Medida foi anunciada pelo arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta, em encontro com sindicalistas. Dioceses do interior terão polos de coleta de donativos.
Igreja vai se engajar na campanha de arrecadação de doações para os servidores públicos estaduais. Em reunião realizada na noite desta quinta-feira, na sede da Arquidiocese, o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, se comprometeu a abrir as paróquias para coletar mantimentos. Desde sábado (15), o Movimento Unificado dos Servidores Públicos Estaduais (Muspe) já distribuiu cerca de 1.300 cestas básicas a pessoas que enfrentam dificuldades por causa de atraso de salários.
“Precisamos da ajuda da Igreja por sua força e penetração na sociedade. O Muspe já arrecadou mais de 1.300 cestas básicas, mas são mais de 200 mil servidores sem salário”, ressaltou o coordenador do Muspe, Ramon Carrera, segundo quem na semana passada, mais de 100 pessoas foram ao SindJustiça e saíram de mãos vazias, porque as cestas básicas acabaram antes.
No encontro, representantes de diversas categorias lembraram que, para alguns, que têm famílias maiores, uma cesta às vezes não dura nem uma semana. Isso é mais sentido nas famílias de aposentados e pensionistas, que muitas vezes são responsáveis pelo sustento da casa.
Atualmente, o único polo de arrecadação de doações do interior é em Campos, no Norte Fluminense. Dom Orani se comprometeu a levar o apelo dos servidores às outras dioceses do estado.
O estado de calamidade financeiro é a maior tragédia já vivida pelo estado, na opinião do tenente Mesac Eflain, do Corpo de Bombeiros. “Já houve suicídios, mas temos evitado falar disso para não induzir outras pessoas a essa medida desesperada”, afirmou.
“Queremos que vocês saibam que não estão sozinhos nessa luta. A Igreja é solidária e podem contar conosco, é nossa missão ajudar os mais necessitados”, afirmou Dom Orani, que sugeriu iniciar a campanha de arrecadação imediatamente.
“A pessoa acostumada a ter seu salário sente dificuldade em receber doações. Sabemos que nosso povo está mais pobre e não pode doar como em outras épocas, mas mesmo assim vamos lançar a campanha”, afirmou o cardeal.
“É preciso que o Muspe tenha um representante em cada uma das 10 dioceses do estado, para ajudar na coleta das doações. Recursos da conta de emergência da Cáritas também serão usados para comprar mantimentos”, afirmou o diretor da Cáritas, cónego Manuel Monangão: a conta também será usada para receber doações em dinheiro.
O bispo auxiliar da Arquidiocese, dom João Portella, destacou o que vê como características positivas da mobilização dos servidores em meio à crise.
“Calamidade não isolou vocês uns dos outros, o mal não tomou conta de vocês. Não percam a sensibilidade e o senso de unidade: há muita coisa a ser feita”, disse o bispo.
“Não importa a religião ou a ideologia, saibam que aqui é a casa de vocês também e que somos todos irmãos. Contem conosco, ajudaremos com muita alegria”, ressaltou dom Orani.
No fim da reunião, encerrado com um Pai-Nosso, houve spaço até para risadas: um servidor disse que, logo após o anúncio da reunião entre servidores e o arcebispo, o governo do estado anunciou que pode quitar os salários já em agosto. “Se é assim, então venham sempre”, brincou o arcebispo do Rio.
Formado em Sistemas de Informação pela FAETERJ, carioca de coração, apaixonado por teologia, tecnologia, matemática, geografia, história e pela sociedade em geral.