História do Brasil: Palácio Imperial em Petrópolis e Fazendas do caminho do ouro
25 de junho de 2020

A Serra da Estrela, onde se encontra Petrópolis, era praticamente desconhecida pelos colonizadores portugueses nos primeiros 200 anos de colonização, salvo por alguma expedição exploratória para tomar posse de sesmarias. Isso se devia ao enorme paredão montanhoso de mais de 1000m de altura que tinha que ser vencido para se chegar até lá; e também pela presença dos bravios índios Coroados que habitavam serra acima. Ali não havia atividade econômica. Somente quando os bandeirantes paulistas descobriram ouro nas Minas Gerais é que foi aberto o Caminho Novo, em 1704, para facilitar a viagem até as vilas mineradoras. O caminho era “novo” porque havia um outro, o “velho”, a variante do Caminho Novo, passando pelo alto da serra onde hoje está nossa cidade desde meados dos anos 1600, muito longo e de difícil trânsito, aberto pelos próprios bandeirantes, constituído de trilhas e picadas até as minas de ouro. 

É impossível pensar Petrópolis, Juiz de Fora, Barbacena, São João Del Rei e Ouro Preto sem antes pensar o Caminho Novo. Também não dá para entender Petrópolis sem a subida da Serra Velha, por onde vieram os nossos pioneiros colonizadores. Conhecer esses caminhos é conhecer 300 anos da nossa história.

O CAMINHO NOVO

O Caminho Novo faz parte de uma rede de importantes caminhos do Brasil Colonial, aos quais era dado o nome de Estrada Real. Muitos desses caminhos eram antigas trilhas e veredas abertas pelos bandeirantes que se embrenhavam pelo sertão, na direção de Minas Gerais e Goiás, à procura de ouro e pedras preciosas. O mais antigo deles, conhecido como Caminho Velho, ia de São Paulo, de Piratininga até Taubaté, subia a Serra da Mantiqueira, passava por São João del Rey e ia para Vila Rica, Caetés, Sabará. Dali havia extensões para Tijuco (Diamantina), Jaguará, até a região da Fazenda Meia Ponte, hoje Pirenópolis, Goiás. Mas quem vinha da capital, Rio de Janeiro, tinha de ir em uma embarcação até Paraty, subir e descer a Serra do Mar até Taubaté para encontrar o Caminho Velho e seguir adiante. Do Rio eram “99 dias de viagem, sendo 43 a pé ou a cavalo”, conforme descrição do Governador Geral Artur de Sá e Meneses, que fez a viagem em 1699, para avaliar as possibilidades da exploração do ouro. Foi após essa viagem que ficou decidida a abertura de um caminho oficial por onde pudesse ser transportado sob controle, o ouro extraído nas minas e fosse feito todo o suprimento das dezenas de arraiais e vilas que iam surgindo em torno da mineração.

O Caminho Novo foi aberto por Garcia Rodrigues Paes e levava vinte ou trinta dias de viagem, um terço do tempo feito pelo Caminho Velho. Ele iniciava num porto do rio Pilar, que desagua no fundo da baía da Guanabara, subia a Serra do Mar na altura de Xerém, passava por Marcos da Costa, Paty do Alferes e Paraíba do Sul, onde havia um Registro para a fiscalização colonial, e seguia para as Minas Gerais, passando por Juiz de Fora e Barbacena. Ocorre que a subida do paredão da Serra do Mar, em Xerém, era muito íngreme, onde muitas vezes pessoas e mulas carregadas rolavam ribanceira abaixo. Depois de vinte anos de sofrimento, Bernardo Proença, um rico fazendeiro da região, se propôs abrir uma nova subida da Serra por antiga trilha de índios em sua fazenda. Aceita a proposta, Proença construiu o Porto da Estrela no fundo da baía da Guanabara, onde é hoje a Praia de Mauá, e que se tornou logo uma importante vila, depósito e escoamento de mercadorias. Esse porto, com sua capela em louvor de Nossa Senhora Estrela dos Mares, está hoje em ruínas, mas ainda pode ser visitado. Ele foi o início da variante do Caminho Novo, por onde os tropeiros subiam a Serra do Mar, atravessando a exuberante encosta da nossa Serra Velha. Chegando ao alto, a Variante de Proença seguia em direção à área onde hoje está situada a Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, passando pela fazenda do Córrego Seco, onde, mais tarde, surgiria Petrópolis. Dali os tropeiros tomavam a atual rua Silva Jardim até o Quissamã. Para chegar a Corrêas, os viajantes percorriam um trecho que até hoje tem o nome de Estrada Mineira. Vinha depois Pedro do Rio, Secretário, Sebollas, até encontrar o Caminho Novo de Garcia Rodrigues Paes em Paraíba do Sul, prosseguindo, então, até a região das minas de ouro. Em Barbacena, também há hoje um bairro com o nome de Caminho Novo e uma rua Caminho Novo, sobre os antigos trechos da histórica trilha. 

Segundo o Registro de Paraíba do Sul, em 1824, a cada dia, indo e vindo, passavam em média pelo Caminho Novo 153 mulas dos tropeiros e 77 pessoas. Por ela também passaram os importantes viajantes-naturalistas dos anos 1800 como Spitz, von Martius, Saint Hilaire, Walsh, Freireys e muitos outros que, como o Barão de Langsdorff, queriam conhecer as riquezas do novo país para informar as possibilidades de exploração aos seus governos. 

