nasce no estado, incluindo a capital, atende pelo gentílico de fluminense. Mas qual o significado dessas palavras que dizem tanto a respeito de nossa identidade como povo, e que utilizamos em diversas ocasiões do nosso dia a dia, muitos de nós sem ao menos fazer ideia de onde surgiram? Até onde esta distinção é realmente aplicada no dia a dia?
Muita gente vai dizer que ser carioca significa ser descolado, estiloso e, algumas vezes, até marrento. Que a grande maioria de nós não dispensa uma boa praia praia, futebol, samba e carnaval. Significa também falar com aquele chiado ‘goxtoso’. Sim, está certo. Mas não é “só” disso que estamos tratando aqui, estamos falando mesmo da origem e do sentido etimológico das expressões “Carioca” e “Fluminense“, isto é a história por trás dessas palavras.
Qual o significado de Carioca?
Assim como ocorre em outras diversas áreas da cultura brasileira, a palavra carioca vem da língua indígena Tupi e, mesmo cercada de controvérsias quanto à sua origem, a versão mais aceita entre estudiosos dá conta de que o termo deriva da expressão kara’i oka, que significa “Casa de Branco“. Na origem do nosso Rio, o local era povoado por uma tribo que ficava próxima ao Rio Carioca, na Floresta da Tijuca.
Outra versão dá conta de que, quando da fundação da cidade, havia uma aldeia indígena, na altura da Praia do Flamengo, que se chamava kariok. E que o termo era aplicado a todos os indígenas Tupinambás que se espalhavam pela margem esquerda da baía de Guanabara.
Este rio é um curso de água que nasce no Corcovado e desliza pelo bairro das Laranjeiras. Ainda pode ser visto (e ouvido, pois corre ‘goxtoso’ e faz alto e bom som) no Largo do Boticário, onde não foi canalizado. Na altura do Largo do Machado, as águas se acumulavam e formava-se ali a Lagoa do Suruí (do tupi siri ‘y, que significa “rio dos siris”).
Ou seja, nosso gentílico – à parte de seu significado na língua indígena – homenageia o rio que dá o seu nome.
E Fluminense?
Quem nascia na capitania do Rio de Janeiro durante o período colonial (século XVI – século XVIII) era conhecido como “carioca”, em função do rio (mencionado acima) responsável por fornecer água potável à população. Os aquedutos que transportavam as águas do rio eram considerados grandes e raras obras para a época; sem dúvida um grande atrativo para nossa cidade. A partir de 1783, por decreto de D. Luiz de Vasconcelos, então vice-rei do Brasil, foi criado um gentílico, considerado pela elite da época mais “adequado” para o Rio de Janeiro: “fluminense”, tendo como ponto de partida o termo em latim flumine (=rio) mais o sufixo -ense (=natural), também em alusão ao “Rio Carioca”. Ou seja, natural do rio.
Desdobramentos históricos
Por se tratar de uma palavra de origem indígena, ser chamado de “carioca” não era tão bem-visto pelos membros da Corte à época, que optaram por intitularem-se “fluminenses”. Com isso, a expressão “carioca” sobreviveu à extinção por conta do seu uso ininterrupto no vocabulário popular, informal, e principalmente nas demais províncias do Império do Brasil, que preferiam referir-se a nós como “cariocas”.
Em 1824, quando da outorga da primeira constituição brasileira, o município do Rio de Janeiro se separou da Província do Rio de Janeiro para constituir o Município Neutro, sob a batuta da corte imperial brasileira, que aqui ficou sediada. Éramos uma monarquia nos trópicos.
Já em 1891, logo após a Proclamação da República do Brasil, ocorrida em 1889, o Município Neutro transformou-se em Distrito Federal e a província do Rio de Janeiro transformou-se no estado do Rio de Janeiro.
Reviravolta para os “cariocas”
Diante da mudança da capital do país para Brasília, em 1960, o estado do Rio tornou-se estado da Guanabara e adotou oficialmente, pela primeira vez, a designação “carioca” para seus habitantes, oficializando, após mais de um século, o que já era de uso corrente.
Com a fusão do estado da Guanabara com o estado do Rio de Janeiro, em 1975, o então estado da Guanabara passou a integrar o atual estado do Rio de Janeiro, e virou município e capital estadual. (a capital do estado antes da fusão era Niterói)
Oficialmente, optou-se por “fluminense” como gentílico oficial do novo estado, reduzindo novamente a abrangência do gentílico “carioca” à esfera municipal.
Dias atuais
No entanto, é inegável que o termo “carioca” é muito mais popular que “fluminense” nos dias de hoje, sobretudo em termos nacionais. Até mesmo os moradores do chamado “Grande Rio”, que engloba cidades da região metropolitana, como Niterói e São Gonçalo, e municípios da Baixada Fluminense, são constantemente chamados de “cariocas”, principalmente pelos turistas pouco familiarizados com as denominações.
Desde o início dos anos 2000, segundo a wikipedia, o movimento “Somos Todos Cariocas” busca o reconhecimento de carioca como gentílico co-oficial do estado do Rio de Janeiro. E você, prefere ser chamado de carioca ou fluminense? O DIÁRIO é DO RIO até no nome.
Fonte: Diário do Rio
Formado em Sistemas de Informação pela FAETERJ, carioca de coração, apaixonado por teologia, tecnologia, matemática, geografia, história e pela sociedade em geral.
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