Aproximadamente 140 pessoas participaram, em duas datas diferentes, do primeiro módulo do curso de recuperação de áreas degradadas (RAD) promovido pela Embrapa Agrobiologia (Seropédica/RJ), sobre restauração e adequação ambiental de propriedades rurais. Representantes de secretarias municipais de diversas cidades do Rio de Janeiro, empresas ligadas à recuperação ambiental e instituições como Emater-Rio, Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj), Pesagro-Rio, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Cooperativa Cedro, Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio), entre outras, estiveram presentes, nos dias 1º e 8 de dezembro.
“Decidimos fazer um curso voltado para extensionistas, multiplicadores, justamente pensando na transferência de tecnologia, de conhecimento”, explica o pesquisador Sérgio Miana, coordenador do curso. O primeiro módulo do curso foi conduzido pelo pesquisador Luiz Fernando Duarte de Moraes, que falou sobre tipos de ação em restauração ecológica, uso das terminologias recuperação, reabilitação e restauração ambiental, identificação de barreiras para a regeneração natural, restaurações passiva e ativa e modelos de restauração, entre outras abordagens.
O módulo também trouxe tópicos relacionados à legislação e políticas públicas, aspectos socioeconômicos da restauração ecológica, serviços ecossistêmicos, relação com o setor produtivo rural, agrobiodiversidade e manejo florestal. “A grande procura sinaliza como o tema está atual, demandando a transferência de conhecimento e tecnologia. E isso devolve para a gente um senso de responsabilidade, um momento para refletirmos sobre o que estamos fazendo de pesquisa”, aponta Luiz Fernando.
Emater, Rio Rural e a recuperação de áreas degradadas
A recuperação de áreas degradadas e a adequação ambiental das propriedades rurais são práticas incentivadas pela Emater-Rio dentro do programa Rio Rural, do governo estadual. “Conhecer todas as informações e técnicas que nos possibilitem ampliar esse incentivo é muito interessante. Levaremos esse conteúdo para gerentes técnicos estaduais e coordenadores regionais. Certamente os que estão aqui hoje serão multiplicadores desse conhecimento”, afirmou o coordenador de planejamento da Emater-Rio, João Batista.
De acordo com ele, o reflexo do repasse e da aplicação das informações pode até mesmo contribuir para que os recursos do programa sejam aplicados de uma forma mais eficiente. “A gente espera conseguir fazer essa recuperação e usar algumas técnicas já demonstradas que até reduzem os custos, permitindo que, com o mesmo recurso que hoje a gente disponibiliza ao produtor, consigamos atingir uma área muito maior em termos de recuperação de degradação ao longo dos anos”, reforçou.
Informações direto para o produtor rural
A cidade de Rio Claro, no sul fluminense, vem desenvolvendo um trabalho consistente junto aos produtores rurais para o incentivo à recuperação de áreas degradadas, com o pagamento por serviços ambientais prestados, no escopo de projeto estadual que envolve o governo, o Inea, o Comitê Guandu, a prefeitura, ongs, entre várias outras instituições. O valor suplementa a renda familiar, mas não possibilita que os agricultores deixem de trabalhar em suas lavouras, o que acaba por deixá-los indecisos na hora de aceitar ou não o incentivo. “Muitos só veem os benefícios gerados para o ecossistema, para a restauração e recomposição florestal, e não conseguem perceber o ganho que podem ter integrando o serviço ambiental com a atividade agrícola. Então viemos aqui em busca de informações, de subsídios para convencer o produtor rural a se adaptar e aceitar o programa”, explicou o secretário de Meio Ambiente e Agricultura da cidade, Ronaldo Artur Sabino de Figueiredo.
De acordo com ele, atualmente participam do programa no município cerca de 80 propriedades, que foram colocadas à disposição para a instalação, a manutenção e a recuperação de áreas ambientais. “É uma área bem expressiva e a recuperação é evidente”, conta o secretário. Ele explica que o programa começou ali em 2008 e hoje já existem áreas reflorestadas e bem recuperadas. “Queremos ampliar a participação. Mostrar que nas áreas onde as florestas são mais conservadas há até uma terra melhor para o cultivo, desde que o produtor não agrida o meio ambiente e não faça o que não deve. Há técnicas para que ele possa fazer sua criação de gado, seu plantio, sem agredir o que está sendo feito para a recuperação das áreas que foram degradadas anteriormente. Já temos bons resultados”, pontua.
RAD e aquicultura
A diversidade de profissionais presentes nos dois dias de atividade reforçou a demanda pelo tema, que ganhou contornos mais específicos após a promulgação do novo Código Florestal. Engenheiro agrônomo e chefe-de gabinete da Fiperj, Benito Igreja Junior exemplifica a extensão da aplicação das técnicas de RAD e da adequação ambiental com o universo da aquicultura: “Não trabalhamos somente com a pesca extrativa, mas temos uma visão muito mais ampla. Se não cuidarmos da conservação do solo e da água – e aí entra todo o contexto do meio ambiente – não estaremos tendo essa visão. A recuperação e a adequação ambiental interessam tanto do ponto de vista agronômico quanto do da conservação e da dinâmica da paisagem”, aponta.
A zootecnista Liliane Miranda Joels, proprietária da empresa de consultoria Sempre Sustentabilidade, do Rio de Janeiro, concorda, destacando também a adequação à legislação ambiental, hoje representada principalmente pelo Código Florestal. Para ela, a qualidade das informações e a possibilidade do intercâmbio de conhecimentos entre profissionais diversos foram pontos que enriqueceram o evento. “Tenho participado de vários cursos da Embrapa, principalmente na Região Serrana, no NPTA, e vemos sempre a participação das pessoas. Há uma troca muito grande”, afirma.
Sobre os próximos módulos
O curso de Recuperação de áreas degradadas, produção de mudas e adequação ambiental de propriedades rurais foi estruturado em cinco módulos, com o objetivo de contribuir para a capacitação de quem lida cotidianamente com o setor, conferindo qualidade técnica na implementação do Cadastro Ambiental Rural e aumentando a oferta de capacitação de alto nível em apoio às diversas políticas públicas existentes.
O próximo módulo do curso, no dia 4 de fevereiro, será sobre sementes, mudas e inoculantes. Na ocasião, serão tratados temas como a legalização da atividade de coleta de sementes e de produção de mudas, a organização do setor florestal, a colheita de sementes em áreas protegidas, a seleção de árvores matrizes para restauração ambiental e o manejo de sementes florestais. Também serão abordadas as práticas de inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio e de inoculação de fungos micorrízicos, entre outros tópicos.
Integram ainda o curso módulos sobre sistemas agroflorestais (SAFs), estratégias usadas na recuperação de áreas degradadas e produção de mudas de espécies florestais nativas da Mata Atlântica. “São temas que se complementam e, por isso, pensamos em um curso mais robusto, para atender à demanda existente de uma forma mais ampla”, informa o analista Ernani Jardim, do Setor de Transferência de Tecnologia, um dos responsáveis pela organização do evento.
Os participantes do primeiro módulo já estão pré-inscritos nos demais e, por isso, as vagas estão esgotadas.
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