Bernardo Proença recebeu pelo seu trabalho uma sesmaria no Alto da Serra, onde hoje está quase toda a cidade de Petrópolis. Outras sesmarias foram distribuídas ao longo do Caminho Novo e logo a região se desenvolveu muito. Se ele não tivesse aberto a Variante do Caminho Novo passando pelo Córrego Seco, todo o desenvolvimento da nossa região teria acontecido no eixo Xerém-Paty do Alferes-Miguel Pereira-Paraíba do Sul, que era o traçado original daquela via feita por Garcia Rodrigues Paes. 

Bernardo Proença recebe três homenagens em Petrópolis: um monumento próximo à Estação de Transbordo Imperatriz Leopoldina, o nome de uma rua no bairro do Itamarati e o de um conjunto habitacional em Corrêas. Garcia Rodrigues Paes é lembrado em um monumento em Paraíba do Sul. 

O Brasil, antes desses caminhos, não existia como unidade geopolítica e administrativa. Havia algumas feitorias explorando açúcar no litoral e outros núcleos urbanos na Bahia, Nordeste e São Paulo. Esses caminhos ligaram o interior ao litoral, promovendo uma unificação cultural e de esforços que resultou na ocupação e no desenvolvimento de uma vasta região onde se instalaram fazendas, ranchos, pousos e vendas. Data daí, também, o início da nossa atividade administrativa pública, organizada com o emprego de funcionários para controle da zona mineira, como fiscais, meirinhos, corregedores; a criação dos “Registros” ao longo dos caminhos; monetarização da economia, com a criação da Casa da Moeda, das Casas de Fundição e a formação, enfim, de uma classe média mais sólida, ao lado de outras como a dos mineradores, artesãos, administradores, comerciantes etc.

AS SESMARIAS E ANTIGAS FAZENDAS DA REGIÃO

As primeiras sesmarias distribuídas no “sertão de serra acima do Inhomirim” pelo governo português datam de 1686, e foram dadas a algumas pessoas que, no momento, se destacavam na vida política e na segurança da Colônia. Mas devido à presença dos índios Coroados e das dificuldades de subir a serra, somente com o Caminho Novo e com a concessão de novas glebas a sesmeiros, a atividade econômica desenvolveu a região. Quando Petrópolis foi fundada 130 anos depois, já havia um grande número de fazendas e alguma atividade industrial entre a baía da Guanabara e Vila Rica, conforme descreve o Barão de Langsdorff no primeiro volume de seus diários. Assim, o trânsito pelo Caminho Novo era muito grande. Na região onde seria fundada Petrópolis, as fazendas mais importantes eram: 
Fazenda do Rio da Cidade, na Estrada do Contorno. 
Fazenda do Pe. Correia, em Corrêas. 
Fazenda do Córrego Seco, cuja sede era onde hoje está o Ed. Pio XII (Rua Marechal Deodoro, no Centro Histórico). 
Fazendas Quitandinha, Samambaia, Retiro de São Tomás e São Luiz, Itamaraty, Secretário, que depois deram seus nomes aos bairros da cidade e dos distritos. 
Fazenda da Engenhoca, onde hoje está a Estação de Transbordo de Corrêas. 
Fazenda Mangalarga e Fazenda das Arcas, em Itaipava. 
Fazenda Sumidouro, em Pedro do Rio. 
Fazenda Santo Antônio, na estrada Philúvio Cerqueira (Petrópolis – Teresópolis). 
Fazenda das Pedras, na Serra das Araras.

A FAZENDA DO PE. CORREIA E D. PEDRO I

Antônio Tomás de Aquino Correia, filho de Manuel Correia da Silva, nasceu no Rio da Cidade em 1759, estudou na Universidade de Coimbra e foi ordenado em 1783, passando a ser conhecido como o Padre Correia. Transformou sua propriedade na mais progressiva fazenda da Variante do Caminho Novo, citada por todos os viajantes estrangeiros que por ali passaram quando o Brasil abriu seus portos ao comércio internacional. Em 1829, o viajante inglês Robert Walsh cita em seus diários que lá tomou um excelente suco de pêssego. Refere-se também a plantações de café, mostrando dessa forma a importância da fazenda. A casa grande da fazenda era enorme, com varanda na frente e muito bonita. Havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amor Divino, cuja imagem está atualmente na igreja de Corrêas. Esse conjunto arquitetônico está preservado até hoje como um dos mais antigos e valiosos monumentos coloniais petropolitanos. 

O Padre Correia criava gado mais para corte do que para o aproveitamento de leite. Como o clima era propício, havia o cultivo de cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos, marmelos, milho, maçãs e outras frutas de origem européia. Mas a principal atividade do Padre Correia era cultivo de milho e a fabricação de ferraduras para atender à enorme demanda exigida pelas dezenas de tropas diárias que pernoitavam na Fazenda. Lá também existiam muitos escravos. O Padre Correia foi um dos grandes senhores de terra da região petropolitana. D. Pedro I esteve na fazenda em março de 1822 e retornou várias vezes, passando a ter grande admiração por aquele local. O Padre Correia faleceu em 1824, com 65 anos, de morte repentina, provavelmente problemas cardíacos, tendo Da. Arcângela Joaquina da Silva, sua irmã, herdado a fazenda.

