Você já deve ter visto que as garrafas de água mineral têm data de validade, mas isso parece fazer pouco sentido. Afinal, a água mineral não “vence” e este líquido pode passar milhões de anos em um aquífero, permanecendo potável durante todo este tempo. A questão é que o prazo de vencimento está muito mais relacionado com a embalagem — na maioria das vezes, o plástico — do quem com o produto em si.
Basicamente, a água não perde a validade, o que acontece é que a embalagem pode liberar substâncias químicas ou entrar em decomposição — o que gera os micro e nanoplásticos — ao longo do tempo. Esse processo pode ser intensificado pelo armazenamento inadequado e por oscilações extremas de temperatura. Em alguns caos, isso pode afetar o seu sabor e cheiro.
Prazo de validade da garrafa de água
Nos Estados Unidos, a agência federal Food and Drug Administration (FDA) é quem regulamenta a água potável engarrafada e, por lá, a data de validade da água não é legalmente exigida. Por outro lado, o risco de vazamento e decomposição do plástico limita, em média, a validade do frasco a dois anos a partir da data de fabricação. Para água com gás, a validade é de um ano.
E no Brasil?
No Brasil, a regularização tende a ser similar a dos EUA, mas é um pouco mais rígida sobre os prazos. Por exemplo, o prazo de validade da água engarrafada em plástico é de apenas um ano. Agora, quando o material da embalagem é feito de vidro, esta validade chega a dois anos. A validade também é impactada pelo fato da água ser gaseificada ou não.
“As entidades determinaram uma validade de 12 meses para água mineral sem gás, quando armazenada em uma garrafa PET, enquanto que, em uma garrafa de vidro, esse prazo passa para 24 meses. Já as águas minerais com gás têm validade de 12 meses quando estão acondicionadas em garrafas de vidro e, seis meses, em garrafas de plástico. Após aberta, a recomendação é consumir o líquido em até duas semanas”, detalha o gerente da Vigilância Sanitária Estadual de Alagoas, Paulo Bezerra, em entrevista para a Agência Alagoas.
Inclusive, os galões plásticos (de 10 e 20 litros) também têm validade e o prazo máximo de uso é de três anos. “Esse prazo foi estabelecido porque, segundo a DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral], após esse tempo, os galões começam a se desgastar. Com transporte, calor e lavagem por dentro para reaproveitar, ele pode começar a comprometer a higiene”, explica Bezerra.
Cuidado com a oscilação de temperatura
Quem costuma reutilizar garrafas plásticas de uso único — como aquelas vendidas em supermercados, bares e restaurantes por um valor que oscila entre R$ 1 e R$ 6 — deve evitar oscilações drásticas de temperatura.
De forma geral, não é recomendado adicionar líquidos quentes em garrafas com apenas uma camada de plástico. Há risco de danificar a garrafa e a pessoa ainda pode se queimar, porque o plástico não tende a ser tão resistente. Além disso, o calor ajuda a quebrar as ligações químicas nos plásticos, e esses produtos químicos, muito provavelmente, serão transferidos para a água.
No extremo oposto, ela não deve ir para o freezer, já que o material não é resistente a temperaturas muito baixas ou negativas. Todas essas situações contribuem para que o material libere pequenos fragmentos em seu processo de decomposição, os microplásticos, além de alguns produtos químicos.
Além disso, o armazenamento de água engarrafada por um período prolongado pode, em alguns casos, desencadear a contaminação pelo químico BPA (bisfenol A). Segundo o Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental, dos EUA, a substância pode interferir nos hormônios do corpo, conhecidos como desreguladores endócrinos. Em níveis baixos, a substância pode ser segura, mas a FDA já proibiu o uso em diferentes tipos de embalagens, como de copos e mamadeiras.
Quão comuns são os microplásticos?
Publicado na revista científica Frontiers in Chemistry, um estudo revelou que os microplásticos estão “naturalmente” presentes na maioria das garrafas plásticas testadas, independente de oscilações de temperatura ou de formas inadequadas de armazenamento. A descoberta levanta inúmeras dúvidas sobre o uso deste material para guardar a água potável.
“Onze marcas de água engarrafada de origem global, compradas em 19 locais em nove países diferentes, foram testadas quanto à contaminação por microplásticos”, explicam os autores do estudo sobre os testes. A equipe era composta por químicos da State University of New York at Fredonia, nos EUA.
“Do total de 259 garrafas processadas, 93% apresentaram algum sinal de contaminação por microplástico”, detalham os cientistas. “Os dados sugerem que a contaminação é pelo menos parcialmente proveniente da embalagem e/ou do próprio processo de engarrafamento”, complementam.
“Dada a prevalência do consumo de água engarrafada em todo o mundo, os resultados deste estudo apoiam a necessidade de mais estudos sobre os impactos dos micro e nanoplásticos na saúde humana”, sugerem os pesquisadores. Isso porque ainda não é consenso o impacto destas partículas de plástico no corpo humano.
Enquanto a ciência debate seus riscos, microplásticos foram encontrados, recentemente, no pulmão e na corrente sanguínea de pessoas vivas, reforçando a urgência do tema de pesquisa.
Fonte: Live Science, Agência Alagoas, Frontiers e Prefeitura de SP
Formado em Sistemas de Informação pela FAETERJ, carioca de coração, apaixonado por teologia, tecnologia, matemática, geografia, história e pela sociedade em geral.
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