Confira mensagens trocadas entre as células extremistas que foram desarticuladas na operação Bergon, realizada pela Dcav e Gaeco
Para além de acreditar em ideologias nazistas, os jovens que conversavam sobre discursos de ódio, alvos da Operação Bergon, também se articulavam em treinamentos militares, faziam recrutamentos e conversavam sobre a possibilidade de atos de violência.
É o que apontam mensagens obtidas durante as investigações, às quais O DIA teve acesso.
A Bergon, deflagrada na quinta-feira, identificou 31 alvos de três grupos autodenominados neonazistas, que atuavam em sete estados, e foi resultado do trabalho de agentes da Dcav (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
A descrição de um grupo de Whatsapp não deixa dúvida: “Movimento Nacional-extremista, baseado na Serra da Mantiqueira. O grupo extremista recruta membros online (…)todos contribuem com pequenos protestos, atos de vandalismo e representações nas redes sociais”.No dia 16 de março, o grupo é nomeado ‘Kahat Division, organização terrorista’, e veicula a foto de um casal exibindo um quadro de Adolf Hitler, com a cruz suástica no uniforme. Nele, os usuários postam mensagens incentivando a violência contra gays e negros, inclusive afirmando que possuíam munições.
Em outra postagem, um dos usuários mostra as instruções de um processo seletivo para entrar em um grupo neonazista em outro aplicativo. A seleção é na língua germânica e pretendia selecionar neonazistas.
Um outro grupo, intitulado U.N.C, era formado majoritariamente por adultos, mas também contava com menores. Nas conversas, reverenciavam a simbologia nazista, enquanto outros cultuavam o que chamam de nacional-socialismo (inclusive utilizam a nomenclatura NS em seus nomes de usuários). Nazismo e Nacional-Socialismo são termos com o mesmo significado histórico.
Um desses usuários, que foi alvo de busca e apreensão, de apelido Mengele NS, em referência a um carrasco nazista. Ex-militar, ele diz realizar treinamentos militares no Parque do Mendanha, no Rio de Janeiro.
Em suas redes sociais, Mengele NS diz que o treinamento seria uma espécie de escotismo, mas as mensagens de áudio no grupo mostram claramente o real objetivo. “(…) a gente tem treinamento no Mendanha o dia inteiro, todo final de semana, toda sexta-feira a gente tá lá de missão pô, é só tu aparecer pô”. Em outra mensagem, ele diz que o treinamento é para realizar “grupos de combate urbano”.
Agentes da Dcav e do Ministério Público estiveram no local de treinamento antes e durante a operação. Na casa de Mengele, dentro de uma comunidade da Zona Oeste, foram apreendidas fardas e desenhos nazistas. Mesmo após a operação, ele não retirou as fotos com apologia ao nazismo das suas redes sociais: entre elas, algumas em que aparece vestido com fardas utilizadas por alemães na II Guerra Mundial (1939-1945).
Delegado alerta pais sobre uso da internet
Em coletiva, o delegado Adriano França, titular da Dcav, fez um alerta para os pais acompanharem a utilização dos computadores por menores de idade. “Realizamos 31 mandados de busca e apreensão, entre computadores, celulares. Muitos pais não tinham a menor ideia do que os filhos faziam na internet e foram pegos totalmente de surpresa. Fica o alerta para os pais acompanharem o que os filhos fazem na internet”, disse.
Conforme O DIA já havia revelado em junho, a Bergon teve início a partir do massacre em uma creche em Santa Catarina. “Depois do atentado os responsáveis tiveram seus celulares apreendidos e eles foram analisados. A partir da análise se chegou a uma pessoa aqui do Rio que representaria uma das células neonazistas. A célula existente no Rio não conversou diretamente com o autor do atentado, havia uma pessoa interposta”, explicou o promotor Bruno Gaspar.
Segundo a psicóloga sistêmica Maria Fernanda Botafogo, jovens que sofrem com a violência de alguma maneira, seja ela física ou verbal, podem estar mais suscetíveis a se identificar com grupos extremistas.
“Fazer parte de grupos extremistas para eles pode fazer sentido, até mesmo de se sentirem entendidos e conectados como membros. Muito provavelmente eles ainda podem apresentar mais agressividade e intolerância, além uso excessivo da internet”, disse.
Operação Bergon cumpriu 31 mandados de busca e apreensão, além de quatro prisões, em sete estados. No Rio, foram 15 alvos em diferentes municípios
Suspeitos de cometerem crimes de racismo e antissemitismo nas redes sociais são alvo da Operação Bergon, deflagrada na manhã desta quinta-feira, dia 16, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A ação é resultado de sete meses de investigação da Dcav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima), especializada da Polícia Civil do Rio, e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público fluminense. O trabalho também conta com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
O filho de um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio, com transtornos mentais, fazia parte dessa rede de conversas com Mai, e foi preso cinco dias após o ataque em Saudades, por agentes da Dcav. Ele postava mensagens de ódio contra negros e judeus, além de concordar com atos de homicídio.
Em sua residência, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, foram apreendidos quatro videogames, um notebook e um celular, que passaram por perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Através da extração dos dados, foi possível identificar pelo menos três grupos neonazistas em sete estados brasileiros.
“Por tudo que se verifica, dúvidas não restam de que todos integrantes dos grupos (…), bem como aqueles que trocaram mensagens diretas de conteúdo nazista com (…) ou que veicularam imagens de conteúdos discriminatórios em redes sociais, conforme exaustivamente demonstrado acima, integram associações criminosas voltadas à prática de instigação a ações violentas conta vítimas de grupos determinados, tendo por influência ideologias extremistas que perpetuam o racismo e o preconceito”, diz trecho do relatório policial produzido pela especializada.
Parte das conversas entre Mai e outros jovens brasileiros foi disseminada para as polícias civis pelo Ministério da Justiça, que contou com o compartilhamento de informações da Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI), da Embaixada dos Estados Unidos, em Brasília. Através dessa trabalho, desde maio, já foram realizadas prisões de simpatizantes nazistas no Brasil e que discorriam sobre homicídios motivados por ódio.
Fonte: O DIA
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