A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS

A fundação da cidade de Petrópolis está intimamente ligada ao Imperador D. Pedro I e ao Pe. Correia. Desde que o Imperador pernoitou na fazenda do padre, de passagem pelo Caminho do Ouro que o levaria às Minas Gerais, ficou encantado com a exuberância e amenidade do clima. Foi seu desejo, então, adquirir a propriedade para seu uso e, em especial, para o tratamento de sua filha, Princesa Dona Paula Mariana, de cinco anos, sempre muito doente e que se recuperou bem quando lá esteve.

A FAZENDA DO CÓRREGO SECO E A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS 

Dom Pedro I sentia a necessidade de construir um palácio fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa não habituadas ao calor tropical. Construir um palácio na fazenda do Padre Correia seria muito oportuno pelo excelente clima da região, que agradaria aos visitantes estrangeiros. Incomodava também ao Imperador a existência de residências muito mais luxuosas que os seus palácios, todos eles muito simples. Um palácio de verão serra acima poderia ser mais qualificado para a sua condição imperial. Além disso, sua filha, a princesinha Da. Paula, que tinha sérios problemas de saúde, vindo a falecer prematuramente aos dez anos, passou um verão na Fazenda do Padre Correia e se sentiu muito bem, repetindo a estadia muitas vezes. Em 1828, D. Pedro I, agora com sua segunda esposa, D. Amélia, continuava a frequentar a fazenda com Da Paula. A comitiva imperial nunca tinha menos de cinquenta pessoas e Da. Amélia sentiu que visitas tão avantajadas estavam trazendo muitos problemas para Da. Arcângela, irmã e herdeira do padre. Pediu então a Dom Pedro que comprasse a Fazenda. O Imperador se entusiasmou com a idéia, mas Da. Arcângela, alegando questões familiares de herança, não concordou com a venda. Ela mesma, talvez querendo se ver livre das incômodas e freqüentes visitas reais, indicou a Dom Pedro I uma fazenda vizinha que estava à venda, a do Córrego Seco, pertencente ao Sargento-Mór José Vieira Afonso. Assim D. Pedro comprou o Córrego Seco por vinte contos de réis, preço considerado muito alto para o valor real da fazenda. A escritura de compra foi assinada em 1830. 

D. Pedro I ainda adquiriu outras propriedades no entorno, no Alto da Serra, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a área de sua fazenda. Ele poderia afinal realizar seu sonho de 1822, construindo um Palácio de Verão. Como enfrentava dificuldades políticas na capital, desejando que reinasse paz entre a Nação e o Trono, passou a chamar o seu Córrego Seco de Fazenda da Concórdia, onde pretendia construir um palácio. Encarregou o arquiteto real Pedro José Pezerat e o engenheiro francês Pierre Taulois de um projeto que denominou Palácio da Concórdia, simbolizando a harmonia que tanto desejava entre a Nação e o ramo brasileiro da Casa dos Bragança. Mas a obra não foi realizada, pois no dia 07 de abril de 1831, o Imperador foi obrigado a abdicar para retornar a Portugal. O projeto do palácio e o orçamento da obra constam dos arquivos do Museu Imperial, infelizmente sem referência quanto ao local da obra.

DOM PEDRO II E O DECRETO DE FUNDAÇÃO

Com a abdicação e morte de seu pai em 1834, D. Pedro II herda essas terras, que passam por vários arrendamentos, até que Paulo Barbosa da Silva, Mordomo da Casa Imperial, teve a iniciativa de retomar os planos de Pedro I, de construir um palácio de verão no alto da serra da Estrela. Era uma vultosa empreitada que iria consumir consideráveis investimentos públicos e privados nos anos seguintes, mas o Império, na década 1840-50, estava em boa condição financeira, com o afastamento dos ingleses da nossa economia, com a proibição do tráfego negreiro, que liberava capitais para investir e, principalmente, com o “boom” do café. O Mordomo já tinha mandado o engenheiro alemão Júlio Frederico Koeler construir a Estrada Normal da Serra da Estrela para tornar possível o acesso de carruagens à Fazenda do Córrego Seco, uma vez que o Caminho Novo era apenas para tropas de mulas. 

Paulo Barbosa e Koeler elaboraram um plano para fundar o que ele denominou “Povoação-Palácio de Petrópolis”, que compreendia a doação de terras da fazenda imperial a colonos livres, que iriam não só levantar a nova povoação, mas, também, seriam produtores agrícolas. Assim nasceu Petrópolis, com a mentalidade de substituir o trabalho escravo pelo trabalho livre.  

No dia 16 de março de 1843, o Imperador, que estava com dezoito anos e recém-casado com Da. Teresa Cristina, assinou o Decreto Imperial nº 155, que arrendava as terras da fazenda do Córrego Seco ao Major Koeler para a fundação da “Povoação-Palácio de Petrópolis”, incluindo as seguintes exigências: 

1- Projeto e construção do Palácio Imperial.
2- Urbanização de uma Vila Imperial com Quarteirões Imperiais.
3- Edificação de uma igreja em louvor a São Pedro de Alcântara.
4- Construção de um cemitério.
5- Cobrar foros imperiais dos colonos moradores.
6- Expulsar terceiros das terras ocupadas ilegalmente. 

O Major Koeler fez a planta geral da povoação-palácio, o projeto do Palácio Imperial e, em janeiro de 1845, colocou na Bolsa de Valores as ações da Companhia de Petrópolis, criada por ele, para a execução de seus planos e projetos. As ações da Companhia foram vendidas em quatro meses e dois meses após, a 29 de junho, começaram a chegar os imigrantes alemães para se instalarem e começar o trabalho. Com recursos financeiros e mão-de-obra livre, a construção da povoação-palácio estava assegurada. Além disso, os governos provinciais de Caldas Vianna, em 1843, e Aureliano Coutinho, em 1845, deram integral apoio ao plano traçado pelo Mordomo Imperial e por Koeler. 

