Jovem ficou exposta ao sol por quatro horas sem filtro solar e sem água.
Nara Farias teve três paradas cardíacas antes de morrer nesta quarta no Distrito Federal
Fonte: G1
Uma jovem de 20 anos morreu na madrugada desta quarta-feira (14) em Brasília após passar por sessão de bronzeamento em uma clínica que funcionava em um casa na Asa Sul. Na manhã do último sábado (10), Nara Farias Preto fez o procedimento estético por três horas a mais que o recomendado e teve três paradas cardíacas antes de morrer, segundo familiares. Após a morte, a suposta clínica clandestina foi desmontada.
De acordo com uma prima da vítima, Mirian Farias, Nara fez a sessão de bronzeamento na cobertura da clínica – uma casa na 705 Sul que tem dois andares – e ficou deitada em cima de uma maca de massagem. A sessão, que deveria durar no máximo uma hora e 20 minutos (40 minutos de frente, e outros 40 de costas) durou mais de quatro horas.
Em intervalos entre 9h e 13h30, uma mulher aparecia para passar um produto que acelerava a pigmentação no corpo de Nara. “Não orientaram a passar filtro solar, e a mulher não a molhava com frequência. Isso causou uma desidratação muito violenta”, disse Mirian. Segundo ela, a prima não bebeu água durante o procedimento.
“Ela falou com a dona da clínica sobre os danos que o bronzeamento tinha causado e que ela deveria ajudar a pagar os medicamentos e a hospitalização, mas ela fez pouco caso e não quis ajudar.”
O G1 entrou em contato com a clínica nesta quarta por meio do número de um dos celulares que estão disponíveis na página da Belo Bronze na internet. A mulher que atendeu não se identificou, e disse que a clínica estava fechada há alguns dias.
Nara teria encontrado a clínica após uma busca simples na internet, sem referências de conhecidos. Em um perfil divulgado em rede social, a clínica anuncia “bronzeamento natural e produtos 100% autorizados pela Anvisa”. Mirian diz a prima foi atraída por imagens “bonitas e bem tratadas” e pelo preço, de R$ 60 por sessão.
Após o bronzeamento, Nata contou à prima que o mesmo imóvel também aparentava ser um hotel. “Enquanto ela se bronzeava, um cliente agradeceu a hospitalidade. Um homem não agradeceria um bronzeamento”, comentou.
A Agência de Fiscalização do DF (Agefis) esteve no imóvel por volta das 10h desta quarta, mas não encontrou macas ou equipamentos da suposta clínica. “Era uma casa normal. A moradora nos informou que havia uma mulher que trabalhava na sacada e que a clínica seria lá, mas essa pessoa já tinha deixado o local”, informou o órgão.
O irmão de Nara, Marcelo Farias, conta que ela chegou em casa depois da sessão com queimaduras de sol, mas “tudo aparentava estar bem”. No domingo (11), Nara sentiu muita queimação e foi à farmácia para comprar algo que aliviasse o ardor. No local, ela foi orientada a usar uma pomada.
“Refrescava, mas não diminuía a dor. Ela dizia que estava morrendo de dor. Mal conseguia andar, porque doía muito. Só vestia roupão daqueles fininhos de seda, porque só de triscar a roupa já doía”, diz a prima.
Na segunda (12), às 10h, Nara foi ao Hospital das Forças Armadas (HFA), no Sudoeste. Ela foi diagnosticada com insolação, tomou soro na veia e remédios para aliviar as dores. Por volta das 16h, foi liberada e voltou para casa.
“Ela ficou bem, parecia estar mais hidratada”, conta a prima. Nara retornaria ao hospital no dia seguinte com o namorado para buscar um laudo médico que comprovasse a negligência da clínica, – ela pretendia abrir um processo por danos morais e físicos.
“Ela [a dona da clínica] disse que a minha prima queria extorquir o dinheiro dela e se aproveitar da situação. Que ela [Nara] tinha acabado de fechar as portas da clínica, porque a pessoa que alugava a casa não quis renovar o contrato.”
Por volta das 18h30 de terça, pouco antes do horário que Nara havia combinado com o namorado para buscá-la, ela começou a passar mal, teve falta de ar e desmaiou. “Ela estava consciente, mas desmaiava toda vez que se levantava”, afirma o irmão. Segundo ele, o namorado de Nara a carregou no colo até o carro e seguiu para o hospital.
O HFA informou que o quadro de Nara evoluiu “com piora rápida e progressiva”, o que a levou a uma parada cardiorrespiratória às 19h40, mas os médicos conseguiram reanimá-la. A prima Mirian diz que, ao longo da noite, a jovem teve outra parada cardíaca, mas não soube precisar a hora. O hospital não tem registro de uma segunda parada.
Sem UTI disponível para estabilizá-la, Nara foi levada ao hospital Daher, no Lago Sul. “O médico disse que o estado dela era muito grave e que, agora, era com eles”, diz Mirian. Ela e os familiares foram orientados a voltar para casa e tentar encontrar algum medicamento que Nara poderia ter tomado. Os médicos suspeitavam que a jovem teria sofrido intoxicação por excesso de medicamentos, segundo Mirian. “Eles não estavam conseguindo descobrir a causa do estado dela, pensaram que não era só insolação.”
Cerca de uma hora depois que a família havia retornado à casa, os médicos ligaram para avisar que Nara estava tendo um parada cardíaca. “Esperávamos uma notícia boa, mas o médico disse que não tinha mais volta. Quando voltamos ele falou que ela tinha morrido”. De acordo com Mirian, o médico informou que a equipe tentou reanimá-la durante 30 minutos. A morte de Nara foi registrada às 2h desta quarta.
Os familiares foram à 10ª DP, na QI 11 do Lago Sul, e registraram ocorrência às 3h54 para que o corpo de Nara fosse levado ao Instituto Médico Legal. Mirian disse que a família vai processar a clínica. A Polícia Civil está investigando o caso.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia adverte que mesmo os produtos regulamentados e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) devem ser utilizados sob prescrição médica e observados o modo de uso.
Atualmente, há 831 produtos de bronzeamento registrados no órgão. A cada cinco anos eles têm de ter o registro renovado para comprovação da segurança e eficácia da formulação.
Desde 2009 os aparelhos de bronzeamento são proibidos no Brasil. “Estima-se que a exposição às máquinas de bronzeamento artificial aumente em 75% o risco de desenvolvimento de melanoma maligno, o mais agressivo dos cânceres de pele, além de favorecerem o desenvolvimento irreversível de manchas escuras, de rugas e ressecamento”, afirma o coordenador da Campanha de Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Emerson Lima.
Formado em Sistemas de Informação pela FAETERJ, carioca de coração, apaixonado por teologia, tecnologia, matemática, geografia, história e pela sociedade em geral.