Um dos gargalos para a disseminação da tecnologia da inoculação para o agricultor de base familiar é a falta de interesse das indústrias, ocasionada pelo baixo custo do produto e a logística complexa para distribuí-lo. Pensando nisso, a pesquisadora Norma Rumjanek iniciou no ano passado testes em feijão comum e feijão-caupi com um “inoculante alternativo”, feito a partir de extrato de nódulos de raízes da própria unidade produtiva. A ideia é que o agricultor possa produzir seu próprio inoculante. “Já existem alguns relatos na literatura, mas não há nada comprovado cientificamente”, diz.
Com o projeto recém-aprovado Prática de inoculação de sementes de feijões a partir de extratos diretamente de nódulos radiculares veiculando estirpes bacterianas localmente adaptadas: uma alternativa para as unidades de produção de base familiar, a pesquisadora pretende estudar a prática e fazer testes de campo em um período de dois anos.
Os experimentos realizados em 2013 foram feitos nos municípios de Rio Pomba/MG e Cachoeiras de Macacu/RJ e em casa de vegetação na Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ). Os testes apresentaram bons resultados quando comparados ao inoculante comercial. “Quando vimos os resultados do plantio em Rio Pomba, ficamos bastante empolgados. As raízes do feijão plantado com o inoculante alternativo apresentaram um padrão diferenciado de nodulação em comparação com o feijão inoculado com o produto comercial”, comenta Norma.
Essa prática estudada aproveita as bactérias que já estão bem adaptadas às condições de solo e clima da área de produção, o que pode representar uma vantagem. A pesquisadora salienta que até agora existem apenas evidências de que a técnica pode substituir o inoculante industrial e, por isso, é necessária uma avaliação mais criteriosa como a que será realizada por meio do projeto.
Em uma primeira fase, ainda neste ano, será feita a padronização da técnica em laboratório. Durante essa etapa, o material será testado em casa de vegetação para verificar o desenvolvimento da planta. Em seguida, serão feitos treinamentos com os parceiros que realizarão a avaliação no campo junto a agricultores familiares das Regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste.
Caso o extrato se confirme como uma boa alternativa de inoculação, será necessário disseminar a técnica para os agricultores. Mas, além disso, Norma afirma que, a partir desses resultados, abrem-se novos caminhos para a pesquisa. Os extratos avaliados durante o projeto serão guardados e analisados posteriormente em laboratório, utilizando-se técnicas moleculares que permitam verificar a presença de diferentes grupos de bactérias. Nos estudos realizados até o momento já sabe-se que, além do rizóbio, outros 14 gêneros de bactérias estão presentes no extratos.
Além da Embrapa Agrobiologia, participam desse projeto como parceiras Embrapa Sede, Embrapa Arroz e Feijão, Embrapa Meio Norte, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade do Estado da Bahia, Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, Centro Estadual de Pesquisa em Agricultura Orgânica da Pesagro-Rio, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (Campus Pinheiral) e Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO).
Ana Lucia Ferreira (Mtb 16913/RJ)
Embrapa Agrobiologia
agrobiologia.imprensa@embrapa.br
Notícias de Seropédica, do Brasil e do Mundo
Deixe a sua opinião sobre o post