O palácio de verão era uma tradição das monarquias européias. A Casa de Bragança, em Portugal, veraneava no Paço Real e no Palácio da Pena, ambos em Sintra. No Brasil, desde de Dom João VI, a Família Imperial passava seus verões no Convento Jesuíta de Sta Cruz, no Rio de Janeiro, tentando, sem muito sucesso, se livrar do calor do clima de São Cristóvão. Dom Pedro II não tinha muita simpatia nem pelo Convento, nem pela Fazenda de Sta. Cruz. Em 1850, Dom Afonso, primeiro filho do Imperador, tinha dois anos e a Família Imperial estava desde o Natal em Sta Cruz, quando, sem motivo aparente, o menino apareceu morto no seu berço. O monarca ficou desolado e tomou horror pelo Convento, decidindo nunca mais ali voltar, passando a se interessar pelo projeto do seu mordomo. Ele conheceu a Serra da Estrela em 1844, quando esteve na Fábrica de Pólvora. Em 1845, esteve hospedado com a imperatriz na casa-grande do Córrego Seco, especialmente preparada desde outubro de 1843 para recebê-lo.

O MORDOMO-REAL PAULO BARBOSA DA SILVA (1790-1868) 

Paulo Barbosa nasceu em Sabará, MG. Aos quatorze anos era cadete e, em 1810, foi promovido a alferes. Como capitão, foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros. No ano de 1825, embarcou para a Europa em viagens de estudos. Com a queda de José Bonifácio, tutor do imperador, o coronel Paulo Barbosa da Silva passou a ser, por intermédio de uma nomeação, o Mordomo da Casa Imperial, função que ia desempenhar com grande desenvoltura. 

O mordomo Paulo Barbosa, com seu espírito liberal e ecumênico, era contra a escravidão e prestou relevantes serviços ao Império. A sua participação na fundação de Petrópolis foi decisiva quando mobilizou o seu companheiro de arma, o engenheiro Major Júlio Frederico Köeler.

Além disso, foi Ministro Plenipotenciário na Rússia, na Alemanha, na Áustria e na França, onde, em 1851, foi demitido de sua função diplomática. Retornou ao Brasil a chamado de D. Pedro II, em 1854, novamente como Mordomo da Casa Imperial, falecendo em 1868.

O MAJOR JÚLIO FREDERICO KÖELER (1804-1847)

Júlio Frederico Köeler era germânico da Mogúncia, no vale do rio Reno, dominada na época pela França de Napoleão, com suas instituições que valorizavam o mérito e a riqueza em lugar das convenções e privilégios. Os hábitos e o refinamento franceses marcaram profundamente o temperamento do Mj Köeler e orientaram a sua atuação nos primeiros anos da fundação de Petrópolis.

Ainda jovem, ingressou no Exército prussiano, chegando a alferes. Em 1828, foi contratado para servir no Exército Imperial, depois de prestar rigorosos exames perante a Academia Militar do Rio de Janeiro. Casou-se, em 1830, na catedral de Niterói, com D. Maria do Carmo Rebelo de Lamare. 

Afastado do Exército por questões políticas quando foram demitidos todos os oficiais estrangeiros não naturalizados, Köeler foi contratado como engenheiro civil na Província do Rio de Janeiro. Em 1831, já naturalizado cidadão brasileiro, retornou ao Exército e, nos doze anos seguintes, realizou importantes obras públicas na província, uma delas a construção da Estrada Normal da Estrela, que dava acesso a Petrópolis. Em 1843, arrendou a Fazenda Imperial e iniciou o seu trabalho na região. 

O plano urbanístico para Petrópolis era complexo porque a cidade deveria ser levantada entre montanhas, aproveitando o curso dos rios. Ele inverteu o antigo estilo colonial português de construir as casas com o fundo para os rios que eram utilizados apenas como esgoto, como na maioria das nossas cidades. Passou a aproveitar os cursos de água para traçar pelas suas margens as avenidas e as ruas que davam acesso aos bairros. Outro aspecto relevante no plano foi a preocupação com a preservação da natureza, determinada pelo seu código de posturas municipais.

Köeler faleceu num trágico acidente durante um torneio de tiro ao alvo, na Chácara da Terra Santa, de sua propriedade. Sua curta administração frente à colônia de Petrópolis foi decisiva para o que foi realizado nos anos posteriores.

PETRÓPOLIS CIDADE 

Como todo povoado colonial, a cidade nasceu de um curato em 1845, subordinado a São José do Rio Preto e, um ano depois, foi criada a Paróquia de São Pedro de Alcântara, vinculada à Vila da Estrela. Em 1857, onze anos após, foi elevado a município e cidade, sem passar pela condição de vila, o que era, na ocasião, inédito.

