As dívidas cresceram para 24% dos entrevistados pela FGV Projetos em pesquisa feita a pedido da Fecomércio-RJ, para avaliar o impacto da crise na vida dos brasileiros. E somente 15% conseguiram diminuir as dívidas. São em sua maioria débitos não planejados provocados pela dificuldade de pagar os gastos correntes, o que foi realidade para 34% dos entrevistados.
A pesquisa mostra também que muitos brasileiros tiveram de recorrer a reservas financeiras, poupanças do período de bonança, para lidar com o aumento das despesas e a queda da renda.
Para resolver as dívidas, o brasileiro, segundo a pesquisa, negocia, vende bens, corta gastos, contrata mais empréstimos ou simplesmente deixa a dívida caducar e usa o cartão de crédito de parentes e amigos.
Christian Travassos, economista da Fecomércio-RJ, diz que as perspectivas para 2017 são de recuperação, mesmo com o aumento de endividamento observado na pesquisa. A esperada queda das taxas de juros (o mercado espera que a Selic caia dos atuais 14,25% ao ano para 13,75%) e o alívio da inflação (pode recuar de 8,74% para 7,34% no fim do ano pelas projeções) poderão dar mais fôlego para o crédito no país:
O crédito ainda pode se expandir. Existe um mercado muito expressivo.
Dívida não faz parte do vocabulário do casal formado pelo arquiteto Ronald Goulart e pelo design Júnior Grego. Goulart diz que sempre pagou tudo à vista.
Do imóvel ao automóvel, nunca fiz uma prestação, nunca paguei menos que o total da fatura do cartão, nunca entrei no cheque especial. Tenho medo de dívida. Sou profissional liberal, nunca sei com quanto vou fechar o mês.
A analista de economia comportamental e pesquisadora da USP Carol Franceschini afirma que o brasileiro não tem renda alta e acaba não planejando o consumo e, por isso, se endividando:
Não temos o hábito de planejar. Se está chegando o Natal, vai na loja, parcela em dez vezes e ainda acredita que é sem juros.
Roberto Meireles, coordenador da FGV Projetos e responsável pela pesquisa, afirma que o resultado não surpreende.
O brasileiro está muito acostumado com o conceito de parcelar, que é um endividamento.
Qual a saída?
Roberto Meireles, coordenador da FGV Projetos e um dos responsáveis pela pesquisa, vê chance de retomada rápida do consumo, já que a maior parte dos cortes foi em supérfluos. Dos 66% que mudaram hábitos, 57% deixaram de comprar algum produto ou serviço e 55% pesquisaram mais antes de comprar. Só 3% mudaram os filhos de escola e 5% cancelaram plano de saúde.
O brasileiro é crédulo e parcela. Compra a geladeira em 24 vezes quando recupera a confiança. É uma nação adolescente.
O economista Manuel Thedim, diretor do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), discorda. Acredita que a crise deixará um rastro de incerteza, tornando o consumidor mais conservador:
O brasileiro é mais cínico que otimista. No fundo, está preocupado, porque já apanhou tanto.
Informações via OGlobo
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