Em menos de um mês, Ceará já tem mais de 11 mil casos de doenças diarreicas agudas
30 de janeiro de 2019

Popularmente conhecida como “virose da mosca” tem diferentes possibilidades de transmissão. Higiene das mãos e dos alimentos estão entre os cuidados

Entre 30 de dezembro do ano passado e o último dia 12 de janeiro, foram registrados 11.106 casos de Doenças Diarreicas Agudas (DDA), popularmente chamada de “virose da mosca”, segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Se comparado ao mesmo período de 2018, houve redução de 7,7% das notificações. Em todo o ano de 2018, foram 307.311 casos de DDA, sendo o pico entre os meses de fevereiro e março (84.741). Em 2017, foram 314.840 casos, segundo a Sesa. 

Com a doença, a pessoa infectada apresenta aumento de evacuações, com fezes aquosas ou com pouca consistência. Entre os sintomas: náusea, vômito, febre, dor abdominal e muco ou sangue nas fezes. A doença, em geral, dura entre 2 e 14 dias. Após 24 horas, se o número de evacuações e vômitos não diminuir, é necessário procurar uma unidade de saúde.

Segundo a técnica do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Sesa, Caroline Muniz, o Estado não vive uma situação de surto. “A gente faz, todo ano, um diagrama de controle, onde é calculado uma média móvel e o limite superior. Se (o número de casos) ultrapassar esse limite superior, é que podemos considerar um surto”, explica.

Caroline lembra que o Ceará teve um período de surto em fevereiro do ano passado. “Este ano estamos dentro do limite esperado. Alguns municípios estão tendo um número de casos maior do que o esperado, mas isso é avaliado caso a caso. Às vezes, não é nem que aumentou o número de casos, mas as coordenações das vigilâncias estão mais ativas, e acaba tendo maior descoberta de casos”, informa a técnica.

O período de sazonalidade da doença, entre janeiro e abril, coincide com parte da quadra chuvosa do Estado – que vai de fevereiro até o fim de maio. Ou seja, é época em que há maior incidência de precipitações. Cenário que propicia um maior número de casos da doença em relação ao restante do ano.

Em 2018, houve mais de 4 milhões de casos de DDA no Brasil, conforme nota técnica da Sesa. A doença tem relação direta com as precárias condições de vida e saúde dos indivíduos, em consequência da falta de saneamento básico e desnutrição crônica, entre outros fatores. Motivos esses que poderiam estar ligados a uma maior presença de moscas e ao diagnóstico popular associado ao inseto.

“Não existe uma virose da mosca. O que nós sabemos é que as moscas são  um indicativo de falta de higiene, de material orgânico estragando, de sujeira. 

Onde tem muita mosca é porque tem sujeira. E não há dúvida que as moscas pousam em um local e pousam em outros, e podem trazer consigo bactérias, vírus etc. Por isso que esses quadros são mais gastrointestinais: diarreias, vômitos, febre etc.”, esclarece o médico infectologista Anastácio Queiroz.

Ainda conforme Queiroz, no período de chuvas há um maior risco de contaminação da água, e, consequentemente dos pés e das mãos, principalmente nas comunidades em condições mais precárias.

Uma vez que a Doença Diarreica Aguda é transmitida por vírus, bactérias e parasitas, não só a mosca pode ser um vetor, mas rato, barata, formiga e o ser humano também podem transmitir esses microorganismos. Por isso, a higienização correta das mãos e dos alimentos é fundamental para prevenir a DDA.

Para evitar a propagação da DDA, os especialistas citam, entre os cuidados, lavar as mãos com água e sabão, antes das refeições e ao manipular alimentos, aleitamento materno, além de ingerir água e alimentos de procedência segura, e ter cuidado com as condições sanitárias em geral.

DDA 

Transmissão

Transmissão direta: pessoa a pessoa (por exemplo, mãos contaminadas) e de animais para pessoas.

Transmissão indireta: ingestão de água e alimentos contaminados e contato com objetos contaminados (por exemplo, utensílios de cozinha, acessórios de  banheiros, equipamentos hospitalares).

Agentes etiológicos de origem infecciosa

Vírus: Rotavírus, adenovírus entérico, calicivírus, astrovírus e outros;

Parasitas: Giardia lamblia, Entamoeba histolística e Cryptosporidium;

Bactérias: Shigella, Salmonella, Escherichia coli e Vibrio cholerae.

Fonte: OPOVO