Mas o Imperador não desejava essa mudança de status para sua Petrópolis, pois sabia que nessa condição haveria uma administração municipal interferindo nas suas relações com a cidade. O Coronel Amaro Emílio da Veiga, deputado na Assembléia Provincial, depois de duas tentativas sem sucesso por interferência do próprio Imperador, conseguiu aprovar o seu projeto “…elevando a povoação de Petrópolis à categoria de cidade, revogando-se as leis em contrário.” D. Pedro II ficou enfurecido e retaliou, determinando que o Cel. Veiga retornasse ao Exército, impedindo que ele assumisse a presidência da Assembléia Legislativa de Petrópolis, para a qual tinha sido o candidato mais votado nas primeiras eleições municipais. Desgostoso, o Cel. Veiga pediu a reforma do Exército, afastando-se da vida pública, mas continuou morando em Petrópolis até falecer, alguns anos depois. Hoje, ele dá nome a uma importante rua da cidade.

A COLONIZAÇÃO

A COLONIZAÇÃO ALEMÃ

Na primeira metade dos anos 1800, as consequências sociais e econômicas da Revolução Francesa e da Revolução Industrial resultaram numa difícil condição de vida para os povos de língua alemã. A população estava politicamente desiludida e havia discórdia por toda a parte. Ricos e pobres endividados, o desemprego era grande no Rhur, o coração do aço alemão, com muitos problemas nas minas de carvão. Salvo os que viviam da vinicultura, uma parte da população que, movida pela esperança de vida melhor, deixou tudo e partiu para as Américas. A maioria dos colonos que chegou a Petrópolis era natural de aldeias localizadas nos bispados de Treves e Mogúncia, na Renânia e Westphália, (Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt e no Ducado de Nassau), região atualmente conhecida pelo nome de Hunsrück, localizada na confluência dos rios Reno e Mosel. 

Em 1837, aportou no Rio de Janeiro o navio Justine com 238 imigrantes alemães em viagem para a Austrália. Devido aos maus tratos sofridos a bordo, eles resolveram não seguir viagem, permanecendo no Rio de Janeiro. O Mj Koeler soube da ocorrência e se entendeu com a Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro para trazer os imigrantes para trabalhar na abertura da Estrada Normal da Estrela, pagando uma indenização ao capitão do navio. Assim, foi dada permissão aos colonos de desembarcarem no Rio de Janeiro. Estes, sob as ordens de Koeler, estiveram primeiramente trabalhando no Meio da Serra, depois foram para o Itamarati. 

A segunda leva de colonos foi planejada pelos presidentes da província João Caldas Viana e Aureliano Coutinho para trabalhar em obras na província, mas eles acabaram em Petrópolis, locando no terreno do plano urbanístico traçado por Koeler. Foram 600 casais de colonos alemães contratados em 1844, exigindo-se que fossem artífices e artesãos com experiência.

Treze navios deixaram Dunquerque com 2.338 imigrantes, o primeiro deles chegando ao porto de Niterói em 13 de junho e o último em 7 de novembro de 1845, sendo os imigrantes alojados em barracões ao lado da igreja matriz. Acertados os trâmites legais, eles foram transferidos para o Arsenal de Guerra do Rio, onde se acha hoje instalado o Museu Histórico Nacional, ficando por lá alguns dias e, então, seguiram viagem pela baía da Guanabara e pelo rio Inhomirim até o Porto da Estrela. De lá, para o Córrego Seco, foram a pé ou a cavalo, com escalas na Fábrica de Pólvora e no Meio da Serra, onde existiam ranchos para os viajantes.

Muitos dos colonos que deixaram Dunquerque não chegaram a Petrópolis em conseqüência do mau passadio a bordo e do surto de febres nos depósitos. Outros, especialmente crianças, não resistiram à penosa subida da serra e foram enterrados pelo caminho. O diplomata belga, Auguste Ponthoz, em seu livro “Avaliação sobre o Brasil”, afirma que 252 imigrantes morreram, sendo 56 nos portos ou na viagem para Petrópolis.

Vieram muito mais alemães católicos do que protestantes. No dia 19 de outubro de 1845, na praça Koblenz, dia de São Pedro de Alcântara, num altar ornamentado com flores silvestres, o Padre Luís Gonçalves Dias Correia celebrou uma missa para os católicos e o pastor Frederico Ave-Lallemant professou um culto para os protestantes. O Presidente da Província, Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, compareceu a essa solenidade, tendo feito um grande elogio ao trabalho dos colonos. 

Foram muitas as dificuldades iniciais. Logo que aqui chegaram, foi necessária a compra de 200 cabras para alimentar as crianças, já que suas mães não tinham leite, devido às agruras da viagem. Köeler planejou uma colônia agrícola em Petrópolis sem estudo prévio da geologia do terreno, o que resultou no fracasso do empreendimento. Os colonos abriram estradas, derrubaram matas para a construção de residências e semearam suas hortas para consumo e foram utilizados nas obras públicas, retificando os rios, drenando os lodaçais e construindo os prédios da povoação. 

Para tornar mais fácil a adaptação dos colonos alemães à nova terra, Koeler nomeou os quarteirões de Petrópolis com o nome de suas regiões de origem, como Mosela, Palatinato, Renânia, Nassau, Bingen, Ingelheim, Simeria, Castelânia, Westphalia. Ele também homenageou a Família Imperial em dois quarteirões, Vila Imperial e Vila Teresa. Em 1854, Otto Reimarus, que continuou o trabalho de Koeler, criou os quarteirões de Darmstadt, Woerstadt, Worms e outros. Também prestou homenagem às várias nacionalidades de imigrantes de Petrópolis, nomeando outros quarteirões: Quarteirão Francês, Quarteirão Suíço, Quarteirão Inglês e mais tarde o Quarteirão Italiano. Para os brasileiros que ajudaram a construr Petrópolis, dedicou o Quarteirão Brasileiro e o Quarteirão Mineiro. 

Hoje, os descendentes dos colonos estão por toda a cidade e seus nomes de família podem ser encontrados no Obelisco do centro da cidade, nos guias telefônicos e dão nomes a ruas e praças. O progresso dos colonos alemães dinamizou Petrópolis, contribuindo para o seu desenvolvimento. O seu trabalho e a sua lembrança fazem parte da cidade. 

OUTROS IMIGRANTES COLONIZADORES 

Aos alemães, os primeiros colonizadores, juntaram-se muitas nacionalidades num caldeirão étnico. A princípio, cada uma fechada em suas famílias, mas integrando-se pouco a pouco, como aconteceu em todo o Brasil. 

Os portugueses, principalmente açorianos, alguns antes mesmos dos alemães, vieram para trabalhar na construção da Estrada da Serra da Estrela, em pedras de cantaria e comércio. Surgiram, em torno da cidade, comunidades portuguesas de floricultores.

Os franceses não vieram todos juntos, foram chegando aos poucos e se dedicaram à alimentação, à educação, à jardinagem e à confecção de peças de serralheria.
 
No início, os italianos trabalharam na Companhia Petropolitana de Tecidos, formando uma comunidade com vida própria, quase independente da cidade. Aos poucos foram se aproximando de outros grupos. Atuaram também em panificação, distribuição de jornais e diversas outras.

Os ingleses se destacaram em hotelaria e transportes. Também merecem destaque os imigrantes suíços, belgas e libaneses, completando a formação cosmopolita do petropolitano.

PETRÓPOLIS NO IMPÉRIO

Durante todo o 2° Reinado, a presença de D. Pedro II em Petrópolis se destacou, acima de qualquer outra personalidade, por sua influência, pela constância da sua presença e do seu amor à cidade. “Fale-me de Petrópolis”, pedia a quem o visitava no exílio, pouco antes de falecer. Na colonização, os alemães, que receberam toda a proteção e simpatia do Imperador, sempre lhe prestaram as maiores homenagens, chamando-o de “Unser Kaiser” (Nosso Imperador). A temporada de verão na Serra da Estrela durava até seis meses, de novembro a maio, quando então a tutela imperial era transferida para Petrópolis. Desde 1848, somente nos anos difíceis da Guerra do Paraguai, a vilegiatura serrana do imperador foi interrompida. Nos dois últimos anos do Império, sua saúde se deteriorou com a diabetes, a ponto de ele se retirar de um espetáculo a que assistia no Hotel Bragança. Os médicos e sua família procuraram mantê-lo em Petrópolis. Com o Imperador na cidade, ela se tornava a capital do Império e centro da atenção nacional. Proclamada a República, foi em Petrópolis que ele recebeu a notícia de seu exílio.

A cidade se desenvolvia rapidamente, com forte tendência aristocrática, por força da presença do Imperador e de sua corte nas temporadas do verão petropolitano. Nobres, políticos, diplomatas, grandes senhores e toda sua “entourage”, ricos negociantes e a intelectualidade da época se transferia para Petrópolis, durante um semestre a cada ano. Palacetes eram construídos para morada dessa gente abonada. Quem não tinha moradia se hospedava em hotéis e casas de família. E a cidade assumia um aspecto elegante. Muitos desses palacetes hoje fazem parte do patrimônio arquitetônico do Centro Histórico da cidade, cuja preservação é imprescindível para o desenvolvimento turístico e cultural de Petrópolis. 

Mas o protocolo da serra era simples, podendo o Imperador ser encontrado circulando pela cidade de vitória ou mesmo a pé. Eventualmente, entrava na sala de aula de uma escola e passava a fazer perguntas aos espantados alunos. Carolina Nabuco contava que sua mãe viu certa vez a princesa Isabel saindo de sua casa, em frente à Catedral, recomendando ao Conde d’Eu: “Gaston, não esqueça a chave do portão!”

Sem perder suas características de veraneio, a cidade se modernizava, acompanhando a tendência geral da segunda metade dos anos 1800. Alguns sinais dessa modernidade são descritos a seguir. 

O renomado ensino de respeitados colégios como o Kopke, o Calógeras, o de Frederico Stroele, o NS de Sion, o Santa Isabel e as escolas de educadoras francesas, como as de Mme Dienes, Mme Taulois e Mme Geslin.

A construção do Hospital Santa Teresa, inaugurado em 1876, com participação ativa de Dom Pedro II.

Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, criou a a linha de barcos a vapor e a estrada de ferro que ligava Petrópolis ao Rio de Janeiro. Essa viagem começava no Cais dos Mineiros do Rio e ia até o Porto de Mauá, no fundo da Baía da Guanabara, em pequenos vapores muito confortáveis, com orquestra e sala de refeições; do Porto de Mauá até a Raiz da Serra usava-se a primeira estrada de ferro do Brasil, em 1854, e daí, em diligências até Petrópolis pela Estrada Normal da Estrela. Em 1883, foi inaugurada a Estrada de Ferro do Príncipe Grão-Pará, vencendo a Serra da Estrela em cremalheira, notável obra de engenharia na época, que substituía as diligências serra acima.

Hotéis para veranistas e visitantes ilustres foram inaugurados. O Hotel Bragança, que funcionou por quase 80 anos e foi derrubado para a abertura da rua Alencar Lima tinha noventa e dois quartos, salões de festas, de bailes e um teatro. Mas havia outros, como o Hotel Suíço, o João Meyer, ponto de reunião de colonos, o Hotel Europa, que hospedou o Imperador Maximiliano do México, em 1848, e o Orleans, onde hoje funciona a Universidade Católica de Petrópolis, na Rua Barão do Amazonas.

A indústria de tecidos encontrou fatores favoráveis na cidade, como o clima úmido, a energia hidráulica e a mão-de-obra qualificada. A Imperial Fábrica de São Pedro de Alcântara, a Companhia Petropolitana, a Aurora, a Werner, a Santa Helena, a Da. Isabel e a Cometa faziam de Petrópolis o mais importante polo têxtil do país.

A construção de modernas estradas de rodagem facilitavam o acesso à cidade. Entre elas, a Estrada para Paty do Alferes, a Estrada Normal da Estrela, que vinha do Porto da Estrela até Petrópolis (1843), e a União e Indústria, que ia de Petrópolis para Juiz de Fora (1856).

Assim, com sua animada vida social, Petrópolis competia com o Rio de Janeiro durante todo um semestre por ano, levando a grande vantagem de oferecer um clima ameno aos seus visitantes. Em conseqüência, a cidade ostentava um grande número de primeiros lugares no Brasil, como a Estrada Normal da Estrela, a primeira estrada de rodagem de montanha, a União e Indústria, a primeira estrada macadamizada, a primeira cidade totalmente planejada antes de ser iniciada a sua construção e o primeiro trem a subir uma montanha.

PETRÓPOLIS NA REPÚBLICA

Com a Proclamação da República em 1889, que resultou no banimento e no exílio da Família Imperial, temia-se que a cidade fosse ameaçada por retaliações republicanas e perdesse o seu prestígio. Mas isso não aconteceu. As funções administrativas passaram a ser exercidas por intendentes nomeados pelo governador do estado até 1892, quando Petrópolis passou a ser governada pela sua Câmara, situação que perdurou até 1916, quando foi criada a Prefeitura Municipal, tendo Oswaldo Cruz como seu primeiro prefeito, nomeado por Nilo Peçanha, então Presidente do Estado do Rio de Janeiro. Internamente, tentando se alinhar com as novas idéias e apagar as lembranças da Monarquia, os políticos começaram a mudar os nomes das ruas, substituindo os antigos nomes imperiais pelos seus novos valores: 

Rua do Imperador…….Av. 15 de novembro
Rua da Imperatriz…….Av. 7 de setembro
Rua Princesa Isabel…..Rua 13 de maio
Rua de Bourbon……….Rua João Pessoa, depois Nelson de Sá Earp.
Rua de Joinville………..Rua Ipiranga
Rua Da. Francisca……..Rua Gen. Osório 

Significativos para a cidade foram os oito anos em que ela se transformou na capital do Estado do Rio de Janeiro. Em 1893, ocorreu a Revolta Armada em Niterói contra o governo de Marechal Floriano Peixoto e foram cortadas todas as comunicações entre o Rio de Janeiro e Niterói. Com a capital do estado ameaçada, o governo foi transferido de Niterói para Petrópolis em 1894. José Tomás Porciúncula era o governador e o retorno só aconteceu em 1902. O município, que tinha 29.000 habitantes e chegava a 35.000 no verão, já estava recebendo energia elétrica e duas surpreendentes modernidades ocorreram em 1896: bondes elétricos passaram a circular na cidade e aí ficaram até 1939; e o primeiro automóvel subiu a serra, um “Decauville”, em 1902, movido a benzina e não tinha silencioso. 

Quando Petrópolis deixou de ser capital do Estado, pensou-se novamente que a cidade perderia seu prestígio e ficaria esquecida. Ao contrário, por muitos anos, o desenvolvimento foi mantido, ao lado da sua vocação turística. Quando surgia uma epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro, muitas pessoas se mudavam para Petrópolis, que estava livre desses males pela salubridade do clima. 

Os republicanos também se renderam aos encantos da Serra da Estrela. De 1894 a 1903, o Ministério das Relações Exteriores praticamente funcionou em Petrópolis, decidindo questões vitais como a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexou o Acre à Federação.

Nos anos seguintes, com exceção de Floriano Peixoto, Delfim Moreira e Castello Branco, todos os presidentes da República, desde Deodoro da Fonseca até Costa e Silva, veranearam em Petrópolis. A cidade, que antes se transformava em capital do Império, agora se tornava capital da República com a presença de expressivas personalidades como Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Santos Dumont, Conde Afonso Celso, Hermes da Fonseca e sua mulher, Nair de Teffé, Pandiá Calógeras, Henrique Lage, Ruy Barbosa, Joaquim Murtinho, Stefan Zweig, Edson Passos, Eugênio Gudin e tantas outras. Ficou preservado o seu ambiente culto, aristocrático e refinado. Durante o verão, no início da noite, a estação ferroviária se transformava num “point” social, repleta com as famílias esperando a chegada do “trem dos maridos”. Com eles vinham também as notícias do dia. 

Epitácio Pessoa, em 1920, construiu o prédio do I° Batalhão de Caçadores, trazendo para a cidade a tropa do Exército, hoje 32° Batalhão de Infantaria, uma das tradições petropolitanas. Em 1922, ele construiu o belo prédio dos Correios em arquitetura neoclássica. Em 1928, foi construída a primeira rodovia asfaltada do país, que ligava o Rio a Petrópolis e que recebeu o nome de Washington Luiz, uma homenagem ao presidente que teve essa importante iniciativa para a vida da cidade. 

Talvez Getúlio Vargas tenha sido o presidente que mais se aproximou e se interessou por Petrópolis. Até hoje, muitos ainda se lembram dele caminhando pelas ruas da cidade, com as mãos cruzadas nas costas. O Museu Imperial e o Mausoléu dos Imperadores devem a ele a sua existência. Getúlio Vargas, em Petrópolis, na visão de José Luiz Alquéres, de certa forma repete a época imperial pela concentração e continuidade do poder central durante o Estado Novo, pela afetividade do povo petropolitano com a família Vargas e pelo trânsito político que beneficiou seus parentes, como a filha Alzira – qual uma nova princesa Isabel, sua mulher Darcy e seus aparentados Amaral Peixoto, João Goulart, Celina e Moreira Franco. Tudo isso contribui para dar a Getúlio uma aura só superada pelo velho imperador, com o qual, inconscientemente ou não, procurou se identificar.

Essa nova “corte imperial” mudou a cidade. O suntuoso Hotel-Cassino Quitandinha, aberto em 1944, se tornou conhecido em todo o país e atraiu o jet-set internacional para Petrópolis. Orson Welles, Errol Flynn e outros nele se hospedaram. Com a proibição legal do jogo em 1946, o hotel perdeu o esplendor, mas até hoje seu prédio, conhecido como Palácio Quitandinha, é atração na cidade. 

OS VALORES PETROPOLITANOS

A partir de 1960, a cidade não conseguiu os grandes investimentos de que necessitava para se modernizar e poder enfrentar a crescente concorrência comercial e industrial. Houve então a grande mudança de rumo na vida do petropolitano e da sua cidade, que se voltou cada vez mais para a sua tradição histórica, para a urbanização e arquitetura que ficaram de seu passado e para a beleza e preservação da sua natureza. A cada dia, novas mansões e palácios abriam suas portas para visitação. A Prefeitura de Petrópolis planejou e organizou o setor de turismo e cultura e uma extensa rede de facilidades foi sendo oferecida ao turista, como informações, eventos, pousadas e hotéis, restaurantes e outras atrações cheias de requinte e particularidades, capazes de atrair o interesse do visitante. 

Em 1979, um grupo de petropolitanos animados, corajosos e vibrantes com sua cidade se movimentou em torno de entidades preservacionistas como a APANDE e sensibilizou o presidente João Figueiredo, conseguindo que fosse assinado o Decreto 80, em 1981, impedindo demolições e construções que descaracterizavam o Centro Histórico. E ele atribuiu à cidade o título de CIDADE IMPERIAL. Com apenas cinco artigos no seu decreto, Figueiredo salvou o que restou da Petrópolis imperial. Nos anos seguintes, em conjunto com os moradores, a Câmara Municipal promulgou um bem elaborado código de posturas municipais que garantiu as tradições e os valores da cidade.

Tanto no Império como na República, Petrópolis se desenvolveu, sempre estimulado pela presença de pessoas ilustres que amaram a cidade e aqui passaram boa parte de suas vidas. Muitos deles estão sepultados em Petrópolis e foram incorporados ao patrimônio cultural de nossa cidade. Especialmente a sua rica tradição ligada à Família Imperial brasileira, em particular a figura de D. Pedro II, passou a ser um valor significativo para a cidade e um forte apelo para turismo cultural de maior grandeza. 

A educação também é um expressivo valor petropolitano. Os alunos do nosso ensino fundamental público e privado sempre se destacaram nas avaliações oficiais. Também os estudantes do ensino superior, representados pela Universidade Católica de Petrópolis, Faculdade de Medicina de Petrópolis, Universidade Estácio de Sá e, desde 2015, pela primeira universidade pública do munícípio, com a instalação do campus da Universidade Federal Fluminente na cidade, entre outras, destacam-se na vida profissional.

Para que esses valores histórico-culturais possam se transformar em riqueza para a cidade, estão sendo feitos grandes esforços pela iniciativa privada e pelo poder público, com ações diretas como investimentos na educação, na divulgação e, principalmente, na transformação da consciência dos que vivem em Petrópolis para que se sensibilizem com esses valores e recebam com toda atenção aqueles que vierem nos visitar. 

Outras cidades imperiais da América Latina são Ciudad Imperial, no sul do Chile, e a Vila Imperial de Potosi, na Bolívia, que foram as primeiras e receberam seus títulos concedidos por Carlos V. Dom Pedro I deu o título de Imperial à Cidade a São Paulo, à Vila Rica (Ouro Preto) e a Montivideo, querendo consolidar a presença militar brasileira na Banda Oriental do Rio da Prata em 1825. Os regentes de 1831 chamaram uma pequena vila de Goiás de Vila do Porto Imperial. Finalmente, Dom Pedro II preferiu denominar nossa vizinha como Imperial Cidade de Niterói em 1841. Todas essas concessões foram rigorosamente legais, concedidas por decretos oficiais. Petrópolis, porém, entre todas essas, é a única que nasceu sob o patrocínio e com a proteção de Dom Pedro II, em terras da Família Imperial. Até a sua morte, nosso Imperador nunca se desligou de sua cidade. Petrópolis é cidade imperial oficiosa, mas com todo o direito e o orgulho desse título de nobreza.

 

Texto de autoria do Prof. Antonio Eugênio Taulois (Instituo Histórico de Petrópolis)

 

BIBLIOGRAFIA

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