OMS emitiu alerta para nove países em razão da rápida expansão da contaminação: Veja abaixo vídeo explicativo
O aumento do número de casos suspeitos de microcefalia e da Síndrome Guillain-Barré, uma doença neurológica rara, de origem autoimune, motivou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a emitir um alerta global na terça-feira passada para que os 140 países-membros reforcem o monitoramento em torno do zika vírus. No documento, a OMS reconhece a relação entre o crescimento dessas doenças com a infecção viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e da febre amarela.
O surto recente no Brasil e na Colômbia pegou de surpresa a OMS, já que ainda faltam evidências científicas sobre outras formas de contaminação ou como o vírus pode se espalhar. No banco de dados do PubMed, um serviço da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, que reúne mais de 25 milhões de publicações científicas, uma busca pelo vírus retorna 210 resultados. Sobre dengue, são encontradas mais de 14 mil publicações e sobre o chikungunya, 2,4 mil.
Em Uganda, foi documentado pela primeira vez a presença do vírus em um macaco usado para pesquisas sobre febre amarela. O animal contraiu a doença na Floresta de Zika, por isso o nome. Em 1948, vírus foi identificado em mosquitos aedes africanos capturados na mesma floresta.
1948
Vírus foi identificado em mosquitos aedes africanos capturados na mesma floresta.
Na semana passada, um artigo intitulado An obscure mosquitoborne disease goes global (em tradução livre, Uma doença obscura transmitida por mosquitos se espalha pelo mundo), publicado na revista Science, reflete as muitas questões que ainda intrigam a comunidade científica. De acordo com o autor, cientistas preveem que a doença pode chegar ao sul da Europa, já que o inseto transmissor está se disseminando pelo mundo.
Essa questão da transmissão maternofetal no Brasil deu uma relevância maior ao zika pela relação com os casos de microcefalia, uma doença grave. Isso é o que despertou o alerta pelo mundo. Ainda há poucas pesquisas sobre o zika — avalia Celso Granato, professor da disciplina de doenças infecciosas e parasitárias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com o boletim, nove países das Américas já confirmam a circulação do vírus: Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname, Venezuela e Chile, onde foi reportada pela primeira vez, em 2014, a presença do zika. O texto reforça que as autoridades devem acompanhar o surgimento de má-formações e doenças congênitas e orienta até mesmo que pacientes sejam isolados em caso de suspeita. O uso de mangas longas, calças e mosquiteiros também foi indicado pela entidade.
— O risco de ter uma epidemia no Brasil e nas Américas é alto. Estamos falando de uma doença disseminada por um vetor muito presente em diversas regiões e de uma população suscetível, já que não há tratamento específico nem vacina — diz
José Cerbino, médico infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).
Além do Aedes aegypti, há casos documentados de que o vírus também pode ser transmitido pelo sangue — como por exemplo, em transfusões — e pelo sêmen. Em 2008, um americano que viajou à trabalho ao Senegal teria transmitido a doença para a mulher, que não saiu dos Estados Unidos, por meio de relações sexuais. A duração do vírus no sangue, em média de cinco dias, dificulta uma investigação maior sobre os diferentes tipos de contaminação. Mas essas ainda são hipóteses levantadas pelos pesquisadores. O foco de prevenção continua sendo a eliminação do mosquito que, com o passar do tempo, tem mostrado maior capacidade de adaptação a diferentes regiões.
— Se essas descobertas têm relevância, é muito difícil de saber. É necessário um maior número de pesquisas para haver essa definição. O vírus do zika é muito parecido com a dengue e com a febre amarela, têm características biológicas muito parecidas, e para essas doenças, transmissão sexual não tem relevância como alerta para saúde pública. É possível que aconteça, mas não é frequente — afirma Granato.
Em 2015, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram registrados mais de 1,5 milhão de casos prováveis de dengue. Segundo Granato, nos locais onde há os vírus da mesma família, os casos podem ser confundidos no momento do diagnóstico. É possível, alerta o pesquisador, que casos tidos como dengue podem ter sido de zika, já que do ponto de vista clínico, os dois apresentam os mesmos sintomas, como febre, dor muscular e dor nas juntas.
Antes de 2007, eram raras as ocorrências fora da África, onde foi detectado o zika pela primeira vez. Naquele ano, na Micronésia, região do Pacífico, a ilha de Yap, com população de 7,3 mil habitantes, segundo levantamento de 2000, foi tomada pelo vírus e cerca de 70% da população foi infectada, mas nenhuma morte foi registrada.
Há hipóteses de que o vírus tenha chegado ao Brasil com o fluxo intenso de turistas na Copa do Mundo de 2014 ou até mesmo durante uma competição internacional de canoagem, quando atletas da Polinésia Francesa vieram para o Rio de Janeiro em agosto. Um dos maiores surtos ocorreu entre 2013 e 2014, exatamente naquela região do Oceano Pacífico, onde estima-se que 11% da população procurou tratamento médico por causa da doença.
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