Óleo de capim-limão elimina fungos de semente de cebola
A partir da demanda do setor orgânico por sementes de hortaliças livres de produtos químicos, pesquisadores da Embrapa avaliaram tratamentos alternativos baseados na aplicação de óleos essenciais de plantas aromáticas e descobriram que o capim-limão é a espécie mais indicada para desinfetar sementes de cebola contaminadas com uma determinada espécie de fungo. O produto natural pode ser alterativa a produtores orgânicos ou que tenham restrições para usar fungicidas.
“Além de não comprometer o potencial germinativo da semente de cebola, o óleo de capim-limão inibiu em 100% a germinação dos esporos do fungo”, quantifica a agroindustrial Maria Isabel Lozada, estudante de mestrado da Universidade de Brasília (UnB) e bolsista da Embrapa Hortaliças, para quem o óleo pode ser considerado uma alternativa promissora para o controle desse microrganismo nocivo à qualidade das sementes de cebola.
Trata-se do fungo Colletotrichum gloeosporioides f. sp. cepae que, nas épocas quentes e chuvosas, causa uma doença bastante destrutiva chamada de antracnose ou mal-de-sete-voltas. Além de ocasionar lesões nas folhas da cebola, essa doença afeta os bulbos, que podem apresentar má-formação e, nos casos mais extremos, podridão. Mesmo quando a planta resiste ao microrganismo, os bulbos de cebola não atingem o padrão comercial do mercado.
“Esse fungo pode deteriorar a semente no armazenamento, inviabilizando sua germinação ou a emergência da planta que, caso se desenvolva, pode manifestar a doença e comprometer a produção”, explica o pesquisador Warley Nascimento, da área de Tecnologia de Produção de Sementes, que lidera o projeto de pesquisa.
Geralmente, para controlar esse microrganismo aplica-se nas sementes de cebola, antes de efetuar a semeadura direta no campo, um tratamento convencional à base de fungicidas de amplo espectro de ação. Contudo, na busca por métodos alternativos para o sistema orgânico, foram testados óleos essenciais de cinco espécies: manjericão, sálvia, tomilho, citronela e capim-limão. “Os tratamentos alternativos com os óleos essenciais dispensam a utilização de fungicidas e propiciam melhor qualidade de vida para os produtores rurais”, pondera Nascimento ao informar que esse método é indicado para a agricultura familiar, mas também pode ser utilizado no sistema convencional para minimizar a dependência de insumos químicos.
Foram analisadas diferentes concentrações dos óleos essenciais diluídos em água para identificar não somente o melhor óleo, mas a dose ideal para que o fungo seja eliminado sem prejuízo da germinação da semente de cebola.
As concentrações mais altas, de quatro mil a oito mil partes por milhão (ppm), foram descartadas porque inviabilizaram a perfeita germinação das sementes de cebola. Logo, as demais análises tiveram continuidade somente com as diluições de mil e dois mil ppm. “Após ajustar a dose, também estudamos os efeitos dos óleos essenciais em relação a vigor e resistência, além de outras características referentes à qualidade fisiológica da semente”, complementa.
Considerando que o padrão para a comercialização de sementes de cebola no País estabelece um percentual mínimo de 80% de germinação, todos os óleos analisados ficaram acima desse valor. A semente embebida em óleo de capim-limão foi a única que apresentou taxa de germinação superior à obtida pela semente não tratada, alcançando 97% de germinação.
O efeito dos óleos essenciais
O tratamento de sementes tem dois objetivos principais: desinfestar a semente e protegê-la de microrganismos prejudiciais presentes no solo. O papel do óleo essencial atende o primeiro objetivo, uma vez que ele elimina o microrganismo que está aderido à superfície da semente. “Os óleos essenciais não apresentam efeito residual a ponto de blindar a semente no solo, mas eles têm muito mérito ao garantir uma semente sadia e livre de contaminantes”, analisa o pesquisador da Embrapa Ricardo Pereira, da área de Fitopatologia.
Os óleos essenciais possuem compostos químicos que exercem efeito tóxico no fungo que prejudica as sementes de cebola. Os tipos e as quantidades desses compostos são variáveis em cada óleo, por isso eles apresentam resultados diferentes no tratamento das sementes. De acordo com Maria Isabel, não necessariamente a ação desinfetante do óleo de capim-limão se dá pela presença de uma substância majoritária, mas sim pela combinação dos compostos químicos.
Na próxima fase da pesquisa, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a equipe pretende analisar o efeito dos óleos essenciais em sementes de outras dez espécies de hortaliças, entre elas alface e cenoura, tanto para tratamento contra fungos quanto para bactérias.
Produção nacional de sementes
O Brasil produz quase a totalidade das sementes de hortaliças de polinização aberta que utiliza, porém, grande parte da produção de sementes híbridas é feita no exterior. Em um mercado que movimenta cerca de R$ 550 milhões por ano, mais de 70% desse valor corresponde à comercialização de sementes híbridas. “Devido à escassez e ao custo da mão de obra, as empresas de sementes optam pela produção no exterior e, com isso, perdemos divisas e ficamos mais vulneráveis à entrada de pragas exóticas no País”, analisa Nascimento.
A produção de sementes de hortaliças, seja convencional ou orgânica, demanda expertise e investimento tecnológico por parte do agricultor. Para o setor orgânico, especificamente, a adoção de novas práticas torna-se imprescindível após a Instrução Normativa nº 46/2011, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que veda o uso de agrotóxico sintético no tratamento e na armazenagem de sementes e mudas orgânicas.
De acordo com a normativa, a partir do próximo ano, cada estado deverá produzir uma lista anual com as espécies que somente poderão ser cultivadas com sementes orgânicas, em função da disponibilidade do mercado em atender essas demandas. Se houver indisponibilidade de sementes oriundas de sistemas orgânicos, fica autorizada a utilização de outros tipos de sementes, porém será dada preferência àquelas não tratadas com agrotóxicos. “Por isso, a partir de tratamentos alternativos, esperamos que a cadeia de produção orgânica de sementes fique mais competitiva para atender esse nicho de mercado em expansão no País”, contextualiza Nascimento, que acrescenta: “uma semente de qualidade é o ponto de partida para uma lavoura sadia e produtiva